"I hope the fences we mended
Fall down beneath their own weight"

John Darnielle

padaoesilva@gmail.com

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Oops, they did it once again



Fallon e Timberlake e a história do rap (versão 3)

Mais vale tarde do que nunca

"(...) a opção de Vítor Gaspar é intensificar a estratégia seguida até aqui, com um optimismo cego em relação aos efeitos recessivos dos cortes. Acontece que o orçamento para 2011 não era exequível, do mesmo modo que o memorando assenta em pressupostos errados e este orçamento só agrava estes problemas. O que nos traz de novo a Cavaco Silva. O Presidente tem inteira razão, mas ainda não extraiu um corolário lógico do seu discurso. Um político realista estaria a lutar pela reavaliação do memorando e a renegociar os prazos da sua aplicação. Todas as alternativas a esta opção assentam num voluntarismo ideológico contraproducente. Agora, o governo ainda pode responsabilizar Sócrates, daqui a um ano estará na mesmo lugar, mas em pior situação orçamental e sem poder recorrer ao bode expiatório que agora está mesmo à mão de semear. Já em Portugal, estaremos mais pobres e sem termos resolvido o problema da dívida e do défice."

o resto do meu artigo do Expresso da semana passada pode ser lido aqui.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Um concerto em apneia



Lembro-me bem do meu primeiro contacto com o Bonnie Prince Billy. Por uma recomendação na Contraverso – ainda do tempo em que os discos eram comprados e recomendados em discotecas – comprei o primeiro dos Palace Brothers, já lá vão uns vinte anos. O disco era sujo, fragmentado, arrastado em alguns instantes, mas tinha também momentos cheios de luz, acima de todos um notável ‘king me’ (“I can't hear it play fast no more” era uma espécie de mantra para o slow-core que então conquistava espaço). Não aderi logo, longe disso. Mas foi há vinte anos e o Bonnie Prince Billy de hoje (na verdade o de ontem no Maria Matos) está suficientemente distante do de há duas décadas. O que se viu ontem foi um cantor rendido a uma placidez country, com arranjos limpos, emparelhados por harmonias vocais femininas, que só em breves fogachos regressa às canções por construir do passado. A este propósito, o percurso de Bonnie Prince Billy é uma espécie de reverso do de Tom Waits: enquanto o último se foi afastando das canções, fechando-se num ensimesmamento que tem tanto de genial como de claustrofóbico e desconfortável, Will Oldham foi encontrando progressivamente nas canções depuradas o seu espaço. Ontem, enquanto tocava várias músicas do novo Wolfroy Goes to Town (um óptimo disco e provavelmente o mais coerente entre os últimos, mas que ao vivo já é muito diferente da versão de estúdio que acabou de sair), revelava-se um cantor cada vez mais canónico, perfeitamente integrado no cancioneiro norte-americano. Mas, depois, por breves instantes, regressava uma tensão dramática e desintegradora, à qual não escapava quase nenhuma canção. Em pouco mais de duas horas, viveu-se sempre o conflito entre, por um lado, os espaços abertos pela tranquilidade das canções conservadores e, por outro, o fechamento e a negritude que espreitavam quando se descobriam as guitarras a puxar para o lado errado e a destruir as canções que se queriam revelar destiladas. Não foi sempre assim, mas houve longos períodos em que foi necessário suster a respiração para seguir a música do princípio até ao fim. “You want that picture”, “another day full of dread” e “after I made love to me” foram exercícios de apneia que vão deixar marcas em quem esteve ontem no Maria Matos. Não é muito difícil identificar um génio.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Por favor, apoiem-nos

