"I hope the fences we mended
Fall down beneath their own weight"

John Darnielle

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terça-feira, 28 de abril de 2015

O sprint final


"É preciso que alguma coisa mude para que tudo fique na mesma". Mesmo que muito glosado, este velho adágio, que o escritor italiano Giuseppe Tomasi di Lampedusa atribuiu a Don Fabrizio, príncipe de Salina, não perdeu acuidade. Perante os ventos da mudança, a inteligência do “Leopardo” permitia-lhe focar-se no essencial, preservando a sua forma de vida.
Talvez seja também esta a melhor metáfora para o Benfica-Porto de ontem: foi necessário que alguma coisa mudasse (mais uma jornada de campeonato, com o Benfica a manter uma distância de segurança face ao Porto), para que tudo ficasse na mesma (o título será decidido num sprint final, após uma longa maratona). Já o Benfica teve a inteligência de focar-se no essencial – não perder pontos para o rival.
De resto, o jogo foi um reflexo das debilidades e das forças das duas melhores equipas portuguesas. Enquanto o Porto tem uma ótimo plantel, com muitas soluções, mas um jogo coletivo com fragilidades e perturbado pelas alterações sistemáticas no onze titular; o Benfica vive de uma ideia de jogo consolidada ao longo de 6 temporadas com Jorge Jesus, em que a organização coletiva, em particular nos momentos defensivos, torna possível que até o “Manel” brilhe (por exemplo, foi notável a exibição de Jardel, transformado num verdadeiro Garay).
Como acontece em muitos jogos decisivos, o que a partida teve em intensidade, faltou-lhe em qualidade nos momentos ofensivos. Nem Júlio César, nem Helton fizeram defesas dignas de nota e quer Benfica, quer Porto estiveram bem melhor a defender do que a atacar.
Numa altura em que o campeonato se aproxima da reta da meta, o Benfica leva vantagem no confronto direto, parece estar melhor fisicamente e reforçou a sua confiança anímica. Com o embalo que leva, só um enorme percalço permitirá que o Benfica se deixe ultrapassar no sprint final.

análise ao Benfica-Porto publicada no Record de segunda-feira.