quarta-feira, 18 de março de 2009
ainda as desigualdades
partilho com o Rui Tavares, como ele escreve hoje no Público, a ideia de que “a desigualdade não é apenas um efeito, mas uma causa do nosso atraso, e vai ser preciso repeti-lo enquanto formos desiguais e atrasados. Que no nosso caso vai dar ao mesmo.” O problema é que de cada vez que se traz o tema para o topo da agenda política e ao mesmo tempo não se valoriza a dinâmica dos indicadores, está-se a desvalorizar o papel das políticas públicas no combate às desigualdades e, não menos importante, a secundarizar o que ainda assim já mudou em Portugal nos últimos anos. Que as nossas desigualdades são muito elevadas é sabido e deve ser motivo de prioridade política, mas, ainda que sendo tentador, é errado dizer que têm aumentado (o que se ouve sistematicamente por aí) e factualmente falso que, como escreve o Rui, os 20% mais ricos em Portugal tenham 8 vezes o rendimento dos 20% mais pobres. O último valor conhecido é de 6.5 para rendimentos de 2006, o que aliás revela uma ligeira redução por relação aos 6.8 de 2005. Não vejo como será possível criar uma coligação política e social robusta em torno desta questão enquanto se continuar a tratar mal os dados e a desvalorizar as políticas que já existem. Duas coisas que tendem a andar de mão dada.