"I hope the fences we mended
Fall down beneath their own weight"

John Darnielle

padaoesilva@gmail.com

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Da grandeza do glorioso


O Benfica é tão grande, tão grande que até tem uma dinamarquesa fanática pelo clube.

Somos todos da América profunda



Seja lá o que isso for, quem usa casaquinhos destes deve ter andado por lá muito tempo. Não sei se já repararam, mas os Wilco tocam Domingo no Coliseu e se o disco novo é muito bom, ao vivo é que esta rapaziada de facto se revela. Reparem no solo de fazer inveja ao Neil Young (ou será ao Slash?) neste one wing que tem uma versão de estúdio bem mais contida.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Jesus suspende acções do Benfica

Claramente o maior clube deste mundo e do outro.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

A minha estação preferida



"Mesmo que não conheças nem o mês nem o lugar / caminha para o mar pelo Verão"
Ruy Belo

Agora que é Inverno, recupero a memória fotográfica do último dia de férias de Verão. Uma memória que se repete: todos os anos, no dia em que volto as costas às férias, após subir a duna íngreme que me afasta do mar, olho fixamente para trás, como se aquele fosse o derradeiro dia de praia.
Na verdade, regresso muitas vezes àquela mesma praia, mas de facto só um ano depois, quando volta o Verão, é que ela me é devolvida. Só então volto a tomar a praia como minha, reacendendo-se inesperadamente, como num turbilhão, um sopro de felicidade absoluta. É paradoxal que assim seja. É agora no Inverno que as ondas nos chegam mais espaçadas, movendo mais água e com menos vento. É agora o tempo do mar dos surfistas.
“É triste no Outono concluir/ que era o Verão a única estação”, escreveu Ruy Belo em ‘A Mão no Arado’, um dos seus mais espantosos poemas. Naturalmente que o Verão sobre o qual escrevia não era o dos surfistas em dias de ondas quentes. Mas ainda assim, no dilema entre Verão e as outras estações, há invariavelmente alguma coisa que, para quem olha o mar com os nossos olhos, remete para o surf.
O surf dos verdadeiros surfistas é o de Inverno, habituamo-nos a ouvir dizer. É aí que se separam as águas: entre os fortuitos e os que enfrentam as manhãs frias e as ondas com consequências. Eu, pelo contrário, preciso de chegar ao Inverno para sentir saudades do “suave tempo” que tantas vezes desdigo enquanto o vivo. É agora Inverno e olho com um contentamento redobrado para o que ficou para trás: já não tenho presentes os dias e dias de flat em Agosto, ou as sucessivas nortadas que nos atormentam, e satisfaço-me com a recordação de duas ou três ondas quentes e perfeitas. Hoje tenho o Inverno e a certeza de um mar melhor. Mas, tenho também o Verão como única estação. O “Verão sem limites” onde num breve momento podemos encontrar a onda que fixamos na memória. Ainda que fugazmente, só no Verão podemos ambicionar um mundo perfeito para o qual convergem as ondas, o calor na água e a areia soalheira, pronta a retemperar as nossas forças e, acima de tudo, a ausência de sombras.
É por isso que olho para trás no fim de Agosto quando deixo as férias e a praia. Eu sei que vou regressar umas semanas depois àquele mesmo lugar. Mas quando volto, nem me atrevo a olhar com os mesmos olhos. Falta-me o torpor do vento tépido, mas, acima, de tudo, a ausência de sombras que confere uma cor única. Com o sol a pique, não há imagens projectadas e vemos tudo com uma lucidez que não se volta a repetir ao longo do ano.
Se olho uma última vez para a praia, é porque sei que vislumbro ali um tempo parado, batido pelo sol. É um fugaz momento, mas que trago no regresso à cidade. Depois, basta-me fechar os olhos e ficar com a certeza que na memória tenho tudo. O calor, o vento e um mundo de ondas perfeitas. Muitas delas imaginadas.
Estou convencido que a nostalgia de um lugar é mais rica se conservada como nostalgia, como se a sua recuperação significasse a morte da ideia que fazemos desse mesmo lugar. Agora que se passam semanas sem ver mar, vai-me bastando esse pulsar sereno que guardo do dia em que virei as costas ao Verão. Eu, por mim, estou convencido da superioridade daquele último olhar furtivo.

