"I hope the fences we mended
Fall down beneath their own weight"

John Darnielle

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terça-feira, 8 de maio de 2012

Até aqui, tudo bem

"(...) É uma ilusão pensar que tudo se manterá igual no sistema político com um período longo em que o comportamento da economia alterna entre o anémico e a recessão. Pura e simplesmente, o amor do povo pela liberdade não será suficiente para que daqui, por exemplo, a quatro anos, os portugueses se dirijam ordeiramente e em massa às urnas para depositar o seu voto nos partidos em que necessariamente deixarão de confiar. A queda que vivemos começou por ser financeira, económica e social, mas a aterragem será inevitavelmente política e colocará em causa o regime. Como nos ensina a história europeia, a legitimidade dos regimes democráticos depende do pluralismo e da defesa do Estado de direito, mas estes valores só são politicamente sustentáveis se se alicerçarem em níveis de bem-estar suficientes, que funcionem como cimento das relações sociais. A questão não é apenas de privação material hoje, é também o modo como o regime gere expectativas sociais. Em “A classe média: ascensão e queda”, Elísio Estanque escreve que “enquanto numa trajectória ascensional se tende a antecipar a condição de chegada, na situação inversa procura-se a toda o custo negar a realidade, mesmo quando já se mergulhou nela até ao pescoço”. Ou seja, enquanto nas trajectórias ascendentes as expectativas vão sempre um passo à frente da posição individual, perante um fim abrupto desse percurso, a intensidade da frustração dispara, mas ao retardador. Um pouco como no filme de Mathieu Kassovitz: quando caímos, como agora acontece, primeiro negamos a sensação de perda, para depois chocarmos com a dura realidade da desilusão. Só então perceberemos que a solução para a crise deveria ter sido outra. Pode ser, contudo, demasiado tarde. a versão integral do meu artigo do Expresso de 28 de Abril pode ser lida aqui.