Frequentemente, quando se fala de classes médias em Portugal julgamos estar a falar de agregados com rendimentos em redor dos 2 mil euros mensais. Convém, no entanto, ter presente que a mediana salarial no sector privado encontra-se em redor dos 700 euros, ou seja, 50% da população portuguesa ganha até 700 euros (valor que aumenta se considerarmos o emprego no sector público). Ora são estas famílias que compõem o grosso da classe média. Para aliviar a sua situação material não podemos recorrer às políticas de protecção social, ao mesmo tempo que não podemos ficar à espera que o padrão de especialização da economia portuguesa se modernize o suficiente para permitir ganhos salariais significativos. Qual é o caminho que resta? Recorrer a instrumentos fiscais que redistribuam a favor das "famílias sanduíche", naturalmente retirando benefícios a quem tem rendimentos bem acima da mediana. Pode ser impopular dizê-lo, mas se nada for feito, estamos condenados a ter um conjunto crescente de famílias para as quais a ausência de expectativas sociais se transformará inevitavelmente numa desafectação face ao sistema político.
do meu artigo de hoje no Diário Económico.