Publicado na coluna Sal na Terra da Surf Portugal.

terça-feira, 26 de maio de 2009

O espelho do BPN

Seis meses passados, é evidente que os trabalhos da comissão se têm centrado na gestão do BPN e têm servido para revelar que a realidade do funcionamento do banco ultrapassava as mais delirantes suposições. Contabilidade paralela, balcões virtuais, ilegalidade puras, negócios ruinosos, desconhecimento pelos accionistas do que era feito na gestão, temos ouvido descrições de tudo. Essencialmente, tem sido espantosa a candura com que alguns dos depoentes descrevem o seu papel em todo o processo. Sobre muitos dos que têm ido depor, fica, até agora, uma dúvida: ou estamos perante campeões da ingenuidade ou vigaristas encartados. Ao contrário do que eu esperava, se bem que se tenha desviado do que era o seu propósito inicial, a comissão de inquérito tem sido muito útil na revelação do caos que imperava no BPN. No entanto, o sucesso da comissão de inquérito ao BPN, apesar de exemplar das virtudes do parlamentarismo, não é motivo para satisfação. Pelo contrário, ele revela, uma vez mais, o falhanço do sistema de Justiça em Portugal.

A menos que algo de surpreendente se esteja a passar na discrição da investigação (algo improvável tendo em conta o tratamento de que é alvo o segredo de justiça entre nós), há sinais de que, em seis meses, se progrediu mais numa comissão de inquérito do que no processo que decorre na Justiça. Agora, o mínimo que se pode esperar é que a Justiça seja capaz de aproveitar o trabalho parlamentar e produzir prova a partir dos factos relatados na comissão.

do meu artigo de hoje no Diário Económico.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Os covers como indicadores


"you cannot tell a book by its cover, but you can tell a band by its covers."
Nic Ratner, a propósito da vida pós-Birthday Party de Nick Cave se ter iniciado com um cover de Avalanche, de L. Cohen. Mas o melhor mesmo é aproveitar o facto do "documentário" lançado com a edição remasterizada dos álbuns iniciais dos Bad Seeds estar hoje e amanhã disponível aqui. O melhor que podem fazer é ouvir tudo.
entretanto, a parte 2 já pode ser vista aqui.

Liderança ou caos

"o que mais tem descredibilizado a Justiça é o comportamento de alguns dos agentes da investigação criminal, que se mostram incapazes de impedir a prática diária do crime de violação do segredo de justiça, revelam cumplicidades vergonhosas com os media em julgamentos sumários nos meios de comunicação social, discutem permanentemente na praça pública as leis a que deviam obedecer e agem na mais absoluta irresponsabilidade. O sindicato do MP comporta-se como dono da Instituição e não mero representante sindical dos seus membros.
A única forma de pôr termo a este descalabro é conferir ao Procurador-Geral - única entidade com legitimidade democrática dentro do MP - a responsabilidade e o poder de pôr ordem na casa e garantir o seu bom funcionamento."
Daniel Proença de Carvalho no Semanário Económico.

