"I hope the fences we mended
Fall down beneath their own weight"

John Darnielle

padaoesilva@gmail.com

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Bom ano



In the Vanity Fair Italy feature, Stefano Gabbana discusses the campaign and why Madonna was the perfect match: "She loved the collection," he says, "...she is passionate and impressively knowledgeable about Italian cinema," (Monica is Vitti her favourite actress and we see the resemblance)."
When asked as to whether Madonna knows how to wash dishes, Stefano Gabbana replies "Certainly...she's a very practical woman..." And does she actually eat spaghetti despite her most enviable figure? "Of course, says Stefano, and she can allow herself too with all the exercise she does!"
o resto das fotos estás aqui.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Felizmente não sou economista

(...) os governos têm de cortar na despesa porque é isso que esperam os mercados. Ou seja, os mesmos mercados que desestabilizaram o sistema financeiro a um ponto tal que este teve de ser salvo pelos contribuintes, exigem agora um esforço de consolidação como preço a pagar pelo seu apoio a governos cujas dificuldades ajudaram a causar.
Mas eu, que felizmente não sou economista, perante a crise e as suas sequelas, só me ocorre que existe um conjunto de questões políticas sobre o papel do BCE que tem de ser respondido. As declarações de Trichet só as tornam mais claras. (...)
do meu artigo de hoje no Diário Económico.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Natal é quando um homem quer

sábado, 26 de dezembro de 2009

Inconformados e birrentos

Os nossos políticos andam inconformados e birrentos. Nenhum dos líderes partidários se conforma com o resultado das eleições: Sócrates não perdoa aos portugueses não ter tido maioria absoluta e age como se ainda a tivesse ou, pior, alimenta a ilusão de que pode recuperá-la; Ferreira Leite não percebe como teve tantos votos como o omnipresente Santana e, em lugar de se afastar e permitir que o PSD respire de novo, insiste na estratégia de insídia que a levou à derrota; Louçã não aceita que a esquerda iluminada não faça a diferença para a maioria absoluta; Jerónimo não compreende como é que a crise não provoca um levantamento nacional que ponha de vez fim à democracia burguesa; Portas não entende como é que a sua clarividência retórica não basta para o alcandorar a líder incontestável da direita. Vai daí, fazem todos uma enorme birra: uns fingem que não perderam as eleições e outros não aceitam governar com o resultado eleitoral. A consequência está à vista - querelas institucionais com base em atrasos a chegar a reuniões, provocações, acusações de falta de carácter e coligações negativas. Para sairmos deste pântano, é-nos sugerido, poderíamos perguntar, de novo, ao soberano o que pensa sobre o assunto. Como nos aproximamos do fim do ano, permita- -se que faça uma profecia:
o resultado eleitoral seria o mesmo de há um par de meses. Logo, é bom que cada partido desempenhe o papel que lhe foi destinado pelos portugueses em Setembro.

publicado no i.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Uma década em 10 discos

Escolher os discos do ano é uma daquelas provas difíceis de superar. Não são precisos muitos dias para que a lista perca sentido e logo nos pareça profundamente injusta. Aqui em baixo escolhi os 10 discos de que mais gostei este ano e dois dias depois reparo na injustiça que fiz aos Girls. Tudo isto porque agora me deu para escolher os 10 discos da década. Não são necessariamente os discos dos últimos dez anos que ouço mais hoje, mas são certamente os 10 discos que foram para mim mais importantes na última década. Isto implica, por exemplo, excluir muitos discos que ouvi muito nesta década e que são anteriores. Agora, quando olho para esta lista, mais importante do que a música é recordar-me que todos estes discos ganharam um sentido particular, ouvidos em circunstâncias irrepetíveis. Há bastantes coisas da última década que preferiria não recordar, mas pela música regresso a elas com uma outra tranquilidade. Do mesmo modo que consigo associar a algumas das coisas fantásticas que me aconteceram na última década muitos destes discos. Na verdade, muito provavelmente, ouço música de mais. Aqui fica então a lista (a ordem é alfabética) e para outra altura ficará qualquer coisa sobre estes discos, algumas das músicas e sobre uma década que começou electrónica para acabar entre guitarras e alt-country, mas essencialmente com a música toda disponível - para pirataria ou não - na rede.

Arcade Fire – Funeral



Arctic Monkeys -Whatever People Say I Am That's What I'm Not



The Clientele – Strange Geometry



Paolo Conte – Reveries



Flaming Lips -Yoshimi Battles the Pink Robots



Herbert – Bodily Functions



Lambchop - Is a Woman



The Mountain Goats – Tallahassee



The National – Alligator



The Strokes – Is this it

Um conto de fadas de natal



vale bem a pena tirar uma hora para ver o documentário aqui.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

10 discos de 2009

As listas dos melhores do ano, na verdade, só interessam a quem tem alguma inclinação para fazer listas dos melhores dos anos. Esta naturalmente não interessará a muita gente, mas, dos discos que ouvi este ano, os melhores foram estes.

1. Bill Callahan - Sometimes I Wish We Were an Eagle
2. Grizzly Bear - Veckatimest
3. The xx - The xx
4. The Mountain Goats - The Life of the World to Come
5. Animal Collective - Merriweather Post Pavilion
6. The Clientele -Bonfires on the Heath
7. God Help the Girl - God Help the Girl
8. Dirty Projectors - Bitte Orca
9. Sleeping States - In the Garden of the North
10. The Pains of Being Pure at Heart - The Pains of Being Pure at Heart

domingo, 20 de dezembro de 2009

"Saviola vem passar férias"


declarações de Bruno Carvalho, o sujeito preclaro que se candidatou à presidência do Benfica, aquando da contratação de Saviola.

Menos pobres

Não passa muito tempo sem que sejamos confrontados com os níveis intoleráveis de pobreza em Portugal. É bom que tenhamos presente a dimensão do problema: ajuda a manter o combate às desigualdades como prioridade política. Mas, enquanto isso acontece, convém valorizar colectivamente o muito que vai sendo feito para enfrentar o fenómeno. Esta semana, no meio do pessimismo que varre o país, o Padre Jardim Moreira, da Rede Europeia Anti-Pobreza, revelava o seu espanto com o sucesso da estratégia nacional para os sem-abrigo, que está a ultrapassar as melhores expectativas. Metade dos objectivos traçados para seis anos foram alcançados em nove meses e só no Porto mais de mil pessoas deixaram de dormir nas ruas. Já a Associação Nacional de Direito ao Crédito celebrou dez anos, durante os quais apoiou, através do microcrédito, o empreendorismo emancipador de mais de mil pobres. No final da semana, o Presidente da Cais sublinhava que sem transferências sociais (entre elas o rendimento mínimo), a nossa taxa de pobreza seria de 41%.

São motivos para satisfação, mas serve também para revelar como o nosso sucesso relativo na resposta à pobreza mais severa não tem sido acompanhado no combate ao conjunto das desigualdades. Se temos hoje instrumentos para combater as formas extremas de pobreza, continuamos estrangulados por níveis salariais que fazem dos trabalhadores uma parte importante dos pobres. É isso que está em causa com aumentos do salário mínimo acima dos salários médios.

publicado no i.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

E a banda continuou a tocar

Não se sabe com exactidão que música tocava a banda quando o Titanic chocou com o iceberg. Mas uma coisa é certa: a banda continuou a tocar. Portugal chocou com o seu iceberg particular. Empurrados pela conjuntura externa dramática, as nossas debilidades estruturais não só vieram ao de cima como se agravaram. Desemprego, défice e endividamento são os aspectos mais visíveis do rombo. Perante isto, os partidos continuam a tocar música como se nada se estivesse a passar. Não bastava a coligação parlamentar de cortes na receita combinados com aumento na despesa, esta semana os deputados do PS reuniram-se para falar de regionalização. Na política, a oportunidade, não sendo tudo, é quase. E dificilmente haverá tema mais desajustado. Quando o foco deveria estar por inteiro na política económica de resposta à crise (do mercado de trabalho e orçamental), o Partido Socialista escolhe reflectir sobre quantas regiões deviam existir e as competências a transferir. O tema é uma espécie de fetiche da classe política, desajustado da realidade. Mas, também, não há novidade. Sempre que os partidos precisam de encontrar uma manobra de diversão têm na regionalização um tema adequado. Os outros partidos não se inibem de reagir e a comunicação social amplia devidamente o tema. Há uma década que é assim, mas é apenas mais um sintoma de empobrecimento do debate político. O problema é que agora temos mesmo de resolver o problema do iceberg.
publicado hoje no i.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Encontrar uma razão



O Andrew Kidman está bem posicionado na minha galeria de super-heróis. Enquanto escrevo um artigo sobre Ether, um livro monumental, regresso a um excerto do Glass Love, acompanhado por um belo cover da Cat Power para um original dos Velvet, I Found a Reason.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Duvido, logo corrupto

A crer na fúria legisladora do Parlamento, dentro de dois anos, a corrupção estará erradicada da face do país e, não tardará, as avançadas democracias escandinavas estarão a emular as boas práticas domésticas.
Nada que surpreenda. Perante um problema político sério - e a corrupção é-o - tendemos a optar pela solução preguiçosa: tipificam-se mais crimes, criam-se uns quantos observatórios e daqui a não muito tempo levantar-se-á um clamor colectivo protestando contra a ineficácia das leis entretanto aprovadas. Depois, já se sabe, a história repetir-se-á, com nova fúria legisladora.
do meu artigo e hoje no Diário Económico.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

we're our own devil


A Hope Sandoval já não anda a pedir-nos para sermos o anjo dela. Juntou-se aos Massive Attack (que estão de volta e desta feita a coisa parece prometer) e fizeram isto. Muito cuidado com o link: o video dispara logo e não é aconselhável o visionamento no local de trabalho (ou como se diz em inglês, nsfw).

