"I hope the fences we mended
Fall down beneath their own weight"

John Darnielle

padaoesilva@gmail.com

terça-feira, 29 de novembro de 2011

ir para além da Merkel

"(...) É assustador descobrir que Passos Coelho está convencido de que é possível solucionar o problema português com ajustamentos austeros não acompanhados por uma intervenção radicalmente diferente do BCE e uma política orçamental expansionista nos países com excedentes na balança de transacções correntes. Prosseguir neste caminho é insistir no pré-anúncio do fim do euro.
Este padrão, aliás, é apenas uma versão extrema do que tem sido a opção política de todas as economias intervencionadas. Primeiro, procura-se a diferenciação face ao vizinho do lado – que, é-nos dito, está numa posição mais complexa (o “nós não somos a Grécia”) –, para, depois, se afirmar que sozinhos somos capazes de enfrentar os problemas. Na verdade, esta estratégia tem sido seguida em toda a periferia, levando ao isolamento dos casos, secundarizando a dimensão partilhada dos problemas e promovendo uma neutralização da posição negocial dos países ‘fracos’. O que sugere que o problema político talvez seja também de incapacidade do sul e não apenas de falta de vontade alemã.
Como propunha esta semana, num artigo no Irish Times, Daragh McDowell, em lugar de aceitarem as soluções que lhes estão a ser impostas, o que os PIIGS deveriam fazer era optar por uma posição negocial conjunta, ameaçando, em último caso, com a utilização da ‘bomba atómica’ ao seu dispor: um default coordenado de todas as economias da periferia. Talvez assim, o eixo Merkozy percebesse o risco sistémico e a impossibilidade política de impor sacrifícios até que os PIIGS passem a competir, pelos baixos salários, com a China e a Índia."
a versão integral do meu artigo do Expresso de 17 de Novembro pode ser lida aqui.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Sob a influência de Dylan



Só para dizer que o disco novo dos Strange Boys é mesmo bom.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Aimar com sabor a Aimar


Quando há três anos e meio o Rui Costa foi a Saragoça oferecer a sua camisola 10 ao Pablo Aimar sabia o que estava a fazer. Jogar a 10 não é só jogar a 10 e a mística não se conquista apenas nos escalões jovens dos clube. Há mais mística em meia perna do Aimar ou num corte limpo do Ricardo ou num passe adocicado do Valdo do que em carradas de portugueses esforçados. Ontem, no fim daquele empate amargo, vi a imagem que marcou o meu jogo. Partida terminada, rápido flash das câmaras pelo relvado e o Aimar, já de fato treino, barba desleixada a dar uma lição de masculinidade aos CR da vida, sorri de língua de fora. Naquele sorriso encontrei todos os miúdos que subiram fim-de-semana após fim-de-semana o 3º anel para verem o Glorioso. O Aimar naquele momento éramos todos nós. Mas, depois, na flash interview, o nosso 10 explicaria tudo. “empate com sabor a vitória”, questiona o jornalista, mobilizando todos os vícios da profissão, para logo Aimar responder com calma irónica, “não, empate com sabor a empate”.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

I swam out to greet you



Os The Wave Pictures são dos mais conseguidos repositórios da música alternativa britânica das últimas duas décadas. Tresandam as guitarras do Johnny Marr, o ambiente DIY dos Hefner, a voz que faz lembrar os extraordinários The Band of Holy Joy e músicas que encontram inspiração nos primeiros anos londrinos dos Go-Betweens. É difícil não se gostar de uma banda que toca as coisas que ouvimos. Mas torna-se muito mais fácil quando, por cima do bom gosto, estão as canções facilmente trauteáveis e que não nos largam. O último, 'beer in the breakers', vai estar no topo da lista dos melhores de 2011.


coisas mais antigas

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Um tecnocrata em cada esquina

"(...) Pensar que vai ser possível resolver os problemas europeus penalizando moral e materialmente os cidadãos, libertando os executivos do controlo democrático e afastando os cidadãos do processo de decisão é uma ilusão, além do mais, muito perigosa. Um tecnocrata em cada governo é, no fundo, uma visão suavizada da pulsão autoritária que está sempre à espreita, ao virar da esquina."
o resto do meu artigo do Expresso da semana passada pode ser lido aqui.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

