As nossas sociedades vivem sob o espectro do envelhecimento.
Não deixa de ser paradoxal que o que durante muito tempo foi uma ambição quase utópica, uma vez concretizado, se tenha transformado na questão social dominante.
O efeito conjugado da melhoria dos cuidados de saúde, do ‘baby-boom' do pós-guerra e da actual baixa da natalidade, criou um mundo em que, pela primeira vez, o número de pessoas com mais de 65 anos superará o de crianças com menos de cinco. Esta é uma história de sucesso, mas torná-la sustentável passou a ser um desafio difícil de enfrentar.
Portugal encontra-se, a este como a muitos outros respeitos, numa situação particularmente preocupante: combina traços de modernidade (é um dos países mais envelhecidos) com marcas do passado persistentes. O que faz com que estejamos a envelhecer mais depressa do que a enriquecer, muito por força de taxas de emprego elevadas, mas assentes em baixos salários, o que tem levado a um declínio da fertilidade. Precisamos, por isso, de continuar a aumentar a qualidade de vida dos nossos idosos - libertando-os da pobreza e garantindo melhores cuidados de saúde - mas temos de criar condições para que seja possível compatibilizar trabalho com a possibilidade de ter filhos. A escola a tempo inteiro e a universalização da rede de pré-escolar foram passos decisivos nesse sentido. O desafio agora é, por exemplo, aumentar a taxa de cobertura de creches, dos actuais 30% para um valor que permita de facto compensar o envelhecimento da população com o nascimento de mais crianças.
texto publicado no Diário Económico como comentário a este estudo.