Esta semana entrou no Tejo o Tridente. O ministro e o chefe da Armada estavam de férias. A chegada foi discreta, como não podia deixar de ser: os submarinos queimam. O que só serve para demonstrar como neste processo nada correu bem. Em primeiro lugar, a oportunidade. Afinal, são mil milhões a entrar nos défices dos próximos dois anos. Nada de especial, por exemplo, para o almirante Vieira Matias, que veio lamentar que não tenham vindo quatro submarinos. Mas as dúvidas adensam-se também em relação ao processo administrativo: a escolha do consórcio; as regras que se alteraram a meio do jogo; a fraca execução das contrapartidas; a posição de fragilidade em que o Estado se pôs; o enigmático papel dos consultores. Nada é claro. Esta intriga tem, no entanto, deixado para segundo plano a discussão de uma questão não menos relevante: a de saber se Portugal necessitava de renovar, com esta urgência e nível de investimento, a sua capacidade submarina. Na devida altura, Ana Gomes revelou publicamente a existência de documentos da NATO que punham fortes reservas sobre a utilidade desta aquisição. Que "interesse nacional" é esse que se manifesta em contradição com o quadro de alianças em que Portugal se insere? Argumenta-se com a utilidade submarina na "vigilância costeira". Mas não haverá outros navios mais vocacionados para essas missões? Recentemente também surgiram notícias dando conta da redução das frotas submarinas em países da UE e da NATO. Neste caso, como infelizmente noutras aquisições militares, está ainda tudo por explicar.
publicado no i.