"I hope the fences we mended
Fall down beneath their own weight"

John Darnielle

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quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

A jogar contra os números

Há golos que valem mais do que outros. Estatisticamente é mesmo assim: numa análise ao campeonato inglês, em ‘The Numbers Game’, Chris Anderson e David Sally concluem que, quando uma equipa marca três golos, os adeptos podem abandonar o estádio com alguma segurança. A probabilidade de vitória é altíssima, 85%. Já a de derrota para quem está a perder por três a zero é ainda mais elevada, 95%.

Está-se mesmo a ver do que estou a falar. O Boavista marcou três golos, empatou e fugiu às probabilidades. Porquê? Lá está, porque depois disso o Benfica marcou três vezes, o que é ainda mais improvável.

Ora o problema esteve mesmo aí. A perder por três, o Benfica passou a ter as estatísticas a jogar contra si. Esqueçamos por um momento a arbitragem lastimável – sei que não é fácil – e concentremo-nos no desafio psicológico. A sofrer três golos em casa contra um adversário bem mais fraco, o principal risco do Benfica era o descontrolo emocional. Não aconteceu, até porque essa tem sido uma das virtudes da equipa com Rui Vitória.


Paradoxalmente, foi quando empatou o jogo que o Benfica deixou de ser dominador. Estranho? Nem por isso. A perder por três, Vitória inovou taticamente e o Benfica recuperou a desvantagem. Aquando do empate, era necessário regressar ao sistema tradicional e reequilibrar a equipa. Mas, a partir de então, o Benfica não mais se reencontrou: emocional, física e, acima de tudo, taticamente. Sem substituições disponíveis, com um engarrafamento de jogadores nas alas e falta de presença no meio-campo, o Benfica deixou de ameaçar o Boavista. As estatísticas adversas fizeram o resto.

publicado no Record de 17 de janeiro