sábado, 23 de maio de 2009

Quique fica

Quique falhou este ano. Falhou nas hesitações constantes quanto às posições de vários jogadores, na incapacidade de encontrar uma forma de conciliar Suazo e Cardoso, nas sugestões para contratações (Balboa foi uma invenção sua), mas, acima de tudo, na definição de um modelo táctico que apostava na contenção, num meio-campo consistente, mas pouco ou nada dinâmico, e que parecia pensado para o contra-ataque. Não por acaso, o Benfica não perdeu com o Porto, ganhou duas vezes ao Sporting e outras duas ao Braga. O problema foram mesmo os jogos com as equipas do fundo da tabela. Não é possível ter uma boa classificação com o Benfica e perder sete pontos com os dois últimos classificados. O afastamento de Diamantino e Chalana não foi certamente um bom contributo para ajudar o espanhol a conhecer melhor as equipas portuguesas e a perceber que o contra-ataque não serve para o Benfica para além de dois ou três jogos por temporada. Mas, este ano, como nos anteriores, o treinador foi o menor dos problemas do Benfica. Com uma gestão desportiva adequada, o mais provável era que Quique Flores tivesse tido outra sorte. A sorte que teve, por exemplo, Trap.
Mas como no Benfica é difícil aprender, está em curso uma tentativa de repetir os erros no passado. Criar a ilusão de que se resolve tudo com uma substituição de treinador. Quando o que era preciso era estabilidade no plantel (contrariando a sangria anual, que, no defeso, leva todos os anos os dois melhores da época anterior) e na equipa técnica, o Benfica vai substituir Quique, tudo aponta, pelo "mestre da táctica" Jorge Jesus.
Deixemos de lado a fama que acompanha Jesus no submundo das contratações ou a relação muito peculiar que o técnico bracarense tem com a expressão oral em português (o que convenhamos não é uma qualidade irrelevante para quem treina o Benfica), basta recordarmos o seu curriculum (do Felgueiras ao Moreirense, passando pelo Setúbal). Nem é preciso olhar muito para trás, veja-se o que se passou com o Braga esta temporada. Com um plantel que, no mínimo, compete com o do Sporting, o Braga prepara-se para ficar atrás do Nacional da Madeira e, durante grande parte da temporada, os arsenalistas perderam sistematicamente pontos com equipas com muito menos condições. Enquanto uma nova temporada de Quique seria um sinal de que o Benfica, por uma vez, valorizava a estabilidade e a capacidade de aprender com os erros, com Jesus, volta a aposta numa incógnita, que tem tudo para correr mal, e será certamente acompanhada de duas mãos cheias de contratações, feitas ao gosto do novo treinador. A coisa é de tal modo, que já se fala de um regresso do marcante Tixier ao futebol português para acompanhar Jesus.
Na verdade, talvez seja altura do Benfica, em lugar de mudar de treinador, mudar de Presidente. Até porque há um candidato natural ao lugar: Rui Costa que poderia ser bem acompanhado por José Veiga.

How do you feel today?



H.P. Lovecraft

quinta-feira, 21 de maio de 2009

O vigilante do amor



O Sam Beam, escondido nos Iron & Wine, anda por aí há uns tempos a cantar baixinho mas com uma força que pode levar à conversão. Agora, tem um disco que arruma as versões e os out-takes. Não ouvi. Mas, pela amostra, não foram muitas as vezes em que os New Order soaram assim.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

It’s very natural to me to be agressive with the guitar



"It’s very natural to me to be agressive with the guitar, violent with the guitar. I’m such a big fan of guitar that is really disgusting, gnarly. No other word for it, just gnarly."
St. Vincent

O João Lisboa tem estado envolvido num campeonato de escolha de fotos da St. Vincent. Não é por nada, pese embora alguns exemplares competitivos, este blog leva vantagem (apenas porque encontrou isto).
(ah, esta frase que impõe todo o respeito do mundo, foi tirada deste video que, por sua vez, tirei das provas de contacto).

Se Portugal fosse um país a sério

A polémica a propósito do “apagão” no IEFP ameaça tornar-se num ‘case study’ do estado delirante a que chegou a disputa política em Portugal. Uma visão mais benévola poderá justificar toda esta discussão com o aproximar de três actos eleitorais, que encontraram na subida do desemprego um contexto adequado. Não me parece razão suficiente. As razões são outras e o episódio serve para demonstrar que a política portuguesa deixou de ser discutida assentando em critérios mínimos de racionalidade.
Tudo terá começado com uma notícia no DN. O que se escrevia era que teria havido um corte de 15 mil desempregados nos ficheiros do IEFP. Depois, e se bem me recordo, no corpo da mesma notícia, acrescentava-se que esse corte resultava de um erro de cruzamento entre os registos de contribuições para a segurança social (que se reportavam a Fevereiro de 2008) e o desemprego registado (que se reportava a Fevereiro de 2009). Ou seja, um cruzamento positivo, que não tem muitos anos e permite que alguém que está a trabalhar e não comunique ao IEFP, deixe de contar como desempregado, teria sido feito indevidamente. Acontece que, e pasme-se, esse erro foi detectado e os dados do desemprego registado foram corrigidos antes da sua publicação. Ou seja, a notícia é que houve um erro e ele foi corrigido internamente, antes de os dados serem públicos.
Eu sei que era preciso fazer um esforço de leitura, mas ler é uma coisa que dá trabalho e como o desemprego está a crescer, o melhor é não deixar que a verdade dos factos estrague uma boa história. A boa história é comentar uma notícia inicial sem demonstrar qualquer preocupação em lê-la e percebê-la. Depois, como o delírio não tem paragem, os partidos rapidamente se apressaram a pedir auditorias externas (certamente para tentar perceber como é que uma instituição pública consegue detectar internamente um erro antes que ele fosse público) e pedidos de demissão do presidente do IEFP (aliás, gostava de saber se o pedido feito pelo PSD é subscrito pela Drª Ferreira Leite ou se foi um entusiasmo parlamentar).
De facto, se Portugal fosse um país a sério.