"A notícia é do final da semana passada e a indiferença com que foi recebida é um sintoma grave da passividade reinante. Em comunicado, o gabinete do primeiro-ministro anunciou, deixando transpirar um tom de satisfação, a criação de um “grupo de apoio a Portugal” com vista a “assessorar o executivo português na agilização dos fundos comunitários”. No mesmo comunicado ficámos a saber que a equipa teria cinco pessoas em permanência em Lisboa a trabalhar junto do Ministério das Finanças e da Esame (a estrutura que acompanha a implementação do memorando), coordenadas desde Bruxelas.
No fundo, depois da perda de soberania com o memorando de entendimento, o governo acaba de assumir a falência técnico-administrativa do Estado. O que nos é dito é que há uma equipa de peritos estrangeiros que vem fazer agora o que fomos capazes de fazer durante décadas: programar, gerir e implementar fundos comunitários. Que isto seja requerido pelo governo e aceite silenciosamente por todos é revelador do pouco respeito que temos pela nossa própria soberania. Pelos vistos, a nossa administração pública perdeu as suas capacidades e ninguém o fez notar.(...)"
o resto do meu artigo do Expresso da semana passada está aqui.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

only the truth and nothing but the truth



"Morrissey is as arrogant as they come! Even to this day, he thinks we're all beneath him. And Johnny Marr believed he was the best because he is the best."
Noel Gallagher dixit

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Seguível

com assinalável atraso, a minha actividade pode agora ser acompanhada no twitter. sintam-se livres para me seguir.

Afundar o Estado

"O papel estratégico do Estado precisa de ser repensado. É uma evidência que salta aos olhos de qualquer um – por força do défice de sustentabilidade financeira, por alterações profundas do contexto para o qual foram pensadas muitas das políticas públicas e, não menos importante, por existirem demasiados casos de péssima gestão, nomeadamente no sector empresarial do Estado. Mas uma coisa é contrariar o imobilismo dos que fingem que tudo vai bem, outra, bem diferente, é aproveitar o actual contexto para inviabilizar a reabilitação do Estado. Infelizmente, são demasiados os exemplos em que se evita repensar as funções do Estado, optando por deslegitimar a sua acção, fazendo com que ele não aja de boa fé. É um caminho soez para concretizar o projecto ideológico de um Estado mínimo. Há muitos exemplos deste tipo de actuação. (...)"
o resto do meu artigo do Expresso da semana passada está aqui.

sábado, 15 de outubro de 2011

Já somos a Grécia

Até há dias, a estratégia do governo passava por diferenciar Portugal da Grécia. Paradoxalmente, para evitar sermos vistos como a Grécia, a solução agora proposta é a mesma que levou ao descalabro económico e social que se vive nas ruas de Atenas. O fim dos subsídios de férias e de Natal, a somar a todos os outros cortes salariais e aumentos de impostos, terá inevitavelmente duas consequências: o colapso da procura interna e uma recessão ainda mais profunda do que o previsto. Entrámos definitivamente numa espiral recessiva que nos deixa apenas uma garantia – ao fundo do túnel, encontraremos um túnel ainda mais longo e escuro. Com o que se anuncia para o Orçamento de 2012, Portugal passou a ser a Grécia.
O primeiro-ministro justificou os cortes bem para além da Troika com base num conjunto de surpresas que terá encontrado. Nenhum dos documentos de execução orçamental conhecidos dá cobertura às afirmações de Passos Coelho. O único desvio conhecido resulta da Madeira, do BPN e da degradação da receita fiscal, fruto da austeridade adicional. Até prova em contrário, o elemento de surpresa é o conjunto de mitos em que assentou a campanha eleitoral do PSD. Recuperar as justificações de Passos Coelho para chumbar o PECIV é penoso e fragiliza hoje a capacidade política do primeiro-ministro. Da austeridade que era excessiva passámos, como por arte mágica, para uma austeridade necessária. Para quem se alcandorou na verdade, estamos falados.
A receita que nos é oferecida é um caminho para o desastre e assenta num voluntarismo que recupera o pior dos amanhãs que cantam. Não é possível vislumbrar nenhum círculo virtuoso nesta solução: as receitas do Estado só poderão retrair-se, o défice e a dívida tenderão a crescer em % do PIB, a economia colapsará e as famílias ficarão bem mais pobres, com o desemprego a disparar para valores que não encontram paralelo na sociedade portuguesa das últimas décadas. Tudo em nome de uma austeridade expansionista que não passa de uma ambição ideológica, desprovida de sustentação empírica – particularmente num contexto de crise económica que nos deixa dependentes de exportações que nunca poderão compensar todas as outras perdas.

comentário ao que se conhece do Orçamento para 2012, publicado hoje no Expresso.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Por agora abstenho-me, amanhã já não o farei

Ainda estou a tentar refazer-me do choque, pelo que comentários sobre o orçamento ficam para amanhã às 22 horas na SIC-n, Sábado no Expresso ao pequeno-almoço e às 11 horas da manhã na TSF.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Christa Päffgen (aka Nico)




Nenhuma Lana del Rey alguma vez será capaz de inspirar algo que se assemelhe a isto.

