quinta-feira, 26 de abril de 2012
Presos numa encruzilhada
"(...) Este Tratado visa consagrar a hegemonia da direita liberal à custa da capitulação política das restantes mundividências. Há uma diferença significativa entre um consenso desejável em torno da necessidade de consolidação das contas públicas e uma homogeneização que afasta as possibilidades dos Estados-membros decidirem o modo como alcançam a disciplina orçamental e que tipo de Estado social desejam. As consequências são evidentes: se o Tratado for para levar a sério, os Estados-membros menos desenvolvidos ficam privados dos mecanismos de política económica que tornam possível recuperar atrasos, ao mesmo tempo que continuam a não ter os instrumentos financeiros desejáveis, característicos de um sistema federal. No fundo, alienamos soberania, sem qualquer tipo de contrapartidas. Ainda assim, há uma réstia de esperança. No essencial, estamos perante uma institucionalização da hipocrisia: não só os preceitos do Tratado não visam responder às dificuldades que enfrenta a zona euro hoje, como não vão ser cumpridos pelos mesmos governos que agora os subscrevem (dos 25 Estados, apenas quatro cumprem, neste momento, o número mágico para o défice estrutural – sendo que Alemanha e França não fazem parte do grupo). No seu livro póstumo, Thinking the Twentieth Century, Tony Judt, numa conversa com o também historiador Timothy Snyder, deixa-nos uma espécie de lamento céptico: “é provável que, enquanto intelectuais e filósofos políticos, estejamos perante uma situação em que a nossa tarefa principal não é imaginar mundos melhores, mas, antes, pensar como é que podemos prevenir mundos piores”. No fundo, como mostra a discussão política na Europa de hoje, é isso que nos resta."
o resto do meu artigo do Expresso de 14 de Abril pode ser lido aqui.