Quando não há Gaitán, ganha-se com Salvio, quando não mesmo com Ola John. Foi assim no Caldeirão e a máxima pode aplicar-se a qualquer jogo do Benfica deste ano. À primeira vista, a explicação para a facilidade com que se substitui um jogador por outro está num plantel com mais talentos do que parecia, que aguardam a oportunidade para se afirmarem.
Mas, como é sabido, talento não chega. A grande vantagem do Benfica reside na organização coletiva – em princípios de jogo de tal forma trabalhados que, jogue quem jogar, já sabe o que deve fazer. Regressamos ao mesmo: não joga Gaitán, joga Salvio; não joga Salvio, joga Ola John e se o Ola John não puder jogar, joga o “Manel”.
No fundo, a equação vitoriosa resumir-se-ia a uma soma de talento com organização coletiva. É em parte verdade, mas está longe de ser toda a verdade. Não basta talento e organização para vencer, é preciso também liderança.
Na Madeira, o Benfica foi, por força do talento dos jogadores e da organização trabalhada pelo treinador, avassaladoramente dominante, mas vale a pena recordar a liderança decisiva do capitão Luisão.
Os
números são de outro tempo: 11 temporadas de águia ao peito, 440 jogos,
que fazem dele o 9º jogador que mais jogou pelo Benfica, igualando
Eusébio. São poucos os que, no futebol de hoje, jogam tanto tempo pelo
mesmo clube. Mas é mais do que isso que está em causa.
Ao longo de 11 anos, Luisão viveu o suficiente no Benfica para poder liderar. Perdeu, venceu, mudou de treinador. Acumulou experiência. O que lhe dá uma voz de comando única. Mas nada disto seria possível sem a inteligência prática que resumiu bem, numa já longínqua entrevista ao “Expresso”, definindo o que compete a um central: “não está ali para fazer salada, mas sim arroz com feijão”. Jogar simples é uma forma de inteligência prática. Luisão lidera pela experiência e pela sabedoria que coloca em campo.
publicado no Record de ontem.