"I hope the fences we mended
Fall down beneath their own weight"

John Darnielle

padaoesilva@gmail.com

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Presos numa encruzilhada

"(...) Este Tratado visa consagrar a hegemonia da direita liberal à custa da capitulação política das restantes mundividências. Há uma diferença significativa entre um consenso desejável em torno da necessidade de consolidação das contas públicas e uma homogeneização que afasta as possibilidades dos Estados-membros decidirem o modo como alcançam a disciplina orçamental e que tipo de Estado social desejam. As consequências são evidentes: se o Tratado for para levar a sério, os Estados-membros menos desenvolvidos ficam privados dos mecanismos de política económica que tornam possível recuperar atrasos, ao mesmo tempo que continuam a não ter os instrumentos financeiros desejáveis, característicos de um sistema federal. No fundo, alienamos soberania, sem qualquer tipo de contrapartidas. Ainda assim, há uma réstia de esperança. No essencial, estamos perante uma institucionalização da hipocrisia: não só os preceitos do Tratado não visam responder às dificuldades que enfrenta a zona euro hoje, como não vão ser cumpridos pelos mesmos governos que agora os subscrevem (dos 25 Estados, apenas quatro cumprem, neste momento, o número mágico para o défice estrutural – sendo que Alemanha e França não fazem parte do grupo). No seu livro póstumo, Thinking the Twentieth Century, Tony Judt, numa conversa com o também historiador Timothy Snyder, deixa-nos uma espécie de lamento céptico: “é provável que, enquanto intelectuais e filósofos políticos, estejamos perante uma situação em que a nossa tarefa principal não é imaginar mundos melhores, mas, antes, pensar como é que podemos prevenir mundos piores”. No fundo, como mostra a discussão política na Europa de hoje, é isso que nos resta." o resto do meu artigo do Expresso de 14 de Abril pode ser lido aqui.

terça-feira, 17 de abril de 2012

A tempestade perfeita no PS


"A sucessão de mini-crises no Partido Socialista, que teve esta semana o seu apogeu, pode ser lida como fruto da incapacidade de afirmação de António José Seguro, mas é bem mais do que isso. O PS enfrenta uma tempestade perfeita onde dificuldades estruturais se conjugam com obstáculos conjunturais e incapacidade da actual direcção.
Acima de todos os problemas circunstanciais, os socialistas enfrentam um de natureza estrutural, que dura já há algumas décadas. O sucesso político da esquerda democrática durante a segunda metade do século XX foi fruto de um contexto social, demográfico e económico que se alterou profundamente. No mundo de hoje, já distante do ‘liberalismo protegido’ do pós-guerra, a social-democracia passou a ter enormes dificuldades de afirmação. Não por acaso, a sua hegemonia em meados da década de noventa assentou numa agenda modernizadora que rompeu com a tradição e que aparentava ter sido desenhada para um novo contexto. Perante a crise da zona euro e a iminente consagração nos tratados de uma leitura da crise que institucionaliza o projecto político da direita, assistimos a uma capitulação política da esquerda democrática e vivemos as consequências das escolhas feitas pelos governos europeus há perto de uma década, que eram maioritariamente da terceira via.
Independentemente da leitura que possamos fazer das opções recentes, a verdade é que não há uma resposta coerente, do lado da esquerda, aos desafios que hoje se colocam. Até existir esta resposta, torna-se difícil construir um discurso programático consistente onde quer que seja. Portugal não é excepção. A crise, que aparentava ser uma oportunidade para reinventar a esquerda, transformou-se num poderoso mecanismo desagregador. (...)"

a versão integral do meu artigo do Expresso de 6 de Abril pode ser lida aqui.

sábado, 14 de abril de 2012

You Can't Win, Charlie Brown

Os You Can't Win, Charlie Brown passaram pela emissão da semana passada da Zona de Conforto, onde interpretaram Sad Song. Aqui fica o video. A emissão do programa está disponível aqui.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Airports and broken hearts you see,

