"(...) Talvez um princípio avisado para o reformismo seja não cair na tentação do excesso de experimentalismo. Portugal tem muito a aprender com as soluções dos outros países, com os seus erros e sucessos. Ora, se nada mais, o facto de não existir rigorosamente nenhum país europeu com exames no 4º ano deveria ser motivo para ponderação. Mas, para o governo português, isso parece pouco importar.
É claro que os exames são um mecanismo fundamental para a aferição de conhecimentos e não podemos conceber ensino sem avaliação. Contudo, não são os exames que, por si só, garantem a qualidade da aprendizagem. Ora, hoje já existem provas para aferir os conhecimentos das crianças de nove anos que terminam o 4º ano (com uma avaliação qualitativa).
Esta fixação examinadora, que visaria contrariar a alegada cultura de facilitismo que terá contagiado todo o ensino em Portugal, esbarra nas evidências. Para além dos países que melhores resultados têm nas comparações internacionais serem aqueles que menos e mais tarde examinam, Portugal é também um caso de não facilitismo, apresentando uma das maiores percentagem de jovens até aos 15 anos que chumbou pelo menos uma vez. Os números impressionam: 35% dos jovens portugueses reprovaram, valor bem acima da média da OCDE (13%).
Nesta como em muitas outras matérias, talvez fosse preferível que o Governo, em lugar de encontrar resguardo em diatribes ideológicas, ainda para mais de carácter saudosista, e num maniqueísmo retórico, que só serve para esconder fragilidades programáticas, procurasse aproximar Portugal das boas práticas europeias. Ao olhar para trás, a estratégia do Governo só agudizará a natureza dos nossos problemas e contribuirá para focar o debate político em dicotomias redutoras e extremistas."
a versão integral do meu artigo do Expresso de 31 de Março pode ser lida aqui.