Fixem este nome: Anthony Thomas. Ele é o novo homem sem rosto. O mais provável é que, a esta hora, se encontre fechado num gabinete em Londres às voltas com a leitura do Orçamento do Estado português. A empresa para a qual trabalha, a Moody's, vive uma profunda crise de credibilidade, afectada pelos erros de avaliação que, com outras agências de rating, cometeu e que foram relevantes no desencadear da crise financeira. Naturalmente que os erros cometidos têm custos: Anthony Thomas e os seus colegas agem como animais acossados, que atacam ao mais pequeno sinal de fragilidade. Em teoria, são fiéis intérpretes do modo como o mercado percepciona o risco; na prática não é tanto assim. Ainda esta semana, os mercados procuraram obrigações do Estado grego a um ritmo três vezes superior ao esperado. Ou seja, os analistas foram contraditados pelo próprio mercado. Logo, não podemos deixar de pensar que a "confiança dos mercados" é também um eufemismo para potenciar movimentos especulativos. Perante isto, pode um Estado como Portugal agir de outro modo e não cuidar do modo como os mercados nos olham? Não, até porque a dimensão dos nossos desequilíbrios orçamentais é assustadora. O drama é que, enquanto a política orçamental se torna numa gestão de fatalidades, um ano após a crise, o mundo esqueceu-se de discutir as suas causas e de as enfrentar. Aceitamos hoje, com assinalável complacência, que os homens sem rosto ajam como faziam há um ano, quando devíamos estar a procurar uma alternativa às agências de rating.
publicado hoje no i.