quinta-feira, 13 de janeiro de 2011
Assassino ainda vá, agora paneleiro
Carlos Castro não me era indiferente. Pelo contrário, personalizava muitas coisas de que não gosto e que se tornaram muito populares (a histeria mundana; a vulgaridade mediática e a coscuvilhice de sarjeta promovida a jornalismo). Mas o modo condescendente como tem sido tratado o seu bárbaro assassinato, com reflexo nos media e nesse esgoto a céu aberto que são as caixas de comentários e os diversos fóruns, é um fiel retrato do país. Tudo o resto igual, estivéssemos perante um heterossexual sexagenário, castrado pela amante (modelo de vinte anos criada num programa de telelixo e devidamente insuflada), num quarto de hotel em Nova Iorque, ouviríamos um clamor generalizado contra uma “puta” que queria “subir na horizontal” e “sacar dinheiro ao velho”. Em lugar disso, temos o justificacionismo e uma família que, face a uma morte brutal, se tem ocupado em garantir que o filho não era homossexual – trazendo à memória Bernarda Alba quando garantia que a sua filha tinha morrido virgem. O que está em causa é apenas um homicídio particularmente violento e sem qualquer justificação, mas que, pelo caminho, nos revela até onde pode ir a homofobia privada do país, devidamente amplificada nos novos espaços públicos.