O contributo da bipolarização

A diferença entre as intenções de voto no BE nas sondagens e o resultado das últimas legislativas é, hoje, suficiente para impedir o PS de repetir a maioria absoluta. Contudo, bastaria que aqueles que votaram no PS e que agora se mostram inclinados a votar BE, repetissem o voto, para que o PS voltasse a ter uma maioria absoluta. O objectivo não é tão difícil de concretizar como parece.
Antes de mais, porque o eleitorado do BE é o menos consolidado de todos os partidos. Não apenas porque tradicionalmente os potenciais eleitores bloquistas revelam grande propensão para a abstenção, mas, também, porque são eleitores que nunca votaram BE.
Este facto, aliás, serve para consolidar um paradoxo. Enquanto entre a direcção do PS e do BE há, relativamente a políticas centrais, diferenças inegociáveis, as diferenças de posicionamento político entre os eleitores flutuantes dos dois partidos são bem menores.
Face a este cenário, o BE escolheu o Governo como principal (e único) adversário político e o PS tem apontado artilharia pesada ao BE. O problema é que este jogo de ataques mútuos tem tido como consequência empurrar para o BE os eleitores oscilantes entre os dois partidos.
Mas, por si só, a aproximação das eleições contraria qualquer estratégia política. O inevitável crescimento do PSD – feito no essencial à custa da descida do CDS – traz de novo uma questão que pairará como um espectro sobre os eleitores de esquerda: preferem um Governo de Ferreira Leite ou um novo Governo de Sócrates? Como o BE não tem resposta para esta questão e mostra-se indisponível para fazer parte da solução de governabilidade após as legislativas, é natural que muitos dos que hoje manifestam o seu protesto através do BE, se mostrem de novo disponíveis para votar, de modo útil, a favor da governabilidade à esquerda.

comentário à relação entre PS e BE quando se aproximam as eleições, publicado hoje no Diário Económico.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Sair, ficando

É preciso que os portugueses, e nomeadamente os que votaram PS mas que agora se sentem menos ou nada inclinados para voltar a fazê-lo, por um lado, sintam que o regresso do PSD ao poder é um mal maior do que um novo Governo PS e, por outro, que os socialistas se revelem capazes de apresentar um programa de resposta à crise económica e social, para além das soluções de emergência que têm dominado a agenda. Manuel Alegre, simpatizemos ou não com o seu percurso político e com as suas opções recentes, pode ser determinante para o PS concretizar este duplo objectivo. O que só serve para provar que, por vezes, estar fora acaba mesmo por ser a melhor forma de ter mais peso interno.
do meu artigo de hoje no Diário Económico.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Não te salves

Não fiques imóvel
À beira do caminho
Não congeles o júbilo
Não ames com desprendimento
Não te salves nem agora
Nem nunca
Não te salves

Não te enchas de calma
Não reserves do mundo
Apenas um canto tranquilo
Não deixes cair as pálpebras
pesadas como julgamentos
não fiques sem lábios
não adormeças sem sono
não te penses sem sangue
não te julgues sem tempo

Mas se
Ainda assim
Não o puderes evitar
E congelas o júbilo
E amas com desprendimento
E te salvas agora
E te enches de calma
E reservas do mundo
Apenas um canto tranquilo
E deixas cair as pálpebras
Pesadas como julgamentos
E ficas sem lábios
E adormeces sem sono
E te pensas sem sangue
E te julgas sem tempo
E ficas imóvel
À beira do caminho
E te salvas
Então
Não fiques comigo.