You're standing there so nice in your blizzard of ice

You're written in her book, you're number 37 have a look



Devemos muitas coisas à Nico - a mais conhecida das quais é a tensão entre Reed e Cale -, mas provavelmente nada se compara ao efeito que A "femme fatale" terá provocado em Leonard Cohen, como aqui se pode testemunhar. Este fim-de-semana vi o dvd do mítico concerto de Cohen na ilha de wight, em 1970. Comprem e ofereçam pelo Natal.

domingo, 13 de dezembro de 2009

O óbvio

O estado a que chegámos é tal que já nos surpreendemos quando alguém diz o óbvio:
"Freedom of speech should not include distortion of the truth, lies, fabrication and slander" Kate McCann.
"if anyone steps over the lines then they should be prepared to defend what they say in court." Gerry McCann.
daqui.

sábado, 12 de dezembro de 2009

Vigiar e punir

Lembramo-nos bem do último governo com tutela presidencial. Foi com Santana Lopes, correu mal e acabou depressa. Era previsível que assim fosse. Mas, como para provar que nunca aprendemos o suficiente, esta semana vários socialistas vieram reclamar uma nova forma de tutela presidencial, desta feita sobre o Parlamento: Cavaco Silva deveria intervir, puxando as orelhas aos partidos que não se entendem.

O apelo insólito, para além de revelar desnorte político, teve, desde logo, o condão de fragilizar quem o fez
- que ficou à espera de uma resposta presidencial, que naturalmente não chegou. Não deixa de ser verdade que, no discurso de tomada de posse do governo, Cavaco destinou a si próprio o papel de referencial de estabilidade. Mas uma coisa é apelar a que o Presidente cumpra esse papel, outra, bem diferente, é criar as condições objectivas para que ele o faça.

Nas últimas semanas, temos visto facções que se digladiam numa competição para aumentar a despesa e diminuir a receita e a uma maioria que se lamenta perante as coligações negativas - isto ao mesmo tempo que se revela incapaz de fazer pedagogia política que explique a sua posição (veja-se o exemplo do Código Contributivo, em que só após a suspensão no Parlamento se ouviram os argumentos do executivo). Moral da nossa história: como os partidos não se entendem, reclamam que a autoridade vigie e puna. Em democracia só pode dar mau resultado, e não foi para isso que foi concebido o nosso semipresidencialismo.

publicado no i.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Manifesto anti-pessimista

O pé de fora

As candidaturas presidenciais ganhadoras são as que, partindo de um determinado espaço político, conseguem alargá-lo. Quando Mário Soares, em entrevista ao i, diz que Alegre está com um pé dentro e outro fora do PS tem, de facto, razão, mas está também a reconhecer o potencial eleitoral da recandidatura alegrista. O problema é que o pé que Alegre tem fora do PS - e em muitos dias é esse o "pé-director" -, ao mesmo tempo que tem ajudado a tornar a sua candidatura presidencial uma quase inevitabilidade, está a amarrar Sócrates a uma estratégia que não lhe convém. Há uns dias, Alegre proclamava que não estava refém de ninguém. É verdade, até porque são hoje Sócrates e o PS que estão reféns de Alegre: as lições de 2005 impedem uma candidatura alternativa à do poeta (que só fraccionaria o PS), mas Alegre Presidente ameaça o projecto político que Sócrates tem tido para o PS. Se a cooperação estratégica entre Cavaco e Sócrates é uma miragem de um passado longínquo, entre Sócrates e Alegre é uma utopia distante. É inevitável que, dentro de um ano, José Sócrates e Manuel Alegre estejam nos braços um do outro, enquanto proclamam a partilha dos valores da esquerda democrática. Acontece que, politicamente, não há convergência estratégica possível entre os dois. E, como se não bastasse, Alegre candidato oficial do PS não terá o potencial eleitoral de Alegre candidato com o "pé fora" do PS. Nisto, as presidenciais servirão para revelar o bloqueio estratégico que existe à esquerda.
publicado hoje no i.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Regressar de Paris

sábado, 5 de dezembro de 2009

A posição minoritária

Esta semana, Ana Gomes, na TSF, afirmava que quem era contra a tipificação do enriquecimento ilícito, por este inverter o ónus da prova, usava "desculpas de mau pagador"; já no Parlamento, Fernando Negrão, enquanto justificava a coligação entre PSD/BE/PCP nas políticas de combate à corrupção, falava no pré-crime.

Confesso que há para mim uma diferença de escala entre os deputados entenderem-se em torno de formas de aumentar a despesa de modo incontrolável e a coligação invencível que, a propósito do justo combate à corrupção, se prepara para esmagar quem se atreva a ter dúvidas sobre os passos demagógicos que estão a ser dados. É, ainda assim, bem mais grave, à boleia do calor mediático, minar os alicerces do estado de direito do que abraçar a indisciplina orçamental.

Tendo em conta que não me é possível sugerir que experimentemos colectivamente uma distopia - que infelizmente está sempre ao virar da esquina - onde direitos, liberdades e garantias são uma miragem do passado,

recomendo que se leia mais ficção científica ou se vejam as adaptações ao cinema.
No "Relatório Minoritário" de Philip K. Dick, o departamento que geria preventivamente a criminalidade chamava-se "precrime" e nos seus livros fica claro que a capacidade de impedir crimes de ocorrerem e a criação de sociedades absolutamente seguras tem sempre uma outra face bem sombria: um universo totalitário que tende a suspender as liberdades individuais. Convém recordar que se chega a esse mundo através de uma sucessão de pequenos passos.

publicado hoje no i.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Imaginação Informada


Brian Eno é um notável músico, mas também um surpreendente colunista político. A coluna que assina na "Prospect" - Dr. Pangloss - é um oásis de optimismo antropológico, enfrentando o modismo pessimista que tem feito escola. No seu último texto - "The post-theoretical age" - chama a atenção para o facto de vivermos numa era onde o debate é mais informado do que nunca. Dos blogue ao Twitter, assistimos a uma democratização do acesso a dados. As consequências são claras: "Na ausência de dados, teorizamos. Na abundância, só temos de fazer as contas." O que poderia parecer uma negação da dissensão política, não o é. Com a massificação da informação estamos a construir as ferramentas intelectuais que vão decidir o futuro. Perante este novo contexto, o conservadorismo leva vantagem: enquanto os progressistas se inclinam perante um futuro ainda indefinido, os conservadores agarram-se ao passado e sabem exactamente o que não querem. O futuro é para os progressistas um "acto colectivo de imaginação informada", sendo que a qualidade da informação está a melhorar.
Eno não o diz, mas informação pública de qualidade é o alfa e o ómega das políticas progressistas. Se há domínio no qual, em Portugal, há défices gritantes é esse. Défices que minam a confiança no debate público democrático. É por isso que o exercício de desinformação orçamental feito ao longo deste ano, sendo politicamente grave, é, acima de tudo, uma limitação à imaginação do futuro.
publicado no i.

Philip K. Dick ou Fernando Negrão?


