"I hope the fences we mended
Fall down beneath their own weight"

John Darnielle

padaoesilva@gmail.com

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

A crise veio a calhar

"A crise é uma oportunidade, ouvimos dizer constantemente. É verdade. Esta crise tem sido uma oportunidade para implementar uma agenda ideológica que de outro modo não seria possível concretizar. (...)
E oportunidade é mesmo a expressão adequada. No preciso momento em que a segurança social pública contraía mais responsabilidades, o ministro da tutela regressava à velha proposta de limitar o valor das pensões. Estamos face a um eufemismo para se dizer uma outra coisa – queremos diminuir a base contributiva, logo colocar em causa a sustentabilidade financeira do sistema. É uma ideia que pode bem ser classificada como sendo de criança: a menos que se explique como se financiam os custos de transição, não se vê como é que é possível evoluir de um sistema de repartição, em que os descontos de hoje pagam as pensões de hoje, para um que limita os descontos hoje para limitar o valor das pensões amanhã. Talvez aumentando a dívida pública. O mais provável é que tudo não passe de uma oportunidade histórica para se desmantelar o Estado Social.
A crise veio mesmo a calhar."
a versão integral do meu artigo do Expresso de 16 de Dezembro pode ser lida aqui.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Continuação de boas festas

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Listinhas musicais

2011 não foi assim um ano de encher as medidas. Andei a olhar para as listas que fui fazendo noutros anos e estão lá vários discos que ainda me acompanham. Não sei se poderei dizer o mesmo dos deste ano. Pode ser que a música venha a ser uma das poucas coisas de que vamos ter saudades em 2012. Ainda assim, há coisas de que gostei particularmente: canções óptimas em discos não brilhantes (estou a pensar no 'last night at the jetty' do Panda Bear, por exemplo), discos fantásticos de 2010 que só ouvi em 2011 (o Saint Bartlett do Damian Jurado - se ainda procuram um presente de Natal, é este) e remasterizações absolutamente necessárias (à cabeça os álbuns dos Smiths, em particular os primeiros três, que parecem discos novos, com o baixo mais ondulante puxado para a frente e com as guitarras do Marr que deixaram de soar como se estivessem no fundo de uma caixa de sapatos). Já quanto a concertos, a história é outra: 5 meses em Washington deram direito a dezenas de concertos: a energia dos Titus Andronicus; os Strokes que mal acabaram de tocar foram seguidos pelo anúncio da morte de Bin Laden; dose dupla de Mountain Goats; a despedida dos LCD em NY e muitas outras coisas. Acima de todos, um concerto extraordinário do Damian Jurado a abrir para o John Vanderslice e que me deixou marcas indeléveis.
Para o ano, do que se anuncia, não sei o que será, de facto, entusiasmante. Mas uma coisa posso desde já anunciar: para mim, haverá uma mudança tectónica no que toca à música. Quanto a isso, na primeira semana de Janeiro darei notícias

melhor video do ano: Fucked Up - Queen of Hearts

disco que o Axl Rose gostaria de ter feito e não foi capaz de fazer: Girls - Father, Son, Holy Ghost (ainda não tenho opinião definitiva sobre o disco - tem coisas muito boas e uns solos de guitarra cheesy que quase deitam tudo a perder)

canção com 'linha' mais sugestiva do ano: 'I caught you streaking in your Birkenstocks', Stephen Malkmus, Tigers

concerto mais chato do ano: Echo & the Bunnymen no 9:30

melhor disco de 2010 ao qual só dei a devida importância em 2011: Damian Jurado, Saint Bartlett

disco desilusão do ano (um álbum assim bastante para o soporífero): Fleet Foxes, Helplessness Blues

concerto mais inesperado do ano: Damian Jurado na primeira parte de John Vanderslice no Black Cat

concerto do ano: 3 horas e meia a dançar com os LCD Soundsystem no Terminal 5

concerto em solo nacional do ano: Bonnie Prince Billy no Maria Matos

acontecimento musical do ano: remasterização dos Smiths pelas mãos de Sir Johnny Marr

10 discos do ano (por ordem alfabética)

Bonnie “Prince” Billy - Wolfroy Goes to Town

James Blake - James Blake

Bill Callahan - Apocalypse

Bon Iver - Bon Iver

Mountain Goats - All Eternals Deck

Marissa Nadler - Marissa Nadler

St. Vincent - Strange Mercy

The Strange Boys - Live Music

John Vanderslice and the Magik*Magik Orchestra - White Wilderness

The Wave Pictures - Beer in the Breakers

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

The sun shines out of our behinds

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Um pouco mais de compaixão e de pedagogia

"Quando, numa conferência de imprensa, a ministra italiana do trabalho bloqueou na palavra ‘sacrifícios’ e irrompeu em lágrimas fiquei, a um tempo, perplexo com a fragilidade que não desejo nos políticos perante a adversidade e solidário com alguém incapaz de conter a expressão do seu humanismo. Do mesmo modo que, dias depois, ao ver a mensagem ao país do primeiro-ministro irlandês, após a apresentação do orçamento, não consegui conter a surpresa ao ouvi-lo, dirigindo-se aos irlandeses, dizer com uma clareza quase soletrada, “vocês não são responsáveis”, enquanto explicava a natureza da crise, o papel dos sacrifícios e sugeria um horizonte para o futuro – “recuperar a soberania económica”.
A compaixão que descobrimos no bloqueio emocional da ministra italiana ou a atitude pedagógica do primeiro-ministro irlandês são dois factores que podem fazer diferença perante uma crise da dimensão daquela que enfrentemos. E compaixão e pedagogia são duas coisas que têm faltado ao governo português. (...)"

