segunda-feira, 31 de maio de 2010
A liberdade que vem depois
Só depois do orgasmo somos verdadeiramente livres. Eu já tinha pensado nisso, mas nada como um especialista para nos falar, com propriedade, do totalitarismo do orgasmo.
O melhor de 2010
o melhor disco de 2010 é o On Fire dos Galaxie 500 (reeditado, remasterizado e a devolver-me aos meus 16 anos). Não há volta a dar. Soa ainda melhor agora do que me soava há 20 anos, numa velha k7 BASF, ouvida vezes sem conta. Que eu tenha descoberto isso um par de meses antes do Greenberg, deixa-me, devo confessá-lo, preocupado.
sábado, 29 de maio de 2010
Descer a Avenida
Entrámos na normalidade: o governo é penalizado nas sondagens e a contestação social aumenta. Hoje, dezenas de milhar de pessoas descerão a Avenida e nos próximos tempos a mobilização sindical intensificar-se-á. Faz sentido. Todas as crises são assimétricas, penalizam mais uns do que outros. Mas a crise tem servido para revelar também o profundo desajustamento entre a resposta política e o que seria necessário para lhe responder eficazmente. O movimento sindical mobiliza-se, os portugueses revelam o seu descontentamento, mas, temo dizê-lo, no essencial, não está nas mãos do governo a possibilidade de inverter a situação. O problema é que a crescente impotência dos governos nacionais coexiste com uma disputa política que se mantém presa às fronteiras do Estado-nação. Não temos uma Europa que reproduza as clivagens políticas tradicionais e nem sequer temos líderes europeus que consigam compensar essa insuficiência (como aconteceu no passado, com o eixo Kohl/Mitterrand, coadjuvados por Delors). Mas, para além da miséria dos outros, temos também a nossa miséria nacional. Quando mais precisávamos de um movimento sindical internacionalista, temos uma CGTP que cultiva uma política isolacionista. A recusa em aderir à nova Confederação Sindical Internacional pode parecer uma questão menor, mas não é: prejudica a nossa capacidade institucional para responder à crise. Hoje, em lugar de estar com os sindicatos europeus autónomos, a CGTP escolheu descer a avenida lado a lado com os sindicatos politicