"I hope the fences we mended
Fall down beneath their own weight"

John Darnielle

padaoesilva@gmail.com

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Just be simple



Não há bolsas da FCT suficientes para o número de teses que se podia fazer sobre esta música.


terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Derrotar o cinismo



O Pete Seeger morreu. Tinha 94 anos e uma vida inteira de activismo (radical). É, para mim, mais um muito cá de casa que se vai. Ouvi-o - e ouvi falar dele - desde que nasci e mais tarde redescobri-o via Bruce. Há 5 anos, num dia gelado, num dos momentos mais emocionantes da minha vida (vá, das nossas vidas), cantou uma versão integral (sem censuras) do This Land is Your Land para Obama. Imagino que a vida dele tenha ficado, na medida do possível, cumprida naquele momento. Devemos-lhe um dos combates mais difíceis: a luta diária contra o cinismo.

O extraordinário da vida do Pete Seeger é que morreu aos 94 anos e, tudo somado, ganhou. É um daqueles (poucos) casos em que no fim ganham os bons.


quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Num mundo perfeito





We're gonna live in Nashville and I'll make a career
Out of writing sad songs and getting paid by the tear

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Um momento


Deixem-me, a propósito do Benfica-Porto, recuperar a explicação do escritor britânico Martim Amis para o fascínio exercido pelo futebol: “é o único desporto que, normalmente, se decide por um golo, por isso a pressão do momento é mais intensa do que em qualquer outra modalidade”. Os jogos discutem-se numa lenta monotonia, organizada e por vezes de pendor burocrático – médios que pautam o ritmo do jogo, outros, com cultura táctica, que conferem disciplina nos “processos defensivos” – mas não fora os momentos de desorganização, em que o sentido que os treinadores deram à equipa se perde, os estádios estariam vazios.
Lazar Markovic. Ninguém que sinta a paixão pelo futebol precisou de ver mais do que dois minutos do sérvio com uma bola nos pés para logo ter a certeza que estávamos perante a matéria de que se fazem os sonhos dos adeptos. A bola como prolongamento de um corpo ziguezagueante e uma aproximação romântica a cada jogada. Com o jovem sérvio não há nunca terceira via – a opção é irremediavelmente entre uma perda de bola incompreensível, seguida de um baixar de braços, como se estivesse a gerir uma derrota individual, ou uma arrancada de génio, daquelas que ninguém sentado na bancada foi capaz de antecipar.
Um instante pode ser mesmo a eternidade e dura no tempo quem tudo apostou no momento. Quando, aos 13 minutos de jogo, vi Markovic, com elegância principesca, a cavalgar pelo centro do terreno, com os jogadores adversários a desabarem à sua passagem, tive a certeza que o Benfica estava a construir a sua vitória, mas mais certo fiquei de que, passados uns anos, não guardarei memória do resto do jogo, mas aquele momento, feito de rasgo de talento, perdurará para sempre nas minhas recordações.

Nota: O Benfica dos últimos anos foi irrepreensível com Eusébio. Em vida e na última semana, o Rei teve todas as homenagens devidas e muitas mais terá para honrar a sua memória. Mas os gostos discutem-se e a estátua de Eusébio não merecia ter sido presa dentro de uma marquise. 

publicado no Record de hoje.

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Eu não o vi jogar



Com uma lucidez exata, o poeta Ruy Belo disse um dia que “Fernando Pessoa nunca seria conhecido por tanta gente como Eusébio”, para logo acrescentar que “achava bem”. Numa curta resposta numa entrevista, Ruy Belo, que é juntamente com Pessoa o nome maior da poesia portuguesa do século XX, mas era, em igual medida, um benfiquista apaixonado, esclarecia o ponto: “a poesia é por natureza difícil. Como o futebol. (mas no futebol encontramos) o êxito.”
Faz sentido colocar lado a lado duas artes maiores: a poesia e o futebol. Nas duas, entrevemos a mesma capacidade de tornar simples o complexo. Há numa partida de futebol demasiadas variáveis e obstáculos que aparentam ser intransponíveis, e o segredo está em saber simplificar o jogo. Um grande jogador é isso que faz: encontra escapes fáceis, que nenhum outro foi capaz de vislumbrar. O propósito da poesia não é diferente, através de palavras concretas, atentas ao pormenor, revelar-nos resquícios da verdade. Em poucos sítios como no futebol e na poesia podemos avistar uma glória absoluta.
Eu nunca vi Eusébio jogar, mas é como se o tivesse visto. Sei bem o que uma jogada deslumbrante, uma cavalgada monumental, com uma força que parecia estranha a todos os outros, ou um remate explosivo, podem fazer pela revelação da verdade. Sei, por isso, que um grande jogador em nada se distingue de um grande poeta. Sei que há tanta verdade nos dribles serpenteantes do Maradona como nas palavras enigmáticas de Borges; na perfeição clássica de Pelé como na afinação suprema da voz de João Gilberto; na altivez superior de Beckenbauer como no romantismo da poesia de Goethe. A diferença está, como bem notou Ruy Belo, que um poeta terá menos possibilidade de alcançar o êxito, revelar essa verdade a um maior número de pessoas.
Eusébio aproximou-nos a todos nós, portugueses, por escassos instantes, com os seus golos, um pouco mais do absoluto. É essa a matéria de que são feitos os génios. Como é sabido, não se repetem, mas é também o que lhes oferece a eternidade.

publicado no Record de hoje

domingo, 5 de janeiro de 2014

eu nunca vi Eusébio jogar, mas é como se o tivesse visto


“Fernando Pessoa nunca será conhecido por tanta gente como Eusébio. E acho bem. O êxito”.
Ruy Belo