"I hope the fences we mended
Fall down beneath their own weight"

John Darnielle

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domingo, 27 de dezembro de 2015

Honrem as camisolas?


É preciso recuar bastantes anos para nos recordarmos de um ambiente tão tenso num jogo do Benfica no Estádio da Luz, como o deste fim-de-semana com o Rio Ave. Coro de assobios, faixas a exigirem mais da equipa e claques a pedirem aos jogadores para honrarem as camisolas. No fim, com um resultado positivo e com mais uma partida decidida num ímpeto atacante final, o ambiente lá se recompôs. Não quer dizer que os problemas de fundo estejam resolvidos.
Desde logo, o apelo para que os jogadores honrassem a camisola. Trata-se de um equívoco: o problema do Benfica não tem sido de profissionalismo – no domingo, não vislumbrei nem apatia, nem falta de empenho. O que se viu, uma vez mais, foi uma equipa que joga aos repelões e que depende da qualidade individual para resolver o que o conjunto não é capaz de solucionar. Uma vezes é Gaitán, outras é Jonas que vão ultrapassando os bloqueios coletivos. Sem uma ideia de jogo, sem organização torna-se bem mais difícil, para recuperar uma metáfora do passado, ao “Manel” brilhar, integrar-se no conjunto e disfarçar as debilidades individuais. A consequência é clara: a jogar assim, os melhores pioram e os menos bons nunca melhorarão.
Ora, com muitos “Manéis”, um par de jovens muito talentosos, dois ou três craques e uma equipa num limbo tático (ainda não abandonou o sistema de Jesus e não abraçou o de Vitória), o Benfica está condenado a sofrer em campo. Até ver, estamos em dezembro e os resultados têm sido bem melhores do que as exibições. O menor dos problemas é o empenho dos jogadores.

 publicado no Record de terça-feira