A História diz-nos que um Presidente ou primeiro-ministro eleito que se recandidate ganha as eleições. Mas a história também nos conta que Cavaco Silva tem um tecto eleitoral que não só nunca superou como se revela surpreendentemente estável - em 1987, 50,22%; em 1991, 50,60%; em 2006, 50,59%.
Ao longo destes quatro anos, Cavaco deu algum passo no sentido de alargar a sua base eleitoral? A resposta é não. Nesse sentido, o primeiro mandato de Cavaco foi atípico. Com o recurso a comunicações ao país que só introduziram ruído no debate; com uma inclinação para tutelar o seu espaço político de origem; e, acima de tudo, com uma reconversão de primeiro-ministro modernizador em Presidente conservador, numa altura em que o conservadorismo social está em retracção no país, Cavaco cristalizou a sua base de apoio. Pelo caminho, ao envolver-se por interposta pessoa nas disputas eleitorais, delapidou aquele que era o seu principal capital político: a ideia de que pairava acima da miséria da política partidária e que era um referencial de estabilidade e previsibilidade. A consequência é que, pela primeira vez, se discute a reeleição de um Presidente. Fica, contudo, uma dúvida: será Cavaco no último ano de mandato capaz de voltar a corporizar o apelo modernizador que fez parte da sua identidade e com isso ultrapassar o seu tecto e (re)conquistar o eleitorado central para a sua reeleição?
publicado no i.