"I hope the fences we mended
Fall down beneath their own weight"

John Darnielle

padaoesilva@gmail.com

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Uma história exemplar

Há dois anos, os chips das matrículas foram apresentados pelo governo como uma solução virtuosa para todos. Em mais um arremedo de deslumbramento tecnológico, falava-se em "potenciar um cluster na telemática rodoviária", num "aumento da segurança rodoviária", tudo com o objectivo de "fiscalizar veículos e não pessoas". Claro está que o essencial era o não dito. Era necessário criar um mecanismo que permitisse cobrar portagens nas Scut, onde não foram inicialmente construídas praças para o efeito. Dois anos passados, estamos mais ou menos na mesma situação. O governo não conseguiu encontrar uma solução alternativa à obrigatoriedade dos chips e continuamos a aceitar dois princípios insólitos: que é possível existirem auto-estradas sem custos adicionais para os utilizadores e, pior, que é adequado fazer política redistributiva através da rede rodoviária. Para ajudar à festa, enquanto o governo quer monitorizar através de um conjunto de indicadores socioeconómicos as Scut que se devem manter gratuitas, o PSD contrapropõe com isenções para os moradores e agentes económicos das regiões. Entretanto, o PSD a norte e o PS a sul ameaçam com contestação à introdução de portagens, ainda que de intensidades diferentes. Tudo isto serve para revelar que, quando era necessário uma simplificação e racionalização das políticas públicas, caminhamos sempre no sentido da sua complexificação. Que esta complexificação tenha chegado a um domínio aparentemente tão material como o modelo de financiamento das auto-estradas é revelador do monstro que está a ser construído.

publicado hoje no i.