Morreu Mario Benedetti

Cavaco da Capadócia

O Presidente da República não se dá bem com saídas do Palácio de Belém, para além do território continental. A gestão dos microfones passa a ser menos apertada e, é sabido, Cavaco nunca foi dado ao humorismo e ainda menos a liberdades com a imprensa. Esta viagem à Turquia vai entrar para o podium dos "tesourinhos deprimentes": dos turcos que, convém lembrar, não são árabes, aos números do PIB no bolso do casaco, passando por não ser "just" falar do eurojust, culminando na confissão que a mulher tinha há muito o sonho de visitar a Capadócia e, já se sabe, as viagens fazem-se para concretizarmos os sonhos das nossas senhoras (que assim também podem ir fazer compras para os netinhos). Como bem escreve Ferreira Fernandes, imaginemos que tinha sido o primeiro-ministro a dizer ""Vim à Capadócia porque era há muito um sonho da minha namorada vir à Capadócia." A esta hora, grassava por aí uma grande indignação por os telejornais não continuarem a abrir com o tema e os índices de situacionismo batiam todos os recordes. Mas, claro, Cavaco não é um político, é qualquer coisa de intermédio.

Geni e o Zepelim

A Segurança Social vai sair desta crise com um elevadíssimo défice, que pode ser ainda mais expressivo caso sejam aprovadas as medidas aventureiras que alguns reclamam. Curiosamente, os mesmos que dentro de alguns anos voltarão à carga com o discurso da insustentabilidade do sistema e a defesa da sua privatização. É como na canção "Geni e o Zepelim, de Chico Buarque: a Geni, a quem todos queriam "jogar pedra", torna-se, nos momentos de aflição, naquela que "nos pode salvar". Mas no fundo ela "é feita para apanhar".
Manuel Esteve no Diário Económico.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Yes, week-end



E que tal isto? com o público na mão e o Marcelo Camelo entre o público.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Um camelo numa varanda



Uma das coisas boas da idade adulta é poder-se comprar bilhetes decentes para concertos. Daqui a um par de semanas, o tipo na segunda fila que se vê neste video vou ser eu. Entretanto, enquanto vou vendo o DVD do Ashes of American Flags (ainda não houve ninguém que fizesse o obséquio de democratizar a coisa no youtube), os próprios Wilco têm para audição integral o novo álbum (que tem o magnífico nome de Wilco) no site da banda. A propósito, o álbum vem acompanhado de uma grande capa e não desilude. Aliás, o dueto com a senhora Feist é como se esperava.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Este ano


(ou o Cavaco que se cuide)

Já desistiu

O que a declaração de Ferreira Leite esconde é que o PSD incorporou a ideia de que não pode vencer e desistiu de lutar pela maioria absoluta. O problema é que essa desistência diminui a propensão para a bipolarização e, logo, as condições de governabilidade futuras do país. A percepção de que o PSD não pode ganhar tem ajudado à dispersão de voto à esquerda e à criação de um terceiro bloco, com cerca de 20% das intenções de voto, mas que se exclui de qualquer solução de governabilidade. Se o PSD não compete, de facto, pela vitória com o PS, os custos de votar à esquerda como forma de protesto são aparentemente baixos.Tendo em conta que o país vai precisar de um Governo que dure uma legislatura e que PS e PSD estão relativamente próximos em questões centrais, o melhor cenário é um Governo de maioria absoluta do PS ou do PSD, até porque a alternativa é uma pulverização eleitoral, que só produzirá instabilidade política. Que Ferreira Leite já tenha desistido deste objectivo é, por isso, incompreensível para o PSD e prejudicial para o país.

do meu artigo de hoje no Diário Económico.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Este gajo levava o meu voto



O Pete Seeger fez noventa anos e ainda há uns meses o vimos a cantar ao frio, na tomada de posse de Obama, acompanhado pelo Springsteen. Há uma semana, no Madison Square Garden, em vez dos Knicks, jogou uma rapaziada para o homenagear. Não se encontram as músicas com um mínimo de qualidade (pensando bem, talvez valha a pena ver este video), mas esta discursata do Boss é do caraças e vale a pena, independentemente das músicas. Ainda a propósito da versão integral do 'this land is your land', cantada na tomada de posse: "that’s what Pete’s done is all life. He sings all the verses all time. Especially the ones we would like to leave out of our history as a people."
(e claro, esqueçam a pivot)

É reconfortante ler isto

"(...) To be sure, all Presidents want to be seen as political centrists. They dare not proclaim themselves "Right" or "Left," or even "conservative" or "liberal," on an ideological spectrum that’s become ever more highly polarized. It is politically safer – yes, even pragmatic – to describe one’s values as "commonsensical" or "middle of the road." But even this description minimizes and distorts a president’s capacity for leadership. A true leader does not take the public to where the public happens to be, because the public is already there. A leader takes the public to where the public should be, according to that leader’s view of the society’s highest ideals – ideals that the public shares but which have not yet been realized.

