"I hope the fences we mended
Fall down beneath their own weight"

John Darnielle

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sexta-feira, 7 de maio de 2010

pode alguém ser quem não é?

Alegre formalizou a sua candidatura presidencial e, não tarda, o PS apoiá-lo-á. Desde das últimas presidenciais, estava escrito que assim seria. Uma espécie de fatalidade à qual nenhuma das partes tinha capacidade de resistir. Mas Alegre e o PS vivem enredados num dilema: Alegre sabe que um candidato ganhador precisa de ser capaz de alargar o seu espaço político de partida e o PS sabe que Alegre não é, na verdade, o candidato da sua linha estratégica dominante. Contudo, no anúncio em Ponta Delgada, Alegre-candidato revelou-se bem diferente de Alegre-proto-candidato. Onde antes havia um crítico do Governo em aspectos politicamente centrais, ouvimos um candidato alinhado com a estratégia de Sócrates. O candidato que esteve quase sempre com o “pé-fora” do PS, para recuperar a expressão de Soares, voltou agora a pôr o “pé-dentro”. Mas uma coisa são as proclamações, outra é a percepção que existe sobre o que Alegre e Sócrates representam politicamente. E, quanto a isso, não há interpretações alternativas: as visões de cada um são suficientemente diferentes para impossibilitar qualquer tipo de cooperação estratégica de facto. Alegre foi um candidato forte enquanto “maverick”, rebelando-se contra o poder do seu espaço de origem; o mesmo não é verdade para Alegre candidato artificialmente oficial do PS. Qualquer das duas versões está eleitoralmente limitada e, em política, não há nada pior do que se tentar ser o que não se é. No fim, restará uma disputa presidencial entre dois candidatos conservadores, ainda que com matrizes políticas diferentes. Entre Cavaco e Alegre ficará um amplo espaço político por representar.

publicado hoje no i.