"I hope the fences we mended
Fall down beneath their own weight"

John Darnielle

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quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

O Pós-Enzo



Após um "tiro no porta-aviões" dado pelo Braga e uma vitória com uma exibição sofrível face a um adversário medíocre, talvez valha a pena refletir sobre o que será o Benfica pós-Enzo. Até ver, as alternativas ao argentino para a posição 8 têm sido, para ser generoso, remediadas.

Talvez a questão se prenda mesmo com a posição 8. No modelo de Jesus, estamos a falar de um lugar muito exigente, onde participação nos momentos de organização ofensiva tem de estar articulada com grande intensidade nas transições defensivas. O número 8 do Benfica de Jesus é um autêntico pêndulo: está sempre presente a atacar e também a defender. Quer táctica, quer técnica, quer fisicamente, jogar naquele lugar está ao alcance de poucos. Na verdade, nos anos de Jesus, só Enzo e Witsel o fizeram com mestria (no primeiro ano, as circunstâncias eram diferentes, pois Ramires oferecia um grande equilíbrio à equipa desde as alas).

O que fazer agora? Se bem se percebe, o próprio Jesus parece hesitar. Quando parecia que Pizzi seria a alternativa ao argentino, recuperou a solução Talisca. A questão é que nenhum dos dois é, nem poderá ser, um clone de Enzo e todas as alternativas obrigarão o Benfica a mudar o seu sistema.


É mesmo caso para afirmar, parafraseando Jesus sobre Matic, que "para render Enzo, só nascendo dez vezes". Com uma agravante, Enzo é um jogador mais influente e determinante do que era Matic (o que não quer dizer que seja melhor jogador do que o sérvio).

Na impossibilidade de contratar um jogador de classe e maturidade, talvez seja preferível encontrar um modelo mais flexível, onde a equipa se adapte também ao perfil dos jogadores do plantel, em lugar de se forçar jogadores a serem o que não são. No fim, sobra uma certeza: uma vez mais, o caminho para o título dependerá da competência do treinador para ultrapassar dificuldades.


publicado no Record de ontem.