Obama did this several times during the presidential campaign, most notably in his courageous speech on race. He took America to a higher place by explaining what we all knew and felt but giving it a larger and nobler frame. He educated us in the best sense of the word. Doing so may have been politically pragmatic but his goal was not solely to get elected. Nor was it simply to demonstrate to us the leadership of which he is capable, although the speech did that. His goal was also to make us more aware about how race is used divisively. In doing so he drew on what in retrospect seem "commonsensical" positions and "middle of the road" values. But that’s not how the speech struck most of us then. We were transformed by the power of his thinking and the values that underlay it – values that we share but had not thought through.

President Obama can afford to do the same with regard to the overriding issue of widening inequality in American society. He can connect the dots for us, allowing us to understand why inequality is widening without deriding the rich or castigating the fortunate. Doing so would allow us to understand what he is seeking to do and why, and empower us to seek and do the same."

Robert Reich

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Há, de facto, muita tolerância com o PC

Um amigo chamou-me a atenção para as declarações de hoje no parlamento do deputado comunista Bernardino Soares, onde este qualificou as palavras do deputado socialista Mota Andrade como estando “ao nível das de um destacado militante do PS, [que,] na pele de comentador, até se atreveu a dizer que tem havido demasiada tolerância com o PCP na sociedade portuguesa”. Tendo depois acrescentado que “se vivêssemos no tempo do fascismo, eram uma boa carta de recomendação para integrar os quadros da PIDE”. As citações são da Lusa e tomo-as por verdadeiras.
O comentador sou eu e de facto na sexta-feira na RTP-N disse que há muita tolerância na sociedade portuguesa com o PC. A frase foi dita perante a a recusa que o PC demonstrou ao longo do dia em se distanciar dos agitadores (que se combinou com as twittadas do deputado Miguel Tiago, que, entre outras pérolas, escreveu que “Vital Moreira é que agride os trabalhadores portugueses há muito tempo!” (sic)). Em momento algum esteve em causa outra responsabilidade do PC que não a de, ao contrário dos outros partidos, não ter criticado o que aconteceu. Mas se fossem necessárias mais provas da tolerância que se tem com o PC, aí estão as declarações de Bernardino Soares hoje.
Vamos ver se nos entendemos: as democracias pluralistas assentam num chão comum, que tem necessariamente de ser partilhado por todos. O problema do PC é mesmo esse: divide-se entre a hesitação na defesa e a secundarização de princípios basilares da democracia, à cabeça o pluralismo, o respeito pelos direitos humanos e pela liberdade de expressão. Basta ter lido as teses ao último congresso onde o PCP defendia o “papel de resistência à “nova ordem” imperialista” dos países que definem como “orientação e objectivo a construção duma sociedade socialista – Cuba, China, Vietname, Laos e R.D.P. da Coreia” e onde revelava uma nostalgia despudorada da U.R.S.S – “a contribuição da URSS e, posteriormente, do campo dos países socialistas, para os grandes avanços de civilização verificados no século XX foi gigantesca” para se perceber a consideração que o PC tem por esse chão comum. Sobre votos de fé na democracia, estamos, por isso, conversados. Façamos um paralelismo com o que aconteceria se um qualquer partido de direita português se lembrasse de tecer um elogio equivalente a qualquer regime autoritário. Suspeito que ninguém, e a meu ver bem, toleraria. Pois ao PC tudo é permitido, desde logo a escalada de crescente ortodoxia em que se tem embrenhado e que é tomada como uma idiossincrasia nacional, meio patusca. De facto, é preciso ter muita tolerância com os intolerantes.
Há uma fonte de legitimação democrática à qual o PC recorre sempre que se vê em apuros – o anti-fascismo e a corajosa resistência de muitos comunistas ao regime de Salazar. 35 anos depois, aí reside o capital democrático dos comunistas portugueses. É isso, aliás, que permite, por exemplo, que o PC se ache dono e senhor do 25 de Abril e do 1º de Maio, momentos em que outros democratas são autorizados a juntarem-se aos comunistas. Nada disto é novidade, mas é uma tendência que se tem acentuado nos últimos tempos. Nem sequer é preciso voltar ao “caso Vital Moreira”. Basta recordar como José Neves – a quem todos os que em Portugal defendem uma sociedade pluralista devem de facto muito – foi também apupado este ano nas comemorações do 25 de Abril.
Bernardino Soares, que há uns tempos tinha “dúvidas que a Coreia do Norte não fosse uma democracia”, resolveu hoje dizer que as minhas declarações “eram uma boa carta de recomendação para integrar os quadros da PIDE”. De facto, há muita tolerância com o PC, desde logo, porque a afirmação é de tal modo insultuosa que só é tolerável porque vivemos numa democracia, onde temos de tolerar principalmente os intolerantes.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Até tu, Stringer Bell


