"I hope the fences we mended
Fall down beneath their own weight"

John Darnielle

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quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

O mundo está a olhar para nós

O exercício orçamental de 2010 não se limita à tradicional relação entre despesa e receita e ao modo como aquela orientará as políticas públicas. Na ressaca da crise internacional, este Orçamento é também uma lei para consumo externo. Com as agências de rating a viverem uma violenta crise de credibilidade, a malha com que olham o comportamento das contas públicas tornou-se bem mais apertada. Com a reacção dos mercados ao caso grego e com os efeitos de contaminação de toda a zona euro, Portugal acabou por ver a sua exposição ao risco significativamente aumentada.
Este novo contexto deixou-nos perante um dilema, divididos entre o Orçamento de que a economia e o mercado de trabalho precisavam e o sinal que é imperioso dar para abrandar a pressão das agências de rating. Com o espectro de um aumento dos custos de financiamento da economia portuguesa a pairar, ficámos sem margem para escolher e de facto perdemos parte da nossa soberania política.
A contenção da despesa corrente primária, os cortes no investimento e as negociações políticas à direita servirão para que os mercados olhem com tímida satisfação para o OE 2010 – que ainda assim tenderão a considerar insuficiente. Mas pelo caminho parece ter ficado esquecido o primado do investimento público, que, ouvimos repetir, deveria nortear as boas respostas domésticas à crise internacional.
publicado hoje no i.