terça-feira, 7 de julho de 2009
A telescola ao contrário
Hoje o i tem uma entrevista onde Filomena Mónica revela as preciosidades do costume. A Ler deste mês tem uma excelente entrevista a Vasco Pulido Valente, que está naturalmente a anos luz da de Filomena Mónica. Contudo, ficamos a saber que ambos partilham uma característica: não saem de casa e não escondem a misantropia, que só pode coexistir com um desconhecimento profundo da vida das pessoas que existem mesmo, fora do saber livresco. Para quem gosta tanto de glosar, de modo aparentemente sofisticado, a expressão “isto só em Portugal”, é caso para dizer mesmo: só em Portugal é que é possível fazer carreira académica e, mais relevante, surgir como eminência intelectual, ao mesmo tempo que se faz gala em afirmar que se desconhece a realidade. Não há mal nenhum na misantropia, e até há boas razões para a atitude, mas a misantropia limita também a possibilidade de falar com propriedade do que de facto se passa e existe “à volta”. Depois, fico sempre com uma dúvida: não é no mínimo estranho que quem tem responsabilidades académicas em instituições públicas se vanglorie de estar sempre em casa? Estamos perante uma telescola ao contrário, onde são os alunos que estão na escola e os professores em casa? Ou contactar com alunos, orientá-los e dar aulas deixou de fazer parte das exigências de uma carreira académica, mesmo que de investigador emérito?