"I hope the fences we mended
Fall down beneath their own weight"

John Darnielle

padaoesilva@gmail.com

sexta-feira, 27 de maio de 2016

Uma razia


Com o brilharete na Champions, a conquista do campeonato, a imagem positiva de que goza hoje a formação do Benfica e com os clubes ingleses inundados de dinheiro, o mais provável é que se assista a uma razia no plantel encarnado. Se o mercado for racional, da equipa que terminou a época a titular, devem sair seis jogadores. Renato e Gaitán são dossiers encerrados e só se meia Europa andar distraída é que Ederson e Lindelof não irão pelo mesmo caminho. Já Jonas e Jardel, por oferecerem uma combinação muito importante de maturidade com qualidade, deviam ser jogadores a preservar.

Perante este cenário, não faltarão lamúrias e muitos se apressarão a pintar de tons trágicos a próxima temporada. Não vai ser fácil reconstruir, uma vez mais, uma equipa ganhadora, mas também não vejo razões para tremendismos. Há, no entanto, erros que não podem ser cometidos.

Um deles é cair na ilusão romântica de que, no futebol atual, é possível a um clube português competir com ofertas de clubes ingleses, espanhóis e, claro está, chineses. Não só não é, como seria um erro se o Benfica tentasse responder a propostas salariais irrecusáveis para os atletas e que se traduzem em grandes mais valias para o clube.

Um pouco de memória é suficiente para percebermos o equívoco que teria sido acompanhar salários exorbitantes oferecidos a jogadores que pareciam insubstituíveis (Maxi), além de que um clube português não tem condições financeiras para recusar ofertas de 30 milhões de euros, qualquer que seja o jogador (Enzo). Quem diz o contrário, está rendido à demagogia e deixa-se iludir. O que, é sabido, é meio caminho para acumular derrotas.

publicado no Record de terça-feira

quarta-feira, 18 de maio de 2016

Completamente Diferente



Sabemos bem onde estávamos no verão passado, quando o planeamento da temporada parecia um equívoco e a equipa teimava em não ter uma ideia de jogo. Mas, também não me esqueço de que, logo no primeiro jogo em casa, Rui Vitória lembrava que sabia o que era ser adepto, pois vinha ao Estádio da Luz desde os 5 anos.

Bem sei que o tempo não está de feição para visões românticas do futebol, até porque se o Benfica ganha hoje (também nas modalidades) é por ter uma estrutura profissional, que substituiu o amadorismo que imperou durante anos. Mas, apesar disso, talvez seja bom recordar a diferença que faz vencer um campeonato com um grande treinador – benfiquista como nós e que não se coloca no centro do mundo –, quando comparado com vencer campeonatos com um grande treinador, que só perde com a bazófia que não consegue refrear.

Tenho memória de muitos campeonatos conquistados, mas este teve um sabor especial: porque a temporada se iniciou sob o espectro do desinvestimento; por termos ressuscitado depois de dados como mortos e enterrados; pela forma como os adeptos estiveram com a equipa e só se libertaram verdadeiramente nos festejos incontidos de domingo; acima de tudo, pelo modo como Rui Vitória soube inventar jogadores quando tudo parecia perdido, manter o grupo unido e motivado face a uma ofensiva que raiou o delirante e porque é completamente diferente ter um treinador que é um homem decente. Um critério que o deixa isolado, com todo o mérito, em primeiro. A grande distância, por exemplo, de um vendedor de pipocas.

publicado no Record de terça-feira

sexta-feira, 13 de maio de 2016

Categórico

"Se o Benfica ganhar o próximo jogo, começo a acreditar". O tweet de João Vale, no final da partida contra o Marítimo, resume com precisão o estado de espírito dos benfiquistas e é, também, a chave do sucesso. A memória do futebol desconchavado do início da época e a sucessão de maus resultados que assolaram a equipa durante muito tempo afastaram qualquer sonho de vitória. Mas, semana a semana, o Benfica foi ultrapassando todas as adversidades e deixou para trás adversário após adversário. Hoje, a conquista do tri é uma possibilidade real, à distância de uma vitória.

É a memória viva dos insucessos de início da temporada e a bazófia com que os nossos adversários nos têm brindado ao longo do campeonato que mantêm o Benfica focado apenas no seu percurso e com uma humildade que ajuda a enfrentar as dificuldades. E não têm sido poucas.

O Benfica superou todos os testes: estabilizou as opções técnicas quando a pressão para mudar era muita; teve a frieza de não responder à incontinência verbal e facebookiana dos adversários; perante ondas sucessivas de lesões, encontrou nos ‘Manéis’ da equipa B soluções à altura; recuperou de desvantagens em vários jogos; reequilibrou-se fisicamente após o desgaste da Champions; e, domingo, contra o Marítimo, realizou das melhores exibições dos últimos tempos, respondendo à pressão psicológica que envolvia a partida e, acima de tudo, mostrando confiança e um espírito de grupo notável, que permitiram (con)vencer, mesmo jogando com 10.

Custa a acreditar: contra as expectativas, o Benfica está, de forma categórica, a três pontos de ser campeão.

publicado no Record de terça-feira


quinta-feira, 5 de maio de 2016

Confiança

Na semana passada escrevi que ao Benfica, para vencer o campeonato, restava vencer as três partidas em falta. A afirmação provou ser verdadeira e, hoje, sobram duas finais por disputar. Não vale a pena contar com ajudas de terceiros. O Sporting não vai perder pontos e, caso não vença Marítimo e Nacional, fica claro que o Benfica não merecia ser campeão. Afinal, em competições longas, não há vencedores morais, pelo que quem terminar em primeiro lugar será o justo campeão nacional.E quais são, neste momento, os problemas do Benfica?

Tem sido sugerido que a equipa enfrenta algum cansaço físico, fruto de uma temporada longa e disputada em muitas frentes. Determinados jogadores caíram muito nos últimos jogos, já não revelam o vigor físico de há um mês e, ao contrário do Sporting, não entrou uma mão cheia de jogadores no mercado de inverno para a equipa titular.

Discordo. O problema do Benfica é de outra natureza. Com o aproximar do fim da época, a possibilidade de vitória tornou-se uma espécie de abismo psicológico. Nos últimos jogos a equipa sofreu não por dificuldade física, mas por ainda não se ter convencido que vai ser campeã. Faz sentido. O Benfica planeou mal a temporada, deu um avanço inacreditável aos adversários, renasceu e talvez hesite em acreditar que, agora, depende apenas de si próprio para levantar a taça. Convenhamos que este muro psicológico é bem mais fácil de derrubar do que seria um eventual cansaço físico. Aliás, é para isso que servem os adeptos: para dar um suplemento de confiança e empurrar a equipa para a vitória. Na Madeira no domingo e no fim-de-semana seguinte na Luz.

publicado no Record de terça-feira