Aqui há uns tempos tropecei numa música. Parecia-me que o Leonard Cohen tinha, por momentos, despertado de um longo sonho tropical para nos contar os desamores de que tomamos consciência em esperas demoradas em aeroportos. O nome do cantor não podia ser mais desconcertante: Walter Benjamin. Para quem, naquela canção em concreto, cantava sobre a consciência das perdas em viagem, até fazia sentido - tendo em conta que Walter Benjamin, o outro, se suicidou a caminho de Portugal, quando tentava fugir para os EUA, e foi obrigado a regressar à alemanha nazi. Depois, descobri que por detrás de Walter Benjamin se escondia um português radicado em Londres, Luís Nunes, e logo esqueci o pessimismo antropológico ao qual não conseguimos escapar quando nos recordamos da vida e do mundo de Walter Benjamin. Quando, por fim, ouvi na íntegra "The Imaginary Life of Rosemary and Me" tive a certeza que é possível sermos resgatados pelas canções. O disco é curto, pouco mais de 25 minutos para 8 canções, e, desde que o tenho, escuto-o em loop contínuo. Há, na simplicidade destas 8 canções, mesmo que cantadas em inglês, uma espécie de eco longínquo de "um país de bondade e de bruma", que parece encontrar raízes num imaginário doméstico, de onde partem todas as esperanças. Como canta Walter Benjamin a encerrar o disco: "your tiny dances should rule the outside world". É mesmo isso.

também publicado aqui, onde tenho estado bem mais activo.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Olhar para trás

"(...) Talvez um princípio avisado para o reformismo seja não cair na tentação do excesso de experimentalismo. Portugal tem muito a aprender com as soluções dos outros países, com os seus erros e sucessos. Ora, se nada mais, o facto de não existir rigorosamente nenhum país europeu com exames no 4º ano deveria ser motivo para ponderação. Mas, para o governo português, isso parece pouco importar.
É claro que os exames são um mecanismo fundamental para a aferição de conhecimentos e não podemos conceber ensino sem avaliação. Contudo, não são os exames que, por si só, garantem a qualidade da aprendizagem. Ora, hoje já existem provas para aferir os conhecimentos das crianças de nove anos que terminam o 4º ano (com uma avaliação qualitativa).
Esta fixação examinadora, que visaria contrariar a alegada cultura de facilitismo que terá contagiado todo o ensino em Portugal, esbarra nas evidências. Para além dos países que melhores resultados têm nas comparações internacionais serem aqueles que menos e mais tarde examinam, Portugal é também um caso de não facilitismo, apresentando uma das maiores percentagem de jovens até aos 15 anos que chumbou pelo menos uma vez. Os números impressionam: 35% dos jovens portugueses reprovaram, valor bem acima da média da OCDE (13%).
Nesta como em muitas outras matérias, talvez fosse preferível que o Governo, em lugar de encontrar resguardo em diatribes ideológicas, ainda para mais de carácter saudosista, e num maniqueísmo retórico, que só serve para esconder fragilidades programáticas, procurasse aproximar Portugal das boas práticas europeias. Ao olhar para trás, a estratégia do Governo só agudizará a natureza dos nossos problemas e contribuirá para focar o debate político em dicotomias redutoras e extremistas."
a versão integral do meu artigo do Expresso de 31 de Março pode ser lida aqui.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Olhar para trás

"this program provided for a joint metropolitan committee to examine unemployed relief applications and to separate respectable workmen temporarily unemployed from 'ordinary paupers'. For the former, it was hoped that relief work and several rural labor colonies would be provided, although no Exchequer grant was involved and major reliance was placed on private charity.
It was in reaction against this inherited policy that British impetus for labor exchanges and unemployment insurance developed"
Hugh Heclo, a escrever em 1974, sobre o Unemployed Workman Act de 1905 (que viria a ser revogado pelas propostas de Beveridge - aliás apoiado activamente por Churchill-, em 1911, e que criariam o primeiro subsídio de desemprego, tal como o conhecemos hoje)