"A história está repleta de eventos estruturais desencadeados por acontecimentos secundários. A da Europa não é exceção. Quando o jovem Gavrilo Princip disparou sobre o arquiduque Francisco Fernando, poucos antecipariam o início de uma ‘era de catástrofe’ que duraria três longas décadas. Há atos que têm o condão de revelar todas as tensões de um momento e com isso colocam a história em movimento. Por vezes para o bem, na maior parte das vezes para o mal.
As declarações do Comissário europeu Guenther Oettinger, afirmando que “as bandeiras dos pecadores da dívida deveriam ser colocadas a meia haste”, podem bem ser um destes eventos. O que o Comissário fez foi dar voz ao pensamento dominante na Alemanha: a crise do euro deve ser lida à luz de um conto moral em que o descontrolo das dívidas soberanas se resolve com atos punitivos. A narrativa é apelativa, os governos endividaram-se excessivamente, têm de pagar um preço e a austeridade é a única resposta. Fica sugerida a necessidade de uma punição moral para responder a uma década de desvario hedonista.
Perante o poder avassalador deste conto moral, os países “pecadores” têm optado por apontar o dedo ao vizinho do lado, convencidos que assim expiam o crime e aliviam o castigo. “Nós não somos a Grécia” é um mantra que tem sido usado à exaustão, procurando criar a ilusão de que não nos acontecerá o que foi acontecendo à Grécia no último ano e meio. Ora de cada vez que os países da periferia da zona Euro se procuram distanciar da Grécia estão, de facto, a colocar as suas bandeiras a meia-haste (...)"
o resto do meu artigo do Expresso da semana passada pode ser lido aqui.