"They're so removed from what I do and at the same time they're very protective of me, because I'm their only child. I tell them that Obsessed is breaking box-office records and that I'm going to be interviewed on the Paul O'Grady Show, and my mum says, 'Oh, that's good. Did you eat today?' I need that stuff more than ever" ·
Idris Elba, mais conhecido como Stringer Bell, no Guardian.

E que tal arranjarem um argumento?

João Cravinho tem inteira razão na indignação quanto ao que foi aprovado no Parlamento a semana passada. Sobre isso, escrevi o que penso aqui. Mas não me deixa de espantar que, quase uma semana passada, ainda não se tenha conseguido ver ou ouvir um único argumento a explicar a razão da alteração do tecto para as contribuições em dinheiro vivo. Foi alterado e pronto. E não esqueçamos, os partidos andam todos muito preocupados com a abstenção, com a corrupção. Nota-se.

terça-feira, 5 de maio de 2009

O Pai Natal dos partidos

a semana passada, os deputados reuniram-se para, de surpresa e após todas as audições públicas, darem um passo ao arrepio do que havia sido feito nos últimos anos: aprovaram um aumento em mais de um milhão de euros do limite das entradas em dinheiro vivo nas contas dos partidos, sem necessidade de prestar contas. Ou seja, o que era um limite razoável para acomodar algumas contribuições de militantes e angariações de fundos pagas em numerário, subiu de um tecto de 22 mil euros para mais de 1 milhão de euros. Ao mesmo tempo que a subvenção pública se manteve inalterada, tendo inclusivamente sido aprovada uma derrogação da indexação ao IAS. Mais, ficámos a saber que os orçamentos para campanhas eleitorais vão também subir. O que os deputados todos, com uma excepção, nos quiseram dizer, em memória do mártir, doador anónimo do CDS/PP, é claro: "que mil Jacintos Capelo Rego floresçam". Doravante, os partidos voltam a poder ficcionar uma angariação de fundos como forma de dividir montantes não enquadráveis pela lei. Que a necessidade de regularizar as contas da Festa do Avante! - esse momento em que um número de beneméritos da área metropolitana de Lisboa se junta para celebrar a Revolução de Outubro fazendo oferendas em dinheiro vivo - seja invocada é, aliás, do domínio do anedotário nacional.

do meu artigo de hoje no Diário Económico.

O maravilhoso mundo da PT

De repente, e já não é a primeira nem a segunda vez, fico sem o meu serviço ‘triple-play’ (nada como nomes em estrangeiro). Ao longo de mais de 24 horas, ligo para o número de telefone que está num cartão que, de modo prestável, um técnico da MEO deixou numa das passagens por minha casa. Ligo e do 808 mandam-me ligar para o 707; depois de premir várias teclas, chego finalmente à fala com alguém. Como sempre, em lugar de me darem respostas, fazem-me perguntas. Pergunto se estou a pagar a chamada, dizem-me que sim. Ou seja, pago um balúrdio todos os meses pelo serviço, fico sem telefone fixo para comunicar uma avaria pela qual não sou responsável e, no fim, ainda tenho de pagar uma chamada de telemóvel para o número de “apoio” ao “cliente”. Se estas chamadas já são invariavelmente longas, que dizer da tentativa de apresentar uma queixa. Há uns tempos, mudei da Netcabo para a MEO por estas e por outras. Agora, a pergunta que faço é: mudar para quê?
(umas tentativas depois, nem sequer há “atendimento” ao “cliente”. Desligaram. No fim do ano, já se sabe, os gestores da PT devem receber uns prémios de produtividade. Não é certamente pelo serviço que prestam. Entretanto, telefonou-me o Jacques, dizendo que já sabia que eu estava com um “probleminha” (sic). Diz que aparece daqui a umas horas).

