Tal como o amor e o cartão de crédito, os chavões políticos têm uma atracção inicial que mais tarde traz complicações. A asserção é do politólogo Michael Waller e, como sabemos das nossas vidas privadas, é quase invariavelmente válida. Roubo-a porque, nas últimas semanas, ouvimos com frequência a repetição de um chavão que revela uma atracção inicial: o casamento entre pessoas do mesmo sexo não é prioridade, designadamente num contexto de desemprego elevado.
O problema, desde logo, é que não há necessidade de ponderar entre, por um lado, conceder um direito com importante peso simbólico, que estava vedado a um conjunto de cidadãos com base na sua opção sexual, e, por outro, focar o essencial das políticas públicas nas questões económicas. Alargar um direito preexistente não colide com o esforço adicional que a crise requer das políticas públicas. Contudo, e isso é que é mais paradoxal, os mesmos que nos dizem diariamente que o tema do casamento gay não é prioritário associam-lhe, sempre, um ataque sem paralelo à família, uma instituição milenar.
Estão portanto a ver quais são as complicações: ou bem que estamos perante um ataque a uma instituição muitíssimo relevante e então o tema é uma prioridade absoluta (mesmo comparando com a consolidação estrutural das contas públicas), ou o argumento da não-prioridade não passa de uma manobra de diversão.
publicado no i.