Desde a Jessica Rabbit que não se via nada assim



Quando há um mês ou assim pela primeira vez ouvi e vi (as duas coisas aconteceram necessariamente em simultâneo) a Lana del Rey, tive a reacção que todos devem ter tido. Fiquei suspenso pela entrada da música, pela voz e aspecto da rapariga e pela sequência de imagens que, enquanto sugeriam elementos de modernidade (o skater que cai), remetiam - se nada mais cromaticamente - para um passado mitificado de festas, glamour e mulheres bonitas (que provavelmente nunca existiu nos termos que são sugeridos). O problema vinha logo depois (ainda a música ia a meio): tudo aquilo é tão construído (desde logo a boca da rapariga) que rapidamente assume um lado de caricatura. Esta semana, a Lana del Rey reapareceu, em versão musicalmente despida, no Jools Holland. E a sensação que fica é a mesma: um entusiasmo inicial que logo se desvanece. A ideia é de facto boa, mas temo bem que não chegue com a força necessária ao disco e à carreira que se deveria seguir. A fatalidade sustentável precisa de uma certa dose de autenticidade. A que falta à Lana e que, por exemplo, a Margo Timmins e a Cat Power têm. No fundo, não tem a autenticidade fatal que tinha a Nico quem quer.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

o que tenho andado a ler

- e se as inclinações políticas individuais forem explicáveis pelas ciências neurológicas? Andrea Kuszewski deixa algumas pistas (em todo o caso, continuo convencido da validade da hipótese de Woody Allen em 'everyone says I love you') .

- como é que a Grécia pode escapar ao euro? No NY Times, Floyd Norris descreve os vários cenários.

- E Bonnie Prince Billy deu uma única entrevista a propósito do novo 'wolfroy goes to town' (um óptimo disco que passará por lisboa daqui a umas semanas). a entrevista abre com a justificação que eu procurava para o facto de ouvir música em permanência (It keeps the voices quiet in the head).

- Richard Prince escreve sobre o pintor Bob Dylan, a propósito de uma exposição recente ("the reclining figure in a painting of his called Opium looks that way because there’s a limitation in Dylan’s ability to draw and paint the figure. And that’s why it’s good. He doesn’t try to hide what’s limited and instead uses that limitation to try to make it his own, to try to make it look different and new. Remember that Dylan once said he could sing as well as Caruso.").

Coisas que nem um Camões é capaz de mudar

um filho da puta será sempre um filho da puta.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Once there was a way to get back home (again)

Eu tenho um sonho: a recessão

"(...) Numa entrevista posterior à Forbes, Rastani confessou-se estupefacto com as ondas de choque da sua aparição televisiva – “eu estava convencido de que toda a gente tinha presente este tipo de coisas”. Pelos vistos, não. Até porque é difícil encontrar três minutos e meio tão eficazes na demonstração de que os mercados são agentes racionais (procuram maximizar as oportunidades de lucro) mas que da soma das suas acções não resulta nenhuma racionalidade (a natureza sistémica da crise) e de que a actos individuais racionais não correspondem necessariamente comportamentos movidos pela ética."

o meu artigo do Expresso da semana passada pode ser lido aqui.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

um parágrafo que vale bem um Nobel

MADRIGAL

Herdei uma floresta obscura, onde raramente vou. Porém, há-de chegar o dia em que os mortos e os vivos trocam os seus lugares. Então, a floresta põe-se em movimento. Nós não existimos sem esperança. Os maiores crimes ficam por esclarecer, apesar da mobilização de tantos polícias. Da mesma maneira, há algures, na nossa vida, um grande amor que fica por esclarecer.
Herdei uma floresta obscura, porém, hoje vou à outra floresta, que é clara. Tudo está vivo, tudo canta, serpenteia, abana e rasteja. É Primavera , o ar é robusto. Fiz os meus exames na universidade do esquecimento, tenho as mãos vazias como uma camisa num cordão de estender roupa.

