A RTP acabou com as escolhas de Marcelo mas, felizmente, a consequência não será o silenciamento de Marcelo. Pelo contrário, como, ainda assim, na televisão o mercado funciona, o professor limitar-se-á a ver o seu "preço" aumentar e acabará disputado entre vários media. Na verdade, o fim concreto do programa é o lado menos preocupante da decisão. Bem mais grave é a visão que ela tem implícita sobre a natureza da análise política e sobre o pluralismo.
Desde logo, não há comentário político independente, assente numa mirífica neutralidade axiológica. Pelo contrário, o comentário é alicerçado numa determinada visão política, que enquadra as análises. Contudo, e esse é o equívoco, uma coisa é analisar a partir de um posicionamento ideológico, outra é fazê-lo com base numa agenda partidária. Não há razão nenhuma que impeça um militante partidário de analisar a actualidade com autonomia face ao seu espaço de origem. Depois, o pluralismo não se garante nem ao cronómetro, nem com programas televisivos que se transformem em frisos parlamentares. Na verdade, se o argumento do contraponto a Marcelo for para levar a sério, para dois militantes do PSD na TV, deveriam existir três do PS, um do CDS, do BE e do PCP, sempre com uma distribuição dos tempos proporcional aos resultados eleitorais. Assim se vê como, ao contrário do que pensa a ERC, a forma menos má para garantir o pluralismo continua a ser deixar a questão entregue aos critérios autónomos de quem dirige editorialmente os media.
publicado hoje no i.