o título do meu artigo do Expresso de ontem é roubado ao Dylan Thomas, cuja descoberta devo, quando tinha uns 15 anos (o que fez diferença), ao John Cale (no fabuloso Words for the Dying) e ao Bob Dylan (no fabuloso Robert Zimmerman).
Não entres
docilmente nessa noite serena, porque a velhice
deveria arder e delirar no termo do dia; odeia, odeia a luz
que começa a morrer.
No fim, ainda que
os sábios aceitem as trevas, porque se esgotou o
raio nas suas palavras, eles não entram
docilmente nessa noite serena.
Homens bons que
clamaram, ao passar a última onda, como podia o brilho das suas
frágeis ações ter dançado na baia verde, odiai, odiai a luz
que começa a morrer.
E os loucos que
colheram e cantaram o vôo do sol e aprenderam, muito
tarde, como o feriram no seu caminho, não entram
docilmente nessa noite serena.
Junto da morte,
homens graves que vedes com um olhar que cega quanto os olhos
cegos fulgiriam como meteoros e seriam alegres, odiai, odiai a luz
que começa a morrer.
E de longe, meu
pai, peço-te que nessa altura sombria venhas beijar ou
amaldiçoar-me com as tuas cruéis lágrimas. Não entres
docilmente nessa noite serena. Odeia, odeia a luz
que começa a morrer.