Depois de ter estado uns tempos em banho-maria, regressou em força a ideia de que o Benfica de Jesus não tem dimensão europeia. Bem sei que a relação dos adeptos com o futebol é ciclotímica: variando entre a euforia e a depressão profunda. Mas convém, de quando em vez, racionalizar e colocar as coisas em perspetiva.
É uma evidência que a participação na Champions este ano alternou entre o medíocre e o sofrível. O Benfica podia e devia ter feito melhor. Apesar de estar num grupo muito equilibrado, pelo menos Zenit e Mónaco são equipas ao alcance do Glorioso. Mais: os sinais dados pelo treinador, nomeadamente em Leverkusen, indiciaram um desinvestimento na competição que teve consequências. Mas daí a concluir que o Benfica dos últimos anos não tem tido pedalada para as noites europeias vai um passo de gigante.
Talvez
valha a pena avivar a memória de alguns. Num passado não muito distante
o Benfica nem sequer se apurava para a Champions (não sei se têm
presente, mas nas 5 últimas temporadas o Benfica esteve sempre presente
na fase de grupos). Depois, em dois anos fizemos duas finais da Liga
Europa – há 24 anos que não marcávamos presença numa final europeia. E,
claro está, por muitas contratações que tenham sido feitas – e este ano
estão ainda por justificar os investimentos avultados em Samaris e
Cristante, já para não falar de Bebé, Benito e César –, nos palcos
europeus os orçamentos contam. Se olharmos para a folha salarial do
Benfica e a compararmos com a de outros clubes europeus, talvez se
perceba melhor a diferença competitiva.
O problema do Benfica não é ter ficado de fora da Europa em Dezembro. Aliás, com menos jogos para disputar, pode ser uma equipa bem mais forte no campeonato. O que é motivo de preocupação é que, ao dizer adeus à Europa, o Benfica pode estar a dizer adeus a jogadores fundamentais, já em janeiro.
publicado esta semana no Record.