O inferno é o euro

"“Vós que aqui entrais, abandonai toda a esperança”. A frase com que Dante nos recebe no Inferno é uma metáfora exacta para a zona euro. Um projecto político moribundo, que amarrou os países da periferia a uma escalada de austeridade, enquanto se mostra relutante em reconhecer a natureza sistémica da crise e avançar para uma solução que reveja as fundações institucionais em que assenta. Uma vez mais, após uma cimeira que resolveria todos os problemas, bastou esperar um par de dias para o mundo voltar a mudar. Primeiro com o efeito de contágio a chegar a Itália, com réplicas a atingir França e, depois, com o precipitar da crise política grega.
Se é verdade que o anúncio do referendo grego veio baralhar as contas ou, nas palavras da senhora Merkel, “alterou profundamente a situação psicológica”, no essencial serviu para mostrar que a crise da dívida soberana é uma verdadeira arma de destruição maciça. Está a destruir, como se fossem peças de um jogo de dominó, as economias europeias e está a destruir, um a um, governos nacionais, sem escolher cor política. (...)"
o resto do meu artigo do Expresso de 5 de Novembro pode ser lido aqui.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

A rapariga é uma santa



Três álbuns depois, continuo a depositar grandes esperanças na St. Vincent. Na verdade, nenhum dos três álbuns é particularmente conseguido (confesso que tenho, por exemplo, dificuldade em ouvi-los inteiros), mas o potencial é indesmentível. A combinação de ar e pose angelical com a rudeza desafiadora das guitarras anuncia invariavelmente um futuro em grande. Depois, há a perversidade hendrixiana com que pega na guitarra e as coisas que vai sussurrando nas letras das canções: um universo entre o marquês de sade e o walt disney. Sim, ainda faltam as canções (e as melhores são ainda as que estão no disco de estreia), mas adiante. Reparem bem no que a rapariga faz aos Pop Group, neste cover apresentado no programa do Fallon - um violento exercício de gang-bang a uma banda (pós)punk. O caminho que há 30 anos os britânicos escancaram para os Clash fazerem o Sandinista leva-nos agora para um outro lado, suficientemente diferente. Quem faz isto, dá-nos boas razões para depositarmos muita esperança no futuro. Desde que o Nick Cave deu cabo do Avalanche do L.Cohen ou desde que os Cowboy Junkies adocicaram o Sweet Jane que eu não via um cover assim.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

será que eles sabem o que faço ao fim-de-semana?

hoje recebi um sms simpático da tmn a informar-me que haviam melhorado a rede em alagoachos. fico contente, alagoachos fica mesmo ao lado do lugar onde passo muitos fim-de-semana e grande parte das férias. nunca havia dado por falta de rede por aqueles lados (o que, já agora, não acontece na faculdade onde dou aulas). pouco importa. mas, como imagino que nem todos os assinantes da tmn receberam este sms, fiquei preocupado. qual a razão para me enviarem a mim este sms? só vejo uma: a tmn sabe o que faço e segue os meus passos. sinceramente, preferia bem ter pouca rede do que ter, através do meu telemóvel, um dispositivo de espionagem.

Viver abaixo das possibilidades

"(...) A lógica perversa de compressão salarial na função pública vai produzir efeitos nefastos. Para além da desmotivação, os incentivos para a saída dos mais qualificados são tantos que a capacidade da administração para defender o interesse público ficará ainda mais fragilizada e a degradação progressiva dos serviços será inevitável. Não por acaso, esta semana já pairou a ameaça de uma debandada geral de médicos que estão em exclusividade no SNS.
Esta reforma do Estado irracional e feita ad hoc esconde objectivos políticos. Por um lado, é-nos dito que a via para a competitividade do país passa pelo empobrecimento generalizado na função pública; por outro, é recuperado, com trinta anos de atraso e particular intensidade, um conjunto de ideias muito populares nos meios académicos sobre as ‘falhas de Estado’ e a forma como os funcionários de topo, em última análise, se apropriam dos recursos públicos, promovendo uma lógica despesista extravagante. Só isso pode explicar a ambição de desmantelar os serviços públicos que está na base da acção deste Governo. Que Portugal tenha sido escolhido para laboratório de um radicalismo académico anquilosado é, se nada mais, assustador."

o resto do meu artigo do Expresso da semana passada está aqui.