"Nós vivemos em sociedades de transição. De transição entre uma sociedade industrial e uma sociedade digital, de transição entre uma sociedade nacional e uma sociedade global. Nos vivemos cada vez mais numa sociedade onde o risco e o perigo imperam. Todos nos sentimos isso todos os dias. E por isso é preciso construir o crime de enriquecimento ilícito, com base numa figura jurídica que é a figura jurídica do crime de perigo. E com base nessa figura jurídica nós podemos construir um pré-crime, no sentido de acautelar as situações que não têm tido acautelamento jurídico."
Podia fazer parte do Minority Report, mas não, foi mesmo um deputado do PSD ontem no Parlamento. Eu ouvi e não queria acreditar. Se calhar o melhor é mesmo fingir que não foi dito.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Rapazes



Esta versão do teledisco dos Girls para Lust for Life é apresentada como sendo hardcore (perceberão porquê). Os Girls têm um disco, uma história pessoal insólita e são a melhor coisa que o Evan Dando poderia ter feito depois de ter feito um par de discos iniciais com os Lemonheads já lá vai mais de uma década. O disco de estreia deles é todo assim: rock'n'roll exaltante e cantarolável, a empurrar-nos para festas. Acontece que por mais explícita que seja, qualquer versão hardcore dos Girls perde para a violência hardcore do que o John Darnielle faz - como se pode atestar aqui em baixo.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

sábado, 28 de novembro de 2009

Juntos, contra

Durante muito tempo ouvimos vozes de todo o espectro político a insurgirem-se contra a ausência de protecção no desemprego de muitos portugueses. A indignação é justa, mas choca com os limites ao financiamento dos apoios sociais. Com um sistema baseado numa lógica de seguro social, a protecção depende dos descontos prévios e da massa salarial sobre a qual incidem. Subverter esta lógica pode ser muito popular, mas é, no mínimo, financeiramente irresponsável.
O problema é tanto mais sério quanto Portugal combina níveis de participação no mercado de trabalho muito elevados com uma grande precariedade do emprego – que encontra poucos paralelos na Europa. Acontece que à precariedade não estão apenas associados níveis remuneratórios mais baixos e menor segurança no emprego, mas também, frequentemente, ausência de protecção no desemprego.
A única forma viável de proteger mais os portugueses que estão no desemprego é encontrar novas formas de financiar a segurança social, alargando a base de incidência contributiva, designadamente considerando rendimentos não salariais, mas que são de facto contrapartidas do trabalho. É também isso que está em causa com o novo código contributivo. Perante isto, a direita opõe-se porque o novo código onera os empregadores e a esquerda porque legitima a precariedade. Juntos, votam contra. Mas não tardará que, juntos, venham clamar por mais protecção no desemprego. A mesma protecção que agora se recusaram a financiar.
publicado hoje no i (na edição impressa, para além duma gralha que muda o sentido - e à qual sou alheio -, o texto vem atribuído à Laurinda Alves)

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

O Gulag pode ser aqui

Há umas semanas, uma deputada do PCP revelava desconhecer o Gulag. A entrevista deu que falar, mas a polémica parecia deslocada. Nada de mais errado. Esta semana, Jerónimo de Sousa mostrou que, sendo o Gulag uma sinistra recordação, o seu espírito se mantém vivo. A propósito das escutas ao primeiro-ministro - e, peço desculpa, o tema é, para o caso, completamente irrelevante -, o secretário-geral do PCP defendeu que "seria muito grave que quaisquer formalismos legais determinassem a anulação definitiva de matéria de prova" e que se devia procurar manter "essas provas para processos futuros". Não vá alguém, algum dia, tergiversar, nada como ter na gaveta alguma coisa que possa servir para incriminar. Já os "formalismos legais" são apenas o que nos protege dos julgamentos populares, uma espécie de antecâmara do Gulag. Mas ainda a procissão ia no adro e Aguiar-Branco - paradoxalmente o melhor ministro da Justiça dos últimos anos, prejudicado pelo contexto em que exerceu o cargo - afirmava que "ninguém é obrigado a aceitar um cargo político" mas que, ao assumi-lo, "aceita o escrutínio das suas conversas". Ou seja, com a responsabilidade política vem também uma compressão intolerável dos direitos individuais.
Das últimas semanas guardo uma esperança: que tudo o que se tem dito seja apenas resultado temporário de uma profunda discordância de Sócrates - politicamente legítima e justificável - que está a obnubilar os espíritos, mesmo os mais livres.
publicado hoje no i.

O assador

Os artigos de Daniel Amaral são quase um óasis. O desta semana não é excepção.
"De crescimento económico sabemos que o biénio 2010-11 vai ser muito mau e o 2012-13 é uma incógnita. O melhor é não contarmos com isso. E a optimização da cobrança já deverá estar esgotada. Resta-nos o aumento de impostos: sim ou não? O cenário não é de excluir, mas penso que deverá ser o último a considerar. Os impostos já são de tal modo elevados que um eventual aumento seria um suicídio político.
A alternativa está no corte nas despesas. Recuperemos então a estrutura que deixámos lá atrás. Cortamos nos juros da dívida? É impossível. Aliás, estes juros ainda vão aumentar. Cortamos no investimento? Por Deus, não! Seria desistir de viver. Restam-nos três grupos de despesas: os salários, as pensões e as acções sociais. Querem fazer o favor de escolher? Eu recuso-me. Não consigo imaginar o choque que uma tal violência irá provocar no país."

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Anteontem: Verão no Alentejo

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

"Quem é ateu e viu milagres como eu"


foto tirada daqui, onde, aliás, há explicação.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Muito barulho para nada

Cinco anos passados, muita contestação depois e muito desgaste para as várias partes, os indícios de que a avaliação de professores regressará ao ponto onde se encontrava em 2005 são manifestos.
Se assim for, a conclusão só pode ser uma: muito barulho para nada.
do meu artigo de hoje no Diário Económico.

domingo, 22 de novembro de 2009

Assim se vê a força do PC

Aqui, Daniel Proença de Carvalho notava que "todos nós conhecemos os actores políticos, os seus percursos, as ideias que professam, os seus comportamentos políticos; e, muito importante, exercem o poder com base no voto popular, que é a regra da democracia. Que sabemos nós dos detentores do poder judiciário? Por onde andaram, que ideias políticas professam? E a pergunta fatal: qual a raiz do seu poder soberano? Com que legitimidade o exercem? Esta é a questão crucial com que, mais dia, menos dia, teremos de confrontar-nos."
Jerónimo de Sousa, como sempre acontece com o PC quando os temas são estes, nesta admirável declaração, dá um um contributo para a resposta: "seria muito grave que quaisquer formalismos legais determinassem a anulação definitiva de matéria de prova indispensável à descoberta de eventuais crimes".

sábado, 21 de novembro de 2009

A herança de Harper Lee


Já houve os Boo Radleys, mas há também a "Scout" Nibblet, como para mostrar que há felizmente por aí muitos herdeiros do To Kill a Mockingbird.

Ausência de caminho?

Desemprego acima dos 500 mil, dívida incontrolável e o défice voltou a ser excessivo. No horizonte, crescimentos medíocres do produto e, pelo menos até 2012, não há sinais de que o emprego recupere. Como se não bastasse, assim que se vislumbrar uma tímida retoma, regressará a pressão para a consolidação orçamental.

Não são bons tempos para se estar vivo - economicamente falando, claro. Mas uma coisa os últimos meses também nos disseram: o cenário poderia ter sido bem pior. As previsões feitas para a economia portuguesa têm sido sistematicamente revistas em alta. Sendo verdade que as estratégias anticíclicas revelaram alguma eficiência, foram também insuficientes. Moral da história: sem o pacote de estímulos, a recessão teria sido bem mais profunda e o desemprego ainda pior.

Foi quebrado o ciclo vicioso que nos ameaçava, mas os riscos estão longe de terem sido eliminados. Que fazer agora? Estamos perante um dilema dramático: não temos recursos para manter a economia alimentada pelo consumo público, mas não há condições para não o fazer.

Há três caminhos possíveis, todos muito exíguos: diminuir a despesa (sendo que a que resta é tremendamente rígida); aumentar impostos (não se vê quais) e estimular a economia, continuando a aumentar a despesa. Provavelmente, é preciso fazer de tudo um pouco. Mas também é necessário que nos libertemos dos que, enquanto se entretêm a repetir que o cenário é negro, não conseguem vislumbrar nenhum caminho.

publicado no i.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Exemplos



Em 1770, em Boston, os soldados britânicos dispararam sobre vários populares que se manifestavam contra a possibilidade de o parlamento britânico regular de facto as trocas comerciais e taxar as colónias da América do Norte. No que ficaria conhecido como "Massacre de Boston", morreram cinco civis. O episódio tem uma grande carga simbólica e costuma ser visto como tendo espoletado o processo que levou à declaração de independência dos EUA.

Há, contudo, outro lado da mesma história. Num clima de grande indignação popular, os soldados britânicos são levados a julgamento. Têm, contudo, dificuldade em encontrar quem os defenda. Acabam por conseguir que John Adams aceite ser seu advogado. Adams, que tinha assistido ao massacre, era um empenhado militante independentista, e viria a ser vice-presidente de George Washington, a quem sucederia como presidente.

Ao contrário de todos os outros advogados, que recusaram a defesa com medo que isso os descredibilizasse perante os seus compatriotas independentistas, Adams aceitou. Ao fazê-lo, pôs à frente do seu interesse político um princípio inegociável: o direito a uma justiça justa e isenta.

Este episódio é relatado numa notável série da HBO sobre John Adams, magnificamente interpretado por Paul Giamatti. É uma história exemplar e bem actual.

publicado no i.

Ladies and gentlemen, Mr. Leonard Cohen



durante uma semana, podem ver graciosamente este filme.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

A propósito de claustrofobia democrática

Vale bem a pena ler o texto do Pedro Múrias, para se perceber que mais preocupante que a pressão que vem de fora para as redacções, são as condições em que se trabalha em muitas redacções.

Os primos de west-side park voltaram

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Beach House


Entre a praia e casa e entre casa e a praia, não paro de ouvir o novo dos Beach House. Violem umas quantas leis, façam download do disco e depois comprem quando sair em Janeiro. Eles bem merecem, e vocês também.

Espero que tenha sido tão bom para vocês como foi para mim

A pedido de duas famílias, aqui fica a lista de 20 canções que escolhi para a TSF. Critérios? Essencialmente dois: temas de que gosto há muitos anos e que continuo a gostar muito ainda hoje (ainda que por vezes por motivos diferentes) e outros de que suspeito vou continuar a gostar muito daqui a uns quantos anos. Peço especiais desculpas ao Chico Buarque, ao Caetano e ao Ian Curtis e aos outros três rapazes. Mas, infelizmente, não havia espaço para todos. Fica para a próxima. Para ouvir, clickar aqui.

The Beatles - I'm Only Sleeping 3:00 Revolver
Belle & Sebastian - We Rule The School 3:27 Tigermilk
Bill Callahan - Jim Cain 4:39 Sometimes I Wish We Were An Eagle
Bob Dylan - I Want You 3:07 Blonde on Blonde
Bon Iver - For Emma 3:41 For Emma, Forever Ago
Cowboy Junkies - Powderfinger 5:47 The Caution Horses
David Byrne - A Soft Seduction 3:01 Feelings
The Durutti Column - Tomorrow 4:04 Circuses and Bread
The Go-Betweens - Cattle And Cane 4:03 Before Hollywood
Jacques Brel - Le Plat Pays 2:45 Brel
João Gilberto - Este Seu Olhar 2:18 João Gilberto
John Cale - (I Keep A) Close Watch 2:32 Fragments Of A Rainy Season
Johnny Cash - If You Could Read My Mind 4:30 American V: A Hundred Highways
Lambchop - The Daily Growl 6:37 Is A Woman
Leonard Cohen - Stranger Song 5:06 The Songs Of Leonard Cohen
The Mountain Goats - No Children 2:46 Tallahassee
The National - Daughters Of The Soho Riots 3:59 Alligator
Paolo Conte - Genova Per Noi 2:54 Paolo Conte
The Smiths - There Is A Light That Never Goes Out 4:05 The Sound Of The Smiths
Wilco - Jesus, Etc. 4:00 Kicking Television: Live In Chicago

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Dia de surf


(imagem roubada daqui. vale bem uma visita.)

Cepticismo, por favor

Sempre que há um caso judicial que envolve política, inicia-se um ‘ping-pong’ de acusações entre políticos que se indignam com a ligeireza com que a justiça trata os direitos e as garantias e operadores judiciais que se sentem constrangidos na sua autonomia.
No entanto, há uma classe que tende a passar entre os pingos da chuva e cujas responsabilidades na percepção da falência da justiça em Portugal estão bem longe de ser irrelevantes: os jornalistas.
do meu artigo de hoje no Diário Económico

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Meios & Publicidade

A quem possa interessar,
Desde Setembro que, com o Pedro Marques Lopes, faço um programa semanal de debate político na TSF moderado pelo Paulo Tavares. Chama-se Bloco Central, vai para o ar aos Domingos entre o meio-dia e a uma da tarde, e pode ser (re)ouvido aqui. Passei também a ser "residente" no programa Roda Livre da TVI-24, onde debato com o Rui Ramos e o Manuel Villaverde Cabral, com moderação do Henrique Garcia. O programa vai para o ar às quintas-feiras entre as 22 e as 23 horas e pode ser (re)visto aqui.

Regra do Jogo

Há várias semanas que ando para saudar a chegada da Regra do Jogo. Escrevem por lá muitas pessoas que gosto genuinamente de ler e com as quais aprendo sempre. Faço-o hoje porque aproveito para chamar a atenção para este texto do Porfírio, que como sempre nos obriga a pensar.

sábado, 14 de novembro de 2009

Sabemos como começa

Primeiro aceitamos que a investigação criminal vá assentando cada vez mais em escutas, e aparentemente quase só em escutas; depois toleramos que o seu conteúdo seja plantado na comunicação social; por fim discutimos o teor do que não deveria existir, sem que questionemos o modo com estamos colectivamente a deixar que se minem os alicerces do Estado de direito. Como se não bastasse, admitimos com normalidade que um titular de um órgão de soberania seja, em última análise, alvo de espionagem política durante uns meses. Para culminar, parece ter chegado o dia em que os deputados se juntarão para aprovar uma lei que obrigará de facto o suspeito de um crime a provar a sua inocência, em lugar de obrigar a acusação a provar a sua culpa. Pelo caminho deitámos fora princípios sacrossantos para uma vida em comum numa sociedade decente: o direito à privacidade e a importância das garantias consagradas no processo penal, designadamente a presunção de inocência. Agora toca a quem ocupa transitoriamente o cargo de primeiro-ministro, mas, se não somos intransigentes neste caso, haverá um dia em que poderá passar-se connosco. E nesse dia não teremos a lei do nosso lado, e já não haverá Estado de direito para nos defender.

A tudo isto se chama recuo civilizacional. Sabemos, na verdade, como começa, mas temo que saibamos também como vai acabar. Até certa fase podemos ir resistindo, com mais ou menos energia, mas chegará um momento em que teremos de viver recatadamente com a derrota.

publicado hoje no i.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

A minha playlist

Durante dois anos e meio, concretizei um sonho de sempre: tive duas horas semanais na rádio para, com o Nuno Costa Santos, passar música sem constrangimentos. Não sei se a oportunidade se repetirá, mas, agora que deixei o Rádio Clube para passar a colaborar com a TSF, pediram-me que fizesse a minha playlist. O desafio de escolher apenas 20 músicas não é fácil. No dia em que gravei, a escolha foi esta.

Os cínicos e os cépticos

Imagino que o Paulo Pena não se importe que eu publique aqui o texto que o Pedro Sales já publicou no Arrastão. É bom saber que há quem pense o que o Paulo pensa, mas ainda mais importante é saber que há quem, sendo jornalista, tenha hoje a coragem de o escrever. Aqui fica.

Só para citar de memória, e deixando de fora os amendoins: Houve o caso Paulo Portas/Moderna; o caso Paulo Pedroso/Casa Pia; o caso Portucale; o caso Freeport; e, agora, as «certidões» da sucata. Tudo grandes investigações que envolviam políticos e não passaram no teste do algodão. Mal ou bem, estas grandes incursões da justiça no mundo da política foram, ou virão a ser, fiascos. Mas deixam um subtexto que substitui a verificação da veracidade ou falsidade das alegações: os políticos não se deixam apanhar, ou fazem leis para se «safar», ou condicionam os intrépidos magistrados.
O que são, nos media, estes casos? Investigações jornalísticas? Ou, em 90% dos casos, uma nova categoria de «reportagem sobre investigações», como lhes chamam Bill Kovach e Tom Rosenstiel, no imprescindível livro Os Elementos do Jornalismo (Porto Editora)?

Veja-se a descrição americana, e compare-se com a realidade portuguesa:

«Neste caso, a reportagem desenvolve-se a partir da descoberta ou fuga de informação de uma investigação oficial (…) O risco deste tipo de reportagem (…) é que o seu valor depende muito do rigor e do cepticismo do repórter envolvido. O repórter proporciona ao entrevistado um precioso espaço para a difusão de uma alegação ou insinuações, sem qualquer responsabilização pública. Isto não significa que a reportagem sobre investigações esteja, por inerência, errada. Mas está repleta de riscos, geralmente negligenciados. Nesta situação, os repórteres apenas costumam conhecer parte da investigação, em vez de serem responsáveis pela mesma. A hipótese de serem manipulados pelas fontes é elevada. Em vez de vigiar as instituições do poder, a imprensa fica vulnerável e torna-se num instrumento à mercê das mesmas.»

Estes são os riscos. E basta ir à hemeroteca para constatar que andamos, todos, a ser muito pouco cépticos com um género particular de investigações: as investigações judiciais. Em Portugal há, e houve em momentos críticos, como os anos da Casa Pia, jornalistas a partilhar blogues com magistrados (convenientemente anónimos). Houve um PGR que nunca foi investigado por ter mandado a sua assessoria de imprensa divulgar notícias falsas. Houve um director-nacional da Judiciária que mentiu a um jornal, acusando Ferro Rodrigues, na altura líder do PS, de um crime horrendo que era falso, e continua, ainda hoje, a aplicar «justiça» num tribunal superior.