[versão de Luís Costa, descoberta no blog do Zé Mário]

Custa-me muito tirar o Morrissey daqui

mas recomendo vivamente a audição desta entrevista do Pedro Silva Pereira. Em particular a parte sobre a Madeira (bem como as restantes).

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Estranhamente, mais uma vez preterido

o que tenho andado a ler

- Tim Parks descreve a tarefa hercúlea e também absurda que é escolher o Nobel da literatura. Provavelmente, atribuir o prémio a um poeta sueco é a escolha mais racional para os membros da academia.

- uma exaustiva reflexão de Bill Wyman em torno do documentário de Martin Scorcese sobre George Harrison, que estreia por estes dias na HBO.

- Um notável artigo de George Soros no NY Review of Books, na primeira parte, uma excelente descrição da crise da zona euro e, a terminar, uma saída possível, assente na recapitalização da banca, na protecção de todos os depósitos em euros (mesmo nos países em que o default é uma possibilidade real - Soros não coloca de fora essa possibilidade para Portugal) e na necessidade imperiosa de passar a supervisão bancária para a esfera europeia (e pelo caminho, Passos Coelho já pode levar para casa uma medalha: aparece numa foto no NYRB).

- No Washington Post, John Kornblum (ex-embaixador norte-americano na Alemanha) mostra, mais uma vez, que quem olha para a Europa desde os Estados Unidos tem hoje mais lucidez do que a ortodoxia europeia. O título é sugestivo: "Without the euro, would Europe have turned to war?"

Ele era o meu amigo de todos os dias


O meu trabalho é profundamente solitário. Já lá vão bastantes anos desde que comecei a trabalhar em casa. Estou mesmo convencido que já não serei capaz de trabalhar de outro modo. Adiante. Acontece que, ao longo destes anos, houve alguém que esteve presente todos os dias e em todos os momentos: o Steve Jobs. Trabalho num Mac – que me ensinou a utilizar o computador de outro modo -, ouço música no iTunes, em playlists aleatórias, seleccionadas entre as 10599 canções que neste momento tenho no disco externo, e nos transportes públicos não dispenso o Ipod – para mim a melhor invenção desde que o Jack O’Neill inventou os fatos de neoprene -, de há meses para cá, tornei-me dependente do iPad, onde pela primeira vez leio jornais e revistas como se os estivesse a ler no papel. O Steve Jobs reinventou a minha forma de escrever, de ler e de ouvir música. Muito provavelmente, sem ele eu não tinha conseguido habituar-me tão facilmente a trabalhar sozinho. Também por causa dele, sei que dificilmente voltarei a não trabalhar sozinho.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Nas costas do povo, mas na antena da TSF

Alberto João Jardim relacionou os ataques à Madeira com um acordo de Bloco Central feito nas costas do Povo. À boleia de Jardim, aproveito para anunciar que o Bloco Central, onde eu e o Pedro Marques Lopes nos juntamos, moderados pelo Paulo Tavares, regressou à TSF, com novo horário - ao Sábado, às 11 da manhã, com repetição à meia-noite. A última edição pode ser escutada aqui.

Coisas que, ainda assim, me dão alguma esperança



Se até a justiça italiana é capaz de fazer um mea culpa, quem sabe a portuguesa, também neste aspecto, não seguirá, um dia, na sua esteira.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

custa a perceber

"Custa muito a perceber a razão por que os candidatos a primeiro-ministro se empenham em fragilizar as condições em que mais tarde vão exercer o cargo. Infelizmente, nunca saberemos se o fazem movidos por puro eleitoralismo ou se se trata apenas de impreparação."

a versão integral do meu artigo do Expresso da semana passada está aqui.