"I hope the fences we mended
Fall down beneath their own weight"

John Darnielle

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segunda-feira, 1 de junho de 2009

A abstenção e a inveja


Ando muito preocupado com a abstenção. Oferecem-nos coisas e depois não conseguimos valorizá-las de modo adequado. Ontem os Wilco estiveram no Coliseu e o cenário era deprimente: 1/3 da sala ocupada, na visão benévola de quem ocupava um lugar da segunda fila. Que país é este que toma como adquiridos bens que são de facto frágeis? Depois, o concerto começou morno, até que os rapazes se foram soltando. A certa altura, já depois de umas dez músicas e talvez o dobro de trocas de guitarras (se somarmos as do Nels Cline às do Jeff Tweedy), o público juntou-se todo à frente, em pé como mandam estas coisas, e o que era morno tornou-se, subitamente, num dos melhores concertos de que me recordo. Dificilmente se encontra outra banda capaz de um som a um tempo tão poderoso e tão conseguido e com uma capacidade única de olhar para as raízes do folk rock norte-americano. Três guitarras que soavam na perfeição e que por vezes se transformavam em duas mais dois teclistas, mas sem que no virtuosismo se perdesse a intensidade. Tudo com um Jeff Tweedy bem disposto e com uma banda que manifestamente tem prazer a tocar. Pelo meio, quase não houve nada que ficasse por ouvir (pronto, não tocaram o Via Chicago, que aparentemente tocaram em Braga, mas em Lx tocaram o War on War, que não terão tocado na véspera). Mas, no fim, no meio de um longo encore (terão sido umas oito músicas?), e quando se ouviu uma versão do Hate it here a soar a Beatles por todos os lados e quando a faceta Neil Young veio mais ao de cima, chegou o momento da noite: dois miúdos, ela com uns oito anos, ele com seis, tiveram direito a solar na guitarra do Jeff Tweedy. Ali bem em frente ao palco e ao meu lado. A inveja é uma coisa muito feita. Mas foi o que eu senti. Ah, o Radio Cure e o Hummingbird tiveram versões assim como que superlativas.