o resto do meu artigo do Expresso da semana passada pode ser lido aqui.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Race to the bottom

Há uma competição feroz para tornar uma das músicas mais tristes e amargas do mundo ainda mais triste. A forma mais eficaz parece ser entregá-la à voz de mulheres muito bonitas. A Marissa Nadler e a Nina Persson levam avanço nesta(s) competição. Ainda assim, fiquei muito impressionado pela forma como o Lloyd Cole cantou esta música, já lá vão muitos anos, na Aula Magna. O youtube é o mais fiel guardião da memória e não nos permite reconstruí-la. Está aí para nos dificultar a vida.



terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Temos muita pena


os Grinderman acabaram

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Parabéns, Dr. Mário Soares


“A intuição é uma disciplina que não foi à escola”, disse um dia o escritor brasileiro Millôr Fernandes. A frase não pode deixar de ecoar enquanto se lê a autobiografia que Mário Soares lançou esta semana, “Um Político Assume-se”, que tive o privilégio de apresentar. Nas quinhentas páginas, que cobrem o longo século XX e que chegam até aos nossos dias, apesar de todas as alterações nas circunstâncias, há um aspecto muito constante: um protagonista que se moveu frequentemente por intuições.
Podemos todos já ter discordado de Mário Soares em vários momentos, mas todos lhe reconhecemos uma intuição política rara, uma espécie de ‘astúcia da razão’ que não se aprende. Este elemento intuitivo choca com a ideia hoje prevalecente de que a ação política mais eficaz é baseada na racionalidade informada – através da leitura de sondagens e de ‘focus groups’. Ora, se pensarmos bem, nas grandes opções – quando afrontou o Estado Novo e rompeu com a unidade da oposição; quando defendeu a opção europeia e a democracia liberal contra a deriva totalitária; e, mais recentemente, quando criticou a colonização ideológica da social-democracia – Mário Soares arriscou e teve as intuições certas.
Esta propensão ao risco serve, aliás, para contrariar uma ideia feita em relação a Soares. Ao contrário do que é muitas vezes sugerido, não foi um político que, ao longo da sua vida, interpretou o sentimento da maioria e o procurou representar. O que se passou foi quase sempre o oposto. Não estamos perante alguém que se limitou a gerir silêncios e expectativas, aguardando que as suas posições se tornassem maioritárias. Pelo contrário, o percurso de Soares revela uma interpretação da ação política ao arrepio da visão calculista. Os exemplos em que provocou rupturas e contrariou o ambiente político da época são muitos. Foi essa atitude que lhe permitiu transformar ideias incertas e minoritárias em posições maioritárias e até hegemónicas.
Não por acaso, as suas tomadas de posição causaram muitas vezes incompreensão, mesmo no seu espaço político. Com o passar do tempo, acabaram por se revelar certeiras. Steve Jobs, que tinha uma conhecida desconfiança dos estudos de mercado, disse que “as pessoas não sabem o que querem até tu lhes mostrares”. A asserção, aplicada à política, não poderia ser mais verdadeira. Até porque é essa a função dos líderes: procurar mudar as sondagens, em lugar de as cavalgar, através de uma visão do que as pessoas querem, mesmo antes de estas estarem conscientes das suas ambições políticas.
Há, hoje, uma manifesta impaciência face aos políticos. Julgo que tal não resulta, no essencial, de uma ausência de consciência colectiva dos desafios que enfrentamos. Resulta, em importante medida, da ausência de líderes que sigam as intuições, que arrisquem e se assumam, para além das circunstâncias. Podemos ter discordado de Mário Soares e do seu percurso, mas não podemos negar a notável atualidade da forma como vê a atividade política.

artigo publicado no Expresso do passado Sábado.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Coisas que me tornam demasiadamente parecido com a ministra italiana

Cory and Alana from Blake Kueny on Vimeo.

Para que serve uma greve?

"(...) Uma greve geral tem um impacto económico directo escasso e a sua função principal é procurar alterar as relações de poder, influenciando o que em Portugal é, de facto, o actor principal – o Governo. Bem sei que a amostra é reduzida, pois entre nós só ocorreram duas greves gerais da CGTP com a UGT (1988 e 2010), mas, em ambos os casos, as greves produziram efeitos: abriram as portas à negociação, obrigaram a cedências, culminando em acordos de concertação.
A grande questão agora é saber de que modo o Governo interpreta a greve. Se opta por prosseguir o caminho de rupturas sociais e económicas, sem alargar a base de apoio político e social, ou se, pelo contrário, procura negociar e concertar interesses. A opção seguida terá, certamente, efeitos económicos e sociais, mas nela jogar-se-á uma questão política decisiva e que poderá mudar o mapa das relações de poder em Portugal.
O radicalismo que move o Governo não augura nada de bom. Mas uma coisa é clara, se o executivo optar por continuar a avançar sozinho provocará, para além do empobrecimento, uma alteração estrutural no sistema de representação de interesses em Portugal. Com consequências imediatas: coloca a UGT nos braços da CGTP e empurra o PS para a rua. No curto prazo, a táctica pode fazer sentido para o Governo, mas revelar-se-á dramática para o país. À ruptura económica e social juntar-se-á a ruptura política."
a versão integral do meu artigo do Expresso da semana passada pode ser lida aqui.