"I hope the fences we mended
Fall down beneath their own weight"

John Darnielle

padaoesilva@gmail.com

sábado, 6 de março de 2010

O nosso caso Lewinsky

A PT queria comprar a Media Capital e a Media Capital queria ser comprada pela PT, mas o negócio foi interrompido pela Golden Share. Foi o que nos disseram esta semana Zeinal Bava e Bernardo Bairrão. Estamos perante um caso de coito interrompido por interferência de terceiros. Face a isto, o Parlamento prepara-se para fazer uma comissão de inquérito, porque José Sócrates afirmou não saber do negócio que ambas as partes queriam, de facto, que fosse feito e que o primeiro-ministro não deixou que se fizesse. Estranho, mas é assim. De facto, em nome do interesse público, não faz sentido que a PT, enquanto existe golden share, regresse aos conteúdos. Mas uma coisa é desde já sabida: o Estado tinha poder para vetar o negócio, mas, tendo em conta a complexa estrutura accionista da PT, dificilmente poderia ser o seu artífice moral. Não deixa, aliás, de ser curioso que saibamos tanto sobre o papel de personagens menores neste enredo e tão pouco sobre o de actores determinantes (à cabeça, o Banco Espírito Santo). No fim, resta uma certeza. Teremos uma comissão de inquérito em tudo igual à que delapidou o capital político de Clinton. Também aqui o tema não será o direito a ter amantes, mas sim saber se um político pode cometer perjúrio. No fatídico dia 24 de Junho, Sócrates alegou desconhecimento de um negócio que era conhecido por muitos (e no qual os seus amigos políticos se puseram, no mínimo, em bicos de pés); agora, em Fevereiro, inaugura-se uma nova fase da vida política portuguesa. Vai ser avaliado, com os poderes parajudiciais que detém uma comissão de inquérito parlamentar, o papel da mentira na política.
publicado no i.