"I hope the fences we mended
Fall down beneath their own weight"

John Darnielle

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quinta-feira, 22 de novembro de 2012

A política sitiada

"(...) Para quem valoriza a democracia representativa e vê na Assembleia da República a instituição soberana e o melhor dos garantes do bom funcionamento de um regime assente nas liberdades, naturalmente que o cerco montado ao Parlamento, que culminou nesta semana em ataques despóticos, à pedrada, só pode ser visto com muita preocupação. Mais, a escolha sistemática da Assembleia da República como lugar de convergência de manifestações (algo que não acontecia em Portugal) devolve-nos a um passado de turbulência institucional de má memória.
Estamos, contudo, perante um caso em que o poder político, em lugar de contrariar a tendência para o enclausuramento, optou por se entrincheirar, dando sinais de fragilidade que funcionam como incentivos para que o descontentamento se dirija, de forma cada vez mais intensa e violenta, às instituições da democracia representativa. E nenhuma escapará.
É evidente que a degradação económica e social, por si só, gera contestação, mas tal não implica a capitulação política a que, de facto, assistimos das instituições do regime – que parecem ter abdicado de proteger a sua gravitas. A questão das grades não é por isso marginal. Se há uma manifestação e é preciso proteger o parlamento, coloquem-se grades, mas no dia seguinte estas têm de ser retiradas e a dignidade institucional da Assembleia da República reerguida. A política é também uma disputa simbólica.
Tem sido muitas vezes sublinhado, com inteira razão, que o nosso tecido social tenderá a desfazer-se com a crise económica que temos vivido. Não sabemos quanto tempo mais as nossas sociedades aguentam a austeridade. Mas, temo, os nossos regimes políticos aguentarão ainda menos tempo se tivermos as instituições políticas sitiadas."

a versão integral do meu artigo do Expresso de 17 de Novembro pode ser lida aqui.