"I hope the fences we mended
Fall down beneath their own weight"

John Darnielle

padaoesilva@gmail.com

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

O André Horta



            O João Gonçalves, um dos maiores benfiquistas que conheço (e sei de uns quantos), tem contado no seu blog, Red Pass, uma ida a Oliveira de Azeméis para ir ver o Hóquei. Uma viagem como dezenas de outras. Não fora entre os camaradas de viagem de carro ir um jovem jogador do Vitória, que alimentava sonhos desmesurados de benfiquismo. A viagem foi no ano passado e, então, poucos acreditariam que, meses depois, o André Horta estivesse de águia ao peito, a titular na posição que era do Renato.
            O André Horta é o paradigma do jogador adepto, mas, dentro dessa categoria, está um nível acima. É o jogador adepto de pavilhão: o lugar onde se encontram aqueles para quem o clube não se cinge ao futebol.
            Há quem sonhe com uma equipa do Benfica que é uma seleção de adeptos. Pelo contrário, quero um Benfica formado pelos melhores, independentemente da preferência clubística ou nacionalidade. Como adepto, imagino que seja também esse o desejo do André Horta. Vencer: em todos os campos e em todos os pavilhões, com os melhores a vestirem a camisola do Glorioso.

            Mas quero também que o clube forme jogadores que possam sonhar com um lugar na primeira equipa. Um Benfica em que um miúdo como o Horta, que vi numa foto como apanha bolas, há perto de uma década, saiba que um dia pode mesmo jogar na Luz. É essa a grande diferença do Benfica de hoje. Um clube que se habituou a ganhar (9 títulos nos últimos 12 disputados) e que, ao contrário do passado recente, deu ao Renato, ao Guedes e ao Horta as oportunidades que o Bernardo Silva não teve.

publicado no Record de 9 de agosto

Como Planeado


            Sem viagens à volta do mundo, sem incertezas nem lacunas gritantes no plantel, o planeamento da nova época do Benfica parece exemplar e, acima de tudo, contrasta com os anos anteriores. Para o adepto, até causa estranheza. Não estávamos habituados a uma pré-temporada assim.
            Acima de tudo, a estratégia seguida pelo Benfica é coerente e não parece alterar-se ao sabor do vento.
            Mantém-se a opção de apostar em jovens talentos (independentemente da nacionalidade), em lugar de contratar jogadores consagrados, mais caros e com menor margem de progressão. Faz sentido: por um lado, estabiliza-se a ideia que o Benfica é um clube que faz crescer os jogadores e dá oportunidades para a sua afirmação; por outro, consolida-se um modelo de negócio que assegura a sustentabilidade financeira.
            Não menos importante, estamos no início de Agosto e o plantel tem, pelo menos, duas soluções de qualidade para cada posição e oferece a Rui Vitória possibilidades de alguma versatilidade tática, inexistente no passado. Mesmo que ocorram algumas saídas, o Benfica não precisará de ir a correr ao mercado. Mais importante, mantém-se a coluna dorsal, que joga pelo centro do terreno e compensa com experiência a inevitável imaturidade das jovens contratações.

            Bem sei que o acaso desempenha um papel importante no futebol, mas, no fim, talento, organização e trabalho acabam por compensar: se tudo correr como planeado, o Benfica tem todas as condições para alcançar um inédito tetra campeonato.

publicado no Record de 2 de Agosto