"I hope the fences we mended
Fall down beneath their own weight"

John Darnielle

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quinta-feira, 30 de junho de 2016

O paradoxo da seleção

            Falta de eficácia e algumas exibições individuais pouco conseguidas. Têm sido estas as explicações para o percurso da seleção no Euro. Um conjunto de justificações conjunturais que servem para ocultar causas estruturais.
            Talvez valha a pena recordar que Portugal integra um grupo que, numa fase final de um Euro, nem por encomenda. Islândia, Áustria e Hungria são seleções sofríveis. Acima de tudo, não é possível anunciar que Portugal é candidato à vitória e justificar empates contra estas equipas com azar e falta de eficácia. O problema começou mesmo nas expectativas: nem a seleção nacional é tão má como tem parecido, nem é tão boa como se quis fazer crer.
            A meio caminho entre o que se tem visto e as expectativas criadas, está uma equipa com qualidade, mas que tem debilidades e não são de hoje. Com um jogador extraordinário e sem ajudantes à altura, a seleção portuguesa vive com desequilíbrios e parece jogar melhor contra equipas mais fortes.
            Ronaldo é a mais valia e, paradoxalmente, um problema para a seleção. Sendo um portento na finalização, está longe de ser um jogador de topo na percepção coletiva do futebol e na capacidade de envolver os colegas no seu jogo. Por isso mesmo, rende mais quando não é referência atacante e tem ao seu lado um “poste” que o liberte. Ronaldo joga sozinho e quando tem uma equipa que o ajuda, é fantástico. Quando não é assim, sobra um jogador egocêntrico e preso na sua ambição – o marcador caricato de livres é o paradigma disto mesmo.

            Hoje, como já aconteceu, Ronaldo pode ganhar o jogo sozinho. A questão é que dificilmente se vence um Euro com este modelo de jogo.

publicado no Record de 22 de Junho