"(...) mais uma vez, ficou exposta a natureza surreal do debate político português. É natural que as oposições procurem responsabilizar os governos pelos impactos nacionais da crise, mas em lado nenhum da Europa se assiste a uma discussão que não parta do pressuposto de que estamos perante um ataque ao euro, que começou nas periferias, e que se intensificou a partir do momento em que a Alemanha começou a hesitar nas garantias. No entanto, quem olhe apenas para Portugal, poderia convencer-se que as razões para as nossas dificuldades de financiamento resultam exclusivamente dos nossos erros.
Não há, contudo, prova mais acabada da natureza sistémica da crise do euro do que a diferença entre o que nos foi sendo dito aquando dos sucessivos resgates e o que acabou por suceder. Os apoios foram apresentados como uma forma eficaz de estancar a crise das dívidas soberanas. Está à vista que assim não foi: o efeito-dominó não tem parado. Agora somos nós que estamos sob pressão, mas, se viermos a ser resgatados, a pressão limitar-se-á a deslocar-se em direção a Espanha. Com uma agravante, como os casos grego e irlandês revelam: a diferença entre as taxas de juro nos mercados e dos empréstimos obtidos com a intervenção UE/FMI não é significativa. A Irlanda paga hoje 5,8%, quando Portugal se financiou a 6,7%. O que nos deixa uma certeza: com as políticas de austeridade vigentes na zona euro, o risco de incumprimento é uma realidade quer num país intervencionado quer num que vá mantendo uma ilusão de soberania. (...)"
o resto do meu texto publicado no Expresso da semana passada pode ser lido aqui.