Se bem
que ainda distantes e passíveis de contaminação pelo resultado das
legislativas, as presidenciais têm estado no centro da especulação. Perante
isto, os partidos sugerem que o tema é prematuro e sublinham que a prioridade é
a escolha do próximo Governo. Faz sentido taticamente, mas não estrategicamente.
Por força da proximidade entre eleições e tendo em conta as exigências de governabilidade
e cooperação institucional que se vão colocar, eleger Governo e Presidente são
opções interligadas.
Se assim
é, não é prematuro identificar os requisitos de um bom candidato presidencial,
assim como definir um perfil relevante para o país no próximo ciclo político.
Como é
frequentemente dito, um candidato presidencial competitivo tem de ser capaz de crescer
eleitoralmente para lá do seu espaço político. A ideia de que alguém alinhado
com uma direção partidária e promovido como candidato oficial de um partido tem
vantagem é, aliás, um equívoco. Não menos importante, 40 anos passados do 25 de
Abril, o regime só teria a ganhar se tivesse uma mulher na Presidência. Seria,
por si só, um indicador de institucionalização democrática.
Naturalmente
que as escolhas presidenciais não podem ser politicamente neutras. Há, a este
propósito, dois critérios importantes: saber como é que os candidatos se
posicionaram perante as questões mais marcantes dos últimos anos e de que forma
podem contribuir para os compromissos de que o país vai necessitar.
Num período de incerteza como o que vivemos,
há temas que se sobrepõem a todos os outros: a estratégia de consolidação
orçamental; a gestão da dívida e a sustentabilidade do Estado social. Um bom
candidato presidencial tem de ser alguém que, desde o início da crise, não
tenha hesitado, nem assumido posições dúbias, em relação a estes três temas:
criticando a austeridade, colocando-se do lado de uma solução europeia para a
dívida e não hesitando na defesa do papel do Estado e das responsabilidades
públicas na proteção social, na educação e na saúde.
Já em relação ao próximo ciclo
político há um grande consenso: a capacidade do país ultrapassar o bloqueio em
que se encontra e de desenvolver uma estratégia reformista gradual, assente num
horizonte de médio prazo, depende de um compromisso político. Nesse sentido, e
tendo em conta que todos os indicadores anunciam uma vitória do PS, um Governo
liderado por António Costa pode ganhar com um Presidente que alargue o seu
espaço de influência, mais do que ter em Belém quem reproduza a base social de
São Bento.
Por tudo
isto, vejo boas razões para se ponderar uma candidatura de Manuela Ferreira
Leite. Aliás, com uma outra vantagem: estamos a falar de alguém que já perdeu
eleições nacionais e as derrotas políticas são um momento de aprendizagem.
publicado no Expresso de Sábado.