"I hope the fences we mended
Fall down beneath their own weight"

John Darnielle

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sexta-feira, 26 de março de 2010

O enigma Ferreira Leite

Havia uma racionalidade para a manutenção de Ferreira Leite na liderança do PSD após a derrota nas legislativas: viabilizar o Orçamento de Estado e o PEC e com isso libertar a próxima direcção, que não teria de aparecer ao lado do Governo na aprovação de políticas de austeridade. Depois das indecisões desta semana, a única explicação para a longa agonia em que a liderança do PSD se encontra desde Setembro desapareceu. As “famosas últimas palavras” de Ferreira Leite foram ditas ontem na reunião do grupo parlamentar: “ainda sou Presidente do partido e defendo a abstenção”. Dificilmente se encontraria maior sintoma de fragilidade política e melhor prova de que de pouco serviu a teimosia. Uma liderança demissionária é por natureza uma liderança frágil e sem nenhuma capacidade política. O PSD, em lugar de estar a escolher hoje o seu líder, já deveria ter resolvido o assunto em Novembro ou Dezembro. É o que se costuma chamar de “óbvio ululante” e a persistente má avaliação da imagem de Ferreira Leite nos barómetros desde as eleições é disso prova.
Mas se essa é uma parte do enigma, há outra que dificilmente encontrará explicação: o tipo de afirmação política que Ferreira Leite procurou. Uma combinação única entre falta de competências na comunicação política, com um discurso de um pessimismo sem paralelo e sem qualquer proposta para um caminho alternativo. Tudo isto pautado por um subtexto no qual categorias que deveriam ser marginais para a disputa política – da verdade ao carácter – foram centrais para a diferenciação do PSD face ao PS. Os resultados desta opção estratégica estão à vista: Ferreira Leite deixa o PSD com scores idênticos aos que herdou de Menezes.
comentário ao barómetro da Marktest, no último dia de Ferreira Leite líder do PSD (publicado no Diário Económico)