Andamos mesmo a ser pouco cépticos. Tão pouco cépticos que já é altura de pararmos para pensar se não andaremos a ser coniventes e acéfalos.
Para mim, a separação de poderes dá a resposta ao dilema: os jornalistas devem investigar, e não fazer de caixa de ressonância; os investigadores judiciais devem ser avaliados pelos resultados das suas investigações e não pela comoção pública que geram as suas quase-descobertas; e os políticos devem ser julgados pelas suas acções e não pela sensação de verosimilhança que gostamos de associar entre uma discordância política e uma falha ética. Há políticos honestos de quem discordamos e políticos corruptos com quem concordamos.

Foi Kapuscinski que disse que «os cínicos não servem para este ofício». E tem cada vez mais razão. A diferença entre cínicos e cépticos devia ser ensinada nas faculdades de jornalismo.

Paulo Pena, jornalista.

O dia em que o Correio da Manhã venceu

Estava escrito. Um dia o modo como o "Correio da Manhã" olha para a sociedade tornar-se-ia dominante. Temo que esse dia tenha chegado. O contexto estava maduro: a sensação de que a corrupção está a aumentar combinada com um sentimento de impunidade. Mas, ainda assim, as instituições pareciam imunes aos julgamentos na praça pública alimentados por violações grosseiras ao segredo de justiça; do mesmo modo que partidos políticos não hesitavam na defesa das regras básicas de uma sociedade decente - o primado da lei, a importância dos procedimentos formais para nos proteger a todos e a presunção da inocência.

Infelizmente, chegou o dia em que o consenso que nos permitia resistir à fúria justicialista foi posto em causa. Manuela Ferreira Leite, no Parlamento, não resistiu a afirmar que "as dúvidas políticas não se resolvem adiando investigações e destruindo provas", para logo depois dizer que o primeiro- -ministro devia esclarecimentos ao país sobre este caso. Eu não sei, nem quero saber, que "provas" são essas de que Ferreira Leite fala. Desde logo porque, num país civilizado, as escutas deveriam ser o último recurso para a investigação, em situação alguma deveriam ser passadas aos media e todos devíamos ter a consciência de que a maior exigência nas escutas aos órgãos de soberania visa proteger não quem ocupa transitoriamente os cargos mas, sim, a segurança do Estado, da governação e, custa-me dizê-lo, hoje em dia, também a autonomia da política face à justiça.

publicado no i.

Homens em tempos sombrios

terça-feira, 10 de novembro de 2009

A latrina

Na verdade, para sairmos da latrina onde estamos presos, precisamos de investigações discretas, blindadas às fugas e capazes de produzir, de facto, prova. Mas, precisamos, essencialmente, que o processo de tomada de decisões nas políticas públicas seja transparente, baseado em critérios partilhados e densificado por um enquadramento legal estável e previsível. Infelizmente, temos todos os dias violações ao Estado de direito, mas temos também quotidianamente decisões políticas opacas e sobre as quais pouco sabemos.
do meu artigo de hoje no Diário Económico.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

o maravilhoso mundo do clipping

Há um lado invariavelmente trágico no humor involuntário. A este propósito, a entrevista que José Manuel Fernandes deu ao Correio da Manhã (por acaso parece-me bem escolhido o jornal), é a vários títulos inigualável. Mas, desde já, e agora que terá mais tempo disponível, tenho duas singelas sugestões a fazer ao agora colaborador "aqui e ali" do Público: trabalhar as suas capacidades para realizar buscas no google e pedir ao Pai Natal se lhe deixa no sapato uma assinatura de um serviço de clipping. Vai ver que é bem melhor que o arquivo do Pacheco Pereira. As coisas que por lá se descobrem.

Comemorações

quem é que estava no 7 de Novembro de 1981?
a resposta está aqui.

sábado, 7 de novembro de 2009

A sombra do passado

O debate deste final de semana revelou um governo novo com um programa novo, mas que herdou do executivo anterior velhos problemas. À cabeça o processo de avaliação dos professores. O tema está, em teoria, bem longe de ser uma prioridade nacional; acontece que se transformou de facto numa prioridade política e será um teste decisivo à capacidade de Sócrates para governar em minoria.
A equação não é fácil de resolver. De um lado estão escolas (que precisam de estabilidade) e professores já avaliados (que não querem abdicar do percurso que já fizeram); de outro, partidos políticos e sindicatos, que querem manter a chama da luta política acesa e não abrem mão da suspensão do processo. No meio está o governo, que viu diminuídas as suas condições políticas e perdeu grande parte da margem de manobra negocial que detinha (primeiro, no memorando de entendimento com os sindicatos em Abril de 2008 e depois com a revisão do estatuto da carreira, aprovada neste Verão com escasso impacto).
Os sinais sobre qual vai ser a saída para o impasse são contraditórios: a nova ministra afirmou que "tanto no sistema de avaliação como no estatuto, não há pontos que não se possam mudar", enquanto o ministro dos Assuntos Parlamentares acena com uma encruzilhada jurídica, que em última análise pode bloquear politicamente o país. Há, contudo, uma certeza: o modo como será resolvida esta equação marcará a identidade do novo governo, o que não é compaginável com indefinições e contradições.
publicado no i

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Por detrás das falas mansas

Em Novembro de 1989, os alemães de leste foram finalmente autorizados a passarem a fronteira com Berlim ocidental. Vinte anos passados, há bons motivos para comemorar o simbolismo dos primeiros passos de uma Europa unida e livre. Mas, num remoto país da Europa, há quem pense que não. Em nota enviada à Lusa, o PCP vem recordar-nos que “as 'comemorações de regime' a que assistimos são uma operação de reescrita da história e de branqueamento do capitalismo". Afinal, “o mundo está hoje mais injusto, mais desigual, mais perigoso e menos democrático" e, claro, a solução dos problemas da humanidade "não está nas contra-revoluções que há 20 anos varreram o Leste europeu", mas sim na lealdade aos ideais da "grande Revolução de Outubro".
Podemos tomar estas declarações como pitorescas, mas, na verdade, torna-se difícil. Desde logo porque, nas sociedades abertas, as liberdades civis e políticas são inegociáveis e não compagináveis com nenhum “mas”; depois, o próprio PCP já tinha encerrado este capítulo de sinistra nostalgia estalinista e é, no mínimo, trágico que se entretenha agora a reabri-lo. No fim, fica a certeza que, por detrás das falas mansas do “comunismo de sociedade recreativa”, se esconde um partido envolvido num crescendo de ortodoxia que não encontra paralelo no mundo ocidental. Afinal, o enlevo com a Coreia do Norte de Bernardino Soares ou o apagamento dos Gulags da deputada Rita Rato não são notas dissonantes ocasionais, mas, sim, o elemento central da partitura pela qual se rege hoje o PCP.
publicado hoje no i.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

A vaga de fundo

Há um ano e meio, os barões do PSD uniram-se para que Ferreira Leite avançasse para a liderança. A vaga de fundo, é hoje sabido, ofereceu uma curtíssima vitória nas eleições directas à "boa moeda". Depois, a "escolhida" teve um resultado eleitoral em tudo idêntico ao da "má moeda", cinco anos antes, com Santana Lopes. Agora, os mesmíssimos barões empenharam-se em revisitar o equívoco, lançando um apelo para que, desta feita, fosse Marcelo Rebelo de Sousa o voluntário para se deixar imolar na fogueira que os barões, depois, se encarregariam de ir mantendo acesa. A repetição da história revela, antes de mais, que o partido não conseguiu aprender com os erros recentes, mas também que há um conjunto de pressupostos sobre o PSD que a realidade se tem encarregado de desmentir.

do meu artigo de hoje no Diário Económico.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Dress code: usar óculos

Uma fatia muito importante do meu tempo nos últimos anos foi dedicada a isto. Acabou de repente, depois de um par de horas fechado numa sala com homens com óculos.

Sinais de vitória


Devo muito do que sou ao António Sérgio na medida em que não me conheço sem passar o tempo a ouvir músicas, a descobrir músicas e a querer saber mais sobre músicas. Cheguei ontem a Portugal e percebi que o António Sérgio morreu, mas fiquei contente por perceber que o António Sérgio tinha sido e é muito importante para muita gente – basta dar uma vista de olhos pelos blogs. Este é o género de coisas que faz de mim um optimista. Isto e uma história que acho que terei ouvido ao John Peel numa entrevista qualquer: para ele, a sanidade da sua família media-se pelo facto de ir com a mulher e os filhos a concertos dos The Fall, mais de vinte anos passados depois do Mark E. Smith nos ter começado a assombrar a todos. Era isso que eu sentia também no António Sérgio quando o ouvia, cavernoso, na Radar: o mesmo entusiasmo inicial com a música.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Uma última vista


até já.

