assim em jeito preemptive, para que não haja segundas interpretações, e muito resumidamente (tenho de voltar ao trabalho), o que penso sobre os dois assuntos que marcam as notícias do dia é o seguinte: a) a eventual passagem por Portugal de voos não autorizados para (sublinho o para) Guantánamo é muito grave e se tiver de facto existido algum procedimento menos claro e alguma participação deste ou de anteriores governos em actos ilegais, é motivo suficiente para a demissão do governo. b) o pacote de medidas ontem apresentados, designadamente na componente de indemnizações compensatórias de despedimento não terá grande efeito para combater a crise que hoje enfrentamos. dito isto, estava a ler o público de hoje e nem sei o que dizer.
em primeiro lugar a manchete, em letras garrafais lemos: "cortes nas indemnizações não vão ter grandes efeitos no combate à crise". ou seja, o Público torna uma opinião, aliás ouviu dois advogados dois, não apenas em notícia, mas em manchete. Parece-me um bom caminho para o jornalismo. Não sei mesmo se o melhor não seria tornar os jornais aglomerados de opiniões e acabar de vez com as notícias. Se calhar já é isso que acontece e não fomos avisados.
depois, o mais surpreendente. em mais uma notícia mal amanhada com base nos cables da WikiLeaks, e em dois parágrafos quase seguidos, o Público consegue escrever, primeiro, "Sócrates aceitou permitir o repatriamento de combatentes inimigos de Guantánamo através da base das Lajes", escreve em telegrama de 7 de Setembro de 2007 o chefe da representação diplomática dos EUA em Lisboa, Alfred Hoffman.", para logo depois escrever, "alguns meses depois, questionado no Parlamento por Francisco Louçã sobre se o Governo autorizara ou tivera conhecimento "de qualquer transporte de prisioneiros da CIA por território português para o gulag de Guantánamo", assegurou: "Consultei todos os membros do Governo com responsabilidades neste domínio e devo dizer que o Governo nunca foi consultado sobre essa possibilidade nem nunca autorizou [o sobrevoo do espaço aéreo ou a aterragem na base das Lajes de aviões destinados ao transporte ou transferência de prisioneiros]. Posso responder-lhe em nome deste Governo que nunca aconteceu termos sido consultados e termos autorizado. Estes dois actos nunca existiram."
não sei se estão a ver, mas os dois parágrafos falam de coisas diferentes, enquanto se sugere que se está a falar da mesma coisa.
vou mesmo é trabalhar.