No lançamento da partida de ontem, e a propósito das contratações do mercado de inverno, Jorge Jesus deixou, com razão, um aviso aos novos jogadores: para entrar na equipa era preciso ter "muita pedalada". Imagino que o treinador estivesse a pensar na organização coletiva e na intensidade com que o Benfica joga. Ora o Benfica de ontem foi uma equipa com muito pouca pedalada.
Desde logo, o nervo com que o Benfica se tem apresentado em todos os jogos faltou. Estranhamente, a derrota do FC Porto na véspera, que deveria ter dado uma confiança extra, acabou por se revelar contraproducente. Em particular na segunda parte, viu-se um Benfica enervado com a responsabilidade. Exatamente o contrário do que tem sido hábito esta temporada, em que, sob pressão, o Benfica não falha e, em muitos momentos, supera mesmo as suas insuficiências (uma delas, aliás, sobejamente conhecida - a forma como defende do lado esquerdo).
Mas
não foi apenas uma estranha nervoseira que marcou a partida de ontem. O
que tem sido uma das mais-valias do Benfica, e que torna a equipa
particularmente poderosa face a adversários muito fechados, é a força do
seu jogo interior, que permite em situações de ataque organizado
colocar vários jogadores em posição privilegiada entre o meio-campo e a
defesa adversários. Ontem, isso aconteceu pouco: seja porque Talisca
andou perdido, seja porque a saída de Samaris expôs a equipa, seja
porque Lima não mais se encontrou após desperdiçar o penálti.
No fim, sobram as palavras motivadoras de Luisão: "Continuamos com o nosso trabalho". É que os campeões fazem-se de talento, mas, também, de muito trabalho.
P.S.: A propósito da grande penalidade favorável ao Benfica, cabe dizer uma coisa: no futebol de hoje, fazer tiro ao braço dentro da área arrisca tornar-se a mais eficaz das jogadas. Um absurdo, a menos que os árbitros defendam a amputação dos braços dos defensores.
publicado no Record de ontem