Neste fim-de-semana o PS apoiará, a contragosto, a candidatura presidencial de Alegre. Manuel Alegre amarrou o PS e Sócrates com uma passividade que lhe sairá cara politicamente, deixou que o PS ficasse amarrado a esta opção. Este apoio burocrático tem em si o entusiasmo dos actos administrativos: obedece a uma racionalidade própria, mas ninguém se dispõe a apoiar afectivamente a decisão. A mobilização entre os socialistas, já se percebeu, será escassa e o resultado eleitoral condizente. Ironia das ironias, Manuel Alegre, que se afirmou decisivamente no PS como um dos mais veementes opositores das estratégias entristas nos anos 70 (que visavam esquerdizar o PS desde o seu interior), é hoje um aliado objectivo do novo entrismo. A estratégia política do BE, o único partido de facto mobilizado no apoio a Alegre, é clara: promover uma cisão no PS e sobre os seus escombros reerguer uma nova esquerda. É por isso que, do mesmo modo que o apoio a Alegre faz todo o sentido para o BE, não faz sentido nenhum para o PS de Sócrates. O problema é que também não faz sentido para quase mais ninguém no PS. Alegre sem o PS não é um candidato vitorioso, mas Alegre com um apoio burocrático do PS é um candidato perdedor. Como se não bastasse, a sua derrota funcionará como uma espécie de vacina para a possibilidade de um PS simultaneamente ganhador e ancorado à esquerda. A única forma de, a partir do centro, esvaziar eleitoralmente o BE e o PC, garantindo a governabilidade à esquerda.
publicado hoje no i.