Uma linha ténue

Para bom entendedor, as palavras são claras: o que foi a votos foi a identidade do governo definida há quatro anos e meio e o reformismo contra os interesses corporativos saiu vencedor. Para as oposições, a mensagem é também inequívoca: o caminho passará por prosseguir uma agenda reformista e o ónus da instabilidade política recairá sobre elas, nomeadamente se forem criadas coligações negativas. Em maioria absoluta, as oposições podem ser "irresponsáveis"; num contexto de maioria relativa serão naturalmente responsabilizadas pela instabilidade.

A linha apontada é de combate político. Mas é também uma linha em que a diferença entre sucesso e falhanço é muito ténue. Ora uma coisa é certa, o sucesso da estratégia depende de um elenco governativo politicamente robusto, capaz de resistir à exposição parlamentar e de alargar a base de apoio do governo para além da Assembleia da República. Ouvido o discurso de ontem, só podem por isso aumentar as perplexidades sobre a equipa ministerial que tomou posse. Pode haver surpresas, mas, em teoria, não é possível ter um governo de combate político com tão poucos políticos.

do meu artigo de hoje no Diário Económico.

sábado, 24 de outubro de 2009

Mais perto e mais longe

Um governo com mais mulheres aproxima-nos da norma europeia, mas há uma outra dimensão que nos afasta: os ministros independentes. É verdade que a entrada de novos ministros, recrutados fora da esfera partidária e governativa, revela capacidade de atracção, quando se temia que ela já não existisse. Mas, acima de tudo, esconde um conjunto de fragilidades do sistema partidário português. Fragilidades que, em lugar de serem contrariadas, são reforçadas. Os independentes tendem a revelar-se, com excepções, casos problemáticos de inabilidade política (risco que é maior quando não há maioria absoluta). Mas são essencialmente um sintoma de fraca institucionalização dos nossos partidos.
Nas democracias do Norte da Europa há poucos ministros vindos de "fora" do sistema partidário: ou são previamente eleitos para o Parlamento ou são "políticos profissionais", saídos dos aparelhos partidários ou sindicais.
Num caso e noutro, há incentivos para os melhores irem a votos e, o que não é menos importante, para se envolverem na vida política. Em Portugal temos sistematicamente o incentivo contrário. A mensagem é clara: "Se ambicionas ser governante, afasta-te dos partidos." Esta mensagem tem várias consequências - degrada (ainda mais) a imagem dos partidos e secundariza o seu papel na configuração da governação, ao mesmo tempo que tenta resolver pela porta do cavalo a sua fraca ancoragem social. Se calhar, as quotas de que precisamos são as que obrigam os ministros a serem eleitos em listas partidárias.
publicado hoje no i.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Uma onda vale milhões

A realização de uma etapa do circuito mundial em Peniche pôs o surf na agenda mediática. É bom que isso aconteça. Uma onda vale milhões de euros e em Portugal o potencial das ondas é imenso. Num paper recente, Pedro Bicudo e Ana Horta (do IST) estimam que uma onda de qualidade possa ter um impacto no turismo na ordem dos 100 milhões de euros anuais. Faz sentido. Não apenas o número de praticantes em Portugal tem crescido bastante, como, numa sondagem recente, 90% dos europeus escolhiam o surf como o desporto que mais gostariam de experimentar. Da África do Sul à Indonésia, passando pelo País Basco, há localidades que se transformaram radicalmen- te porque tinham condições óptimas para o surf. Jeffrey's Bay, Uluwatu ou Mundaka são lugares prósperos porque se reconverteram de longínquas terras costeiras em destinos turísticos de surf. Com ganhos evidentes: desenvolveram-se (preservando a sua identidade) e encontraram um equilíbrio ambiental, obrigadas a proteger um recurso natural - uma onda de excelência. Há várias ondas em Portugal que podem funcionar como pólo de atracção do turismo de surf. Mas, como lembra o mesmo paper, em Portugal continuam a ser destruídas ondas de enorme qualidade: o Jardim do Mar na Madeira, Rabo de Peixe nos Açores ou o caso mais recente do Cabedelo na Figueira da Foz. Há autarcas sentados em cima de uma autêntica galinha de ovos de ouro, mas que, em lugar de a usarem como alavanca para o desenvolvimento, preferem destruí-la.
publicado hoje no i

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Uma porta para o que não conseguimos explicar

O Público noticia que o Semanário acabou, leia-se que já não sai esta semana. O Semanário foi ressuscitado através desta foto-novela das escutas (que nasceu em parte porque havia quem se entretivesse a comentar notícias do Semanário). O Semanário que estava morto há vários anos, mas estranhamente não havia ainda sido enterrado. Isso é que seria de facto notícia: explicar como é que foi possível que o Semanário continuasse a aparecer nas bancas todas as semanas. Suspeito que quem fosse capaz de responder a este enigma desvendaria muitos dos segredos nacionais.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

A economia do surf

O surf pode ajudar a fazer uma síntese de que muitas regiões do país bem necessitam: gera novos recursos, mas contribui também para preservar recursos naturais, que tradicionalmente eram vistos como um empecilho ao desenvolvimento económico. Os bons exemplos das autarquias de Peniche e de Cascais - que têm visto no surf uma oportunidade para a criação de uma nova identidade local - bem podiam ser seguidos por muitas outras câmaras do pais que, tendo ondas de qualidade, não só não cuidam da sua protecção, como desprezam o seu potencial económico.

do meu artigo de hoje no Diário Económico.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

It's coming home, it's coming home, surf's coming home


para seguir aqui.

sábado, 17 de outubro de 2009

Singularidade política

A política portuguesa não escapa à proverbial inclinação nacional para os comportamentos singulares. Esta semana, se dúvidas restassem, ficámos a saber que teremos um governo que não encontra paralelo: composto por apenas um partido, sem coligações e sem maioria parlamentar. Na Europa há governos de maioria absoluta (quase exclusivamente em países com sistemas eleitorais maioritários); governos assentes em coligações parlamentares e ainda governos de coligação. O que não existe são governos minoritários, com coligações do tipo "navegação à vista", como acontecerá em Portugal. E não existe porque é certo que se traduzirão em instabilidade.

Aliás, em Portugal, apenas um governo de maioria relativa resistiu uma legislatura inteira, o primeiro de Guterres. Um governo que teve um contexto económico favorável e que serviu para "desasfixiar" o país das maiorias absolutas de Cavaco. Agora, com crescimentos económicos medíocres, com uma pressão social difícil de gerir e com uma clara propensão para a formação de coligações negativas, resistir ao pântano é um trabalho político hercúleo para o governo. Mas, certamente, não menos para as oposições, que não podem estar comprometidas com a governação, mas também não vão querer ser responsabilizadas pela instabilidade. Não por acaso, apenas um governo caiu no Parlamento por iniciativa das oposições (em 1987, o governo minoritário do PSD). Já agora, nas eleições seguintes, o partido no poder teve uma maioria absoluta e as oposições foram justamente fustigadas.

publicado no i.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

A minha escola é melhor que a tua

Todos os anos ficamos a saber quais as escolas com notas de exames nacionais mais elevadas. É essa a informação dada pelos rankings esta semana publicados. Ou seja, a classificação dos alunos é transformada em classificação das escolas. A informação deixa certamente muito satisfeitos os pais que têm filhos nas escolas de topo. Acontece que a eventual qualidade da escola é apenas uma entre muitas variáveis que explicam boas prestações académicas. O mérito pessoal, a origem social e a localização geográfica são, pelo menos, igualmente relevantes. Aliás, se todos os anos "descobrimos" que as escolas privadas lideram os rankings, tendemos a não reparar que há uma outra clivagem mais persistente, a que separa as escolas do litoral das do interior, independentemente de serem públicas ou privadas.
Que fazer perante estas desigualdades? É-nos frequentemente dito que a liberdade de escolher a escola resolveria parte dos problemas. Será verdade? Provavelmente não.
Desde logo porque nem todas as famílias estão na posse da informação que permite escolher de modo adequado, mas, acima de tudo, há poucos professores bons que queiram leccionar nas escolas más e não há oferta de qualidade que se queira deslocar para os lugares mais difíceis. Os rankings só são úteis se discutirmos os factores que verdadeiramente explicam o mérito e o demérito nos desempenhos escolares dos alunos e não nos limitarmos a ordenar escolas em páginas de jornais. Pode ser que depois sejamos capazes de intervir, de facto, nesses factores.
publicado no i.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

the best American songwriter currently working


"One of the reasons Darnielle is the best American songwriter currently working is that he refuses to settle for the easy emotional beats in whatever story he’s telling. He uncovers the same desperation, doubt, and grace in Biblical narratives that he did in a squalid, shut-in house of meth addicts, because people in Darnielle’s songs, whether loving or hateful or outright psychotic, are always first and foremost human." vale mesmo a pena ler o resto do texto, como vale também uma leitura este.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Onde está o Brian Wilson?



e a Victoria Legrand que quase arrisca um passo de dança (tudo anteontem no Conan O'Brien).

