"I hope the fences we mended
Fall down beneath their own weight"

John Darnielle

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segunda-feira, 26 de março de 2012

Amigos em Portugal

A notícia tem já vários meses, mas só agora me chegou: Vini Reilly, a alma dos Durutti Column, sofreu um AVC que o limitou fisicamente. Se bem que já tenha voltado a tocar e, inclusivamente, a compor, é ainda incerto se recuperará totalmente.
Uma das bandas mais importantes da Factory Records (na verdade, a primeira a “assinar” com Tony Wilson), os Durutti Column foram responsáveis por alguns dos discos mais singulares da década de oitenta. The Return of the Durutti Column, LC, Another Setting e Circuses and Bread são, ainda hoje, álbuns parcimoniosos, mas assentes numa complexidade que encontra poucos ou nenhuns paralelos na cena pós-punk britânica. O dedilhar único da guitarra de Vini Reilly, a fragilidade da sua voz, usada apenas a espaços, e a bateria de Bruce Mitchell deixavam o campo aberto para sonhos bucólicos. Acima de tudo, pairava uma capacidade melódica presa a ambientes capazes de, por vezes, ofuscar toda a tristeza que encerrava aquela música. Quando as músicas dos Durutti Column se entranham, nunca mais nos podemos sentir abandonados. Sobre a banda, Miguel Esteves Cardoso escreveu, já lá vão quase trinta anos: “esta música não é uma coisa prosaica e ingénua; não é papel-de-parede para tapar os buracos verdadeiros. Aqui há também uma luta. O que é preciso é raspar levemente a superfície da pintura, para encontrar a sua base de tintas negras e feias, o seu medonho inconsciente. Não há beleza sem contraponto, nem harmonia sem contraste. E a música de Vini Reilly é só isso.” É mesmo só isso.



A versão ao vivo da Jacqueline que aqui se vê (de 1988) é superior à versão mais curta do LC (ou da LC). Aliás, o tema sempre ganhou em versões ao vivo, com o solo do Bruce Mitchell (tão impressionante como a sua expressividade) a criar o contexto certo para que a guitarra volte a cair no tema.

texto também publicado aqui.