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Movimento apaguem a memória

Aparentemente, e a crer nas imagens da RTP, um dos ânimos mais exaltados no passado 1º de Maio é um militante do BE, candidato pelo partido nas legislativas de 2005. Surpreendentemente, hoje, o link que remetia para uma página da campanha do BE de Coimbra e onde aparecia uma foto que identificava o camarada agitador, que surgia ao lado de, entre outros, Boaventura de Sousa Santos, passou a estar indisponível.
(mais desenvolvimentos aqui.)

Um curriculum apresentável


conversas do gmail:
me: não viste o Barça? não sei o que é que vais contar aos teus filhos.
manel: 6-3, 4-4, 2-1 (parma e juve), 1-0 marselha, 7-0 Honved, 0-6 hamrum spartans (poker do yuran), 3-1 cska sofia golaço do schawrtz, 5-2 final da taça contra o boavista, 3-2 bessa sousa à baliza e o golo do luisao ao ricardo.

Séries da minha vida


A Charlotte envolveu-me numa corrente (acho que nunca tinha sido envolvido numa destas coisas) para escolher as quinze séries que deram consistência (bolas!) à minha vida. Acho que quinze é um número excessivo. Aqui vão algumas.
Primeiro, as dos anos de formação: a Galáctica, a Balada de Hill Street e os Três Duques. Depois, a única que segui sem interrupções, bem antes das caixas integrais: Twin Peaks (que podia também chamar-se, com propriedade, E Deus criou a mulher). Pelo meio, o Reviver o Passado em Brideshead, que vi parcialmente talvez na segunda emissão na RTP e depois integralmente em 1994, na primeira caixa que tive com uma série, em VHS, e já depois de devidamente inspirado pelo Evelyn Waugh (salvo seja). Nos últimos tempos, quatro séries que entram directamente para o top-10. O Roma do John Millius que, ainda não sei como, conseguiu não introduzir nenhuma metáfora sobre surf na série; o Deadwood, que bate todas as outras pelo realismo e pelos actores (estou há dois anos para arranjar a última temporada com legendas); o West Wing (a mais entusiasmante de todas as que vi, o que não deve abonar muito a meu favor); e ainda o The Wire, talvez a melhor de todas na construção das personagens e que imagino seja uma abordagem realista de uma realidade que, na verdade, desconheço se existe de facto assim.
Para que isto não morra aqui, passo a corrente ao Tiago Tibúrcio, ao Pedro Marques Lopes, ao Miguel Marujo, ao Lourenço Cordeiro e ao Pedro Arruda.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Working class hero


Isto passou-se anteontem em Philadelphia e tenho a certeza que o Joe Strummer deve ter ficado contente.

Assim se vê a força do PC

São 18.15 e, até agora, as únicas declarações de repúdio que se conseguem encontrar a propósito dos incidentes com Vital Moreira vindas de um dirigente da CGTP, foram as de Carlos Trindade, que é militante do PS. Já Carvalho da Silva, sempre tão prolixo, deve estar neste momento a convencer os camaradas do comité central de que é mesmo melhor dizer qualquer coisa. Ainda não é o momento de passar para formas mais avançadas de luta.
(esperem lá, acabo de descobrir pelo Paulo que o camarada Jerónimo afinal já falou, para dizer: "Não assisti aos factos, não tenho informações suficientes". E que dizer das palavras da jovem guarda?. Carvalho da Silva entretanto já tem informações: quem reagiu assim foram trabalhadores desempregados ou em desespero. Pelos vistos não foi autorizado a pedir desculpas.)

A vida corre inteira pelas nossas mãos


Hoje à noite, no Santiago Alquimista, directamente do Jardim da Estrela, Os Golpes apresentam o seu disco de estreia. Foi preciso esperar uns quanto anos para que voltasse a valer a pena ouvir rock em português. Como escreve o Samuel Múria, "o fervilhar do rock português de tempos idos está lá todo. Mas desenganem-se os profetas da desgraça, do terrorismo-revivalismo, do rebanho de antanho: Os Golpes não são do passado. A grande ironia geográfica deste país hipnotiza-nos com a sua cauda. Os Golpes estão noutra ponta: a garraiar os cornos do porvir."