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Sinais de mudança

Se tivermos em conta que, entre os presidentes que se recandidatavam, havia perto de duzentos que estão legalmente inibidos de concorrerem em 2013 (por força da lei da limitação dos mandatos), abriu-se uma janela de genuína renovação daqui a quatro anos. Neste contexto, a dificuldade que o PC tem revelado para substituir os seus autarcas de referência pode anunciar um definhamento autárquico dos comunistas. Em 2013 poderemos assistir a um reforço da bipolarização do mapa autárquico (contrariando por exemplo a tendência das legislativas e também das europeias), combinado com muitas transferências de poder entre os três partidos com expressão autárquica.
do meu artigo no Diário Económico.

E o peru sou eu?

Durante duas horas, quatro directores de órgãos de comunicação social de referência estiveram entretidos numa conversa para adormecer perus (eu próprio cheguei a adormecer) sobre sondagens, a pertinência do dia de reflexão e outras questões candentes. Depois, já passava da meia-noite, ultrapassados os preliminares, começaram a falar sobre o que era o verdadeiro tema do programa (ainda o caso das escutas e o mail do DN). Qual é o critério jornalístico que terá levado a que isto tenha sido assim?

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Uma escolha pura

A proximidade entre legislativas e autárquicas tornou as eleições de ontem numa escolha “pura”. Não apenas era difícil que as autárquicas servissem para expressar um voto de protesto ao Governo (que ainda não existe), como as diferenças em alguns concelhos muito populosos entre o voto nas legislativas de há duas semanas e as eleições de ontem revelam a maturidade do eleitorado, capaz de distinguir os dois actos.
As autárquicas serviram também para consolidar um padrão com lastro histórico em Portugal. Quem exerce o poder executivo e se recandidata a um novo mandato, ganha. Com algumas excepções, foi isso que aconteceu: um mapa autárquico que, em importante medida, replica o de 2005. Sendo que, ainda assim, o PS conquistou, quer ao PSD (ex. Ourém e Leiria), quer ao PC (ex. Beja) autarquias que se mantinham estáveis desde há muito.
Depois, ontem ficou demonstrada a dificuldade de enraizamento do BE como partido autárquico, particularmente visível quando o PS se afirma com partido âncora à esquerda, como aconteceu com Costa em Lisboa (de facto coligado com o “alegrismo”). Também o PC teve uma quebra em concelhos simbólicos, mostrando dificuldade em substituir os seus autarcas modelo – problema que se acentuará em 2013. Finalmente, a derrota de Lisboa – que poderia ser a única tábua de salvação para Ferreira Leite – torna o processo de sucessão no PSD uma inevitabilidade.
publicado no Diário Económico de hoje (escrito ontem às 22 horas, quando ainda não era perceptível a extensão da vitória do PS).

sábado, 10 de outubro de 2009

Uma sociedade decente

Num país que é dos mais desiguais da Europa, o combate à pobreza deveria estar no topo da agenda política. E na verdade em Portugal está, mas pelas razões erradas. O que deveria ser motivo de indignação colectiva - as centenas de milhares de famílias que vivem abaixo do limiar de pobreza ou que não têm acesso a um conjunto mínimo de oportunidades - não o é, ao mesmo tempo que o rendimento social de inserção é sujeito a ataques políticos diários, que combinam demagogia desbragada com insensibilidade social.
É claro que há fragilidades na aplicação do RSI, como aliás acontece em todas as políticas públicas. Mas aquelas não diminuem nem o alcance da medida na diminuição da severidade da pobreza, nem o conjunto de oportunidades de inserção de que beneficiaram milhares de famílias ao longo da última década. Falar em "preguiçosos", para usar a terminologia de Portas, ou em "subsídio-dependentes", de acordo com Rui Rio, é esquecer que 60% dos titulares da prestação têm outros rendimentos, maioritariamente porque estão no mercado de trabalho, e que 80% dos beneficiários estão envolvidos em programas de inserção com vista à sua aproximação à vida activa. Acima de tudo, ignora que a prestação média é de 90 euros por beneficiário. Lançar este anátema sobre todos os que vivem com tão poucos recursos materiais é um acto de violência simbólica, impróprio de uma sociedade decente.

publicado no i.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

O segundo na lista

As autárquicas são, de facto, eleições uninominais. Elege-se uma lista, mas na verdade está-se a escolher o presidente de câmara. É também esta personalização que leva a que o presidente recandidato seja, inevitavelmente, reeleito. Não por acaso, pouco mudará no poder autárquico no próximo domingo. Dos 308 presidentes de câmara no poder, a larga maioria recandidata-se e, salvo raríssimas excepções, terá a reeleição assegurada. No poder executivo, a renovação tem de ser imposta por lei. É o que, em boa hora, acontece em Portugal desde 2005: os presidentes de câmaras municipais passaram a só poder ser eleitos para três mandatos consecutivos.
Esta limitação de mandatos tem consequências: há perto de 200 concelhos onde os presidentes, caso ganhem as eleições de domingo, se preparam para iniciar o seu último mandato, ficando impedidos de se recandidatar em 2013.
Mas uma coisa é também conhecida sobre o modo como os dinossauros do nosso poder autárquico gerem a sua própria sucessão. Quando se aproxima o fim de ciclo, abandonam o mandato a meio, entronizando o seu número dois, que depois se candidata na posição vantajosa de presidente em exercício. É isso que faz com que, no próximo domingo talvez valha a pena, um pouco por todo o país, esquecer por um momento quem é o primeiro da lista e olhar atentamente para quem aparece em segundo lugar. Em cerca de 200 concelhos, o mais provável é que o discreto número dois seja o presidente daqui a não muito tempo.
publicado no i.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Liberdade, Igualdade e Fraternidade


ontem, a República foi celebrada como deve ser.

A Europa a votos

A questão é que se ninguém quer hoje expor a Europa ao voto popular, a responsabilidade das políticas europeias neste receio é marginal. O problema é, no essencial, da apropriação que é feita da Europa pelos governos nacionais.
do meu artigo de hoje no Diário Económico.

sábado, 3 de outubro de 2009

Uma situação inédita

Esta semana a associação sócio-profissional dos juízes classificou a decisão do conselho superior da magistratura de congelar a progressão na carreira do juiz Rui Teixeira como "uma situação inédita". Mas os representantes dos juízes vão mais longe: os seus pares que votaram favoravelmente a decisão perderam "irreversivelmente a legitimidade" e, como se não bastasse, o mesmo é válido para os outros membros do conselho. Há cerca de um ano houve, de facto, uma situação inédita: um juiz classificou como "erro grosseiro" a decisão de um outro juiz e condenou o Estado a indemnizar a vítima dessa decisão em mais de 100 mil euros. O Ministério Público recorreu e o recurso encontra-se pendente.
Perante este contexto, o bom-senso aconselhava a que se suspendesse a decisão de fazer ou não progredir na carreira o juiz em causa até à decisão do recurso.
Afinal, será aceitável que quem lesou individualmente um cidadão (prendendo-o sem nenhuma justificação) e colectivamente todos nós (que suportamos a indemnização) seja recompensado na sua carreira profissional? Em qualquer profissão, ninguém hesitaria em responder que não. Mas para os sindicatos de magistrados, já se sabe, os seus pares foram ungidos e estão acima de qualquer forma de responsabilização. A tal ponto que não toleram que um conselho, hoje aliás constituído maioritariamente por magistrados, tome uma decisão, por nove votos a favor e dois contra, que assenta apenas no bom senso.
publicado no i.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

The Permanent Efficacy of Grace


Tudo indicia que este seja o primeiro video de vários, a acompanhar aqui, nos próximos dias.

O Presidente no seu labirinto

Por motivos que permanecem insondáveis, o Presidente da República foi-se deixando enredar num labirinto. A declaração desta semana, em lugar de contribuir para ajudar Cavaco Silva a encontrar uma saída não foi clarificadora, lançou novas dúvidas e revelou um Presidente hiper-susceptível à disputa política.
Continuamos sem perceber se as notícias sobre a alegada vigilância de Belém têm ou não fundamento, se foram uma invenção da fonte da casa civil ou, afinal, não passaram de uma inventona do Público. Ficámos, contudo, a saber que, numa terça-feira do ano de 2009, um Presidente de uma República do mundo ocidental descobriu que o seu computador é vulnerável e pode ser violado. Mais, sentiu necessidade de transmitir aos seus concidadãos essa insólita descoberta.
Mas, acima de tudo, quando precisávamos, mais do que nunca, de ter na Presidência um referencial de estabilidade, Cavaco revelou-se despeitado porque, em plena pré-campanha eleitoral, um par de deputados socialistas cometeu o pecado de "encostá-lo" ao PSD.
Se bem percebi, em última análise, Cavaco respondeu com uma tempestade institucional a uma declaração política que tem tanto de legítima como de desastrada: havia membros da casa civil a participar no programa eleitoral do PSD. Não deixa de ser reveladora a perturbação presidencial com o tema, mas temo que, chegado aqui, Cavaco já não encontre a ponta do novelo que o leve de volta à saída.
publicado no i.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Acabar o mandato com dignidade

Ontem, ainda meio estonteado com a mais insólita das declarações políticas que me foi dado ouvir, disse isto. Mas na verdade, o essencial está dito neste video (via Tiago Tibúrcio)

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Dêem-me vida



Este blog podia acabar aqui.

Tempos sombrios

O novo parlamento cria um contexto que desresponsabiliza individualmente os partidos de esquerda, que não se sentirão pressionados para contribuir, cada um por si, para a governabilidade; e representa uma ameaça para o PS, se optar por procurar o apoio à direita. Como, aliás, revelam os resultados eleitorais na Alemanha, quando o centro-esquerda se alia à direita, as perdas eleitorais à esquerda tornam-se inevitáveis. Esta assimetria nas relações do PS com a direita e com a esquerda num parlamento com clara inclinação à esquerda, colocará, paradoxalmente, dilemas políticos de difícil superação. Ficámos com um parlamento onde todos ganharam, mas onde a soma das vitórias parciais pouco contribui para a governabilidade e para responder aos problemas do país.

do meu artigo de hoje no Diário Económico.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Lucy in the sky

Morreu Lucy O'Donnel, aka the girl with kaleidoscope eyes, a colega de Julian Lennon que, contra todas as especulações, inspirou de facto o pai John.

Dilemas

Se tivessem de escolher entre este original



e este cover



o que é que faziam? (tendo conhecido primeiro o cover e só depois o original e sendo também uma escolha entre um tipo com uma camisa e um ar decentes e uma mulher incrivelmente bonita)

atenção que o assunto é sério.

sábado, 26 de setembro de 2009

Mais realistas que os realistas


“Eu, pessoalmente, queimaria todos os livros israelitas que encontrasse numa biblioteca”. A declaração é de Farouk Hosny, Ministro da Cultura do Egípcio há mais de vinte anos, conhecido pelo seu sólido curriculum de declarações anti-semitas, actos censórios e atentados aos direitos das mulheres. O poeta alemão Heinrich Heine escreveu que “onde se queimam livros, acabará por se queimar pessoas”. A história, infelizmente, foi-lhe sempre dando razão.
E não é possível não recordar a história quando o Governo português apoia Farouk Hosny para Director-Geral da Unesco. O embaixador português na UNESCO, Manuel Maria Carrilho recusou-se a acatar a decisão do Palácio das Necessidades, tendo sido substituído na votação por um diplomata de carreira. No fim, ironia do destino, o candidato egípcio, contra as expectativas, acabaria por ser derrotado pela candidata búlgara. Claro que a culpa da derrota foi das forças sionistas.
Do pouco que se sabe, o voto português teria como troca o apoio egípcio à candidatura de Portugal a um lugar não-permanente no conselho de segurança da ONU para o biénio 2011-2012. Não sei se será exactamente assim, mas o que sei é que a diplomacia portuguesa revela sempre uma incansável tendência para ser mais realista que os realistas. Sofremos do síndrome dos bons alunos, mas sem benefícios e à custa de princípios inegociáveis. E se há alguma coisa inegociável é não tolerar quem pondera queimar livros.
publicado no i.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

yes, you can call me anything you want

Humbug dos Arctic Monkeys não precisava de ter mais nenhuma música para além de Cornerstone para ser um grande álbum. E tem muitas grandes músicas para além de Cornerstone.

É da natureza dele

Quando se candidatou à Presidência, Cavaco Silva fez da cooperação estratégica o alfa e o ómega do que seria o seu papel em Belém. Hoje, é claro que, enquanto o PSD teve lideranças nas quais Cavaco Silva não se revia, a acção de Belém foi de facto instrumental na capacitação do Governo para levar a cabo políticas estratégicas para o País. Mas, uma vez resolvida a questão interna do PSD, a natureza táctica da cooperação saltou à vista.
O problema de Ferreira Leite é que, como aliás aconteceu no passado, quando os Presidentes procuram tutelar o seu espaço político, os resultados não são famosos. Naturalmente que ninguém esperaria que se chegasse tão longe, ao ponto de, aparentemente, se ter tentado, com a conivência ou não de Cavaco, não se sabe, um ‘putsch’ por meios mediáticos.
A meio da semana, quando o que restava era compensar os danos colaterais da demissão de Fernando Lima, Pacheco Pereira apelou a que Cavaco dissesse tudo o que tinha a dizer sobre o tema. Fazia sentido: era a única saída viável para a posição em que o PSD se colocou ao focar a campanha na verdade, quando o que preocupa os portugueses são as questões económicas e sociais.
O apelo, contudo, embateu num obstáculo. Cavaco Silva, com o seu característico realismo, já estava a pensar em segunda-feira. Deixou cair Fernando Lima, como havia deixado cair Fernando Nogueira e, pelo meio, foi Ferreira Leite que ficou sem discurso e sem campanha.
publicado no i.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

What's left



Nos sessenta anos, born to run no mítico concerto no hammersmith odeon. a primeira vez na Europa, com uns tenros 26 anos.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

A dissolução

Cavaco Silva, depois de ter estado quatro dias em estado de negação perante o mais grave conflito institucional da história da democracia portuguesa, sacrificou o seu assessor e homem de confiança há largos anos. Será que é suficiente para apagar os estragos entretanto feitos?

do meu artigo de hoje no Diário Económico.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Expansão da procura externa


Hi Pedro
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sábado, 19 de setembro de 2009

Uma conversa de merda

Sinceramente, já não há paciência para esta conversa de merda. Ontem, a drª Ferreira Leite, num dia em que as declarações delirantes se sucederam a um ritmo vertiginoso, vindas de vários lados, entre várias pérolas, disse isto: "Aquilo que o PS trouxe foi medo, medo. As pessoas têm medo. (...) Cada um de vós, tenho a certeza, se é funcionário público, se é professor, se trabalha num hospital, se tem amigos com quem costuma falar ao telefone, em todas as situações já disse: cuidado, que ninguém nos oiça, eu não te posso contar isto porque se calhar o meu telefone pode estar em escuta."
Há coisas que convém ser recordadas: enquanto estas afirmações assentam apenas num conjunto de suspeições, sem qualquer facto ou indício que as comprove (e por isso são, ao mesmo tempo, irresponsáveis e graves), houve de facto uma direcção partidária que comprovadamente esteve sob escuta. Dá-se o caso de ter sido do PS.

ai, ai, ai, ai, ai, ai, que não pode ser

Na sequência da publicação do email de Luciano Alvarez para Tolentino da Nóbrega pelo DN, muitos jornalistas têm-se indignado com a violação da correspondência privada entre dois jornalistas e a não protecção de uma fonte de outro jornal. A indignação faz todo o sentido, mas não deixa de ser curioso que seja a mesma classe profissional que quotidianamente viola a privacidade de um sem número de pessoas que agora se indigna. Não será apenas porque desta vez o "violado" foi um jornalista?

O ocaso no Verão

Em Agosto, a história parecia um caso de Verão, passageiro e equívoco. Quando Cavaco Silva disse que as escutas estavam a desviar as atenções do essencial, a declaração parecia sensata e desautorizava as fontes de Belém invocadas pelo Público. Passada a época das tontarias, no Domingo passado o Provedor do Leitor do Público revelou que as alegadas escutas não se baseavam em qualquer "indício palpável", para além "de um indício, sim, mas de paranóia, oriunda do Palácio de Belém". Mais, todas as informações recolhidas pelo correspondente do jornal na Madeira que contradiziam a fonte de Belém haviam sido ostensivamente ignoradas aquando da publicação das notícias. Entretanto, ontem, o DN revelava um e-mail onde se dá conta do modo como, alegadamente, um assessor de Cavaco plantou a notícia.
Tudo sugere que estamos perante um gravíssimo episódio de manipulação política do jornalismo e um acto institucionalmente inaceitável. Como é hábito, entre explicações delirantes, ninguém assume responsabilidades, mas as consequências são já claras: o que aparentava ser um caso tonto tornou-se no ocaso da superioridade moral de Cavaco Silva. Quando mais precisávamos de um Presidente capaz de contribuir para a solidez institucional, ajudando a formar um Governo sólido, que supere a inevitável fragmentação eleitoral, teremos um Presidente fragilizado na sua principal mais-valia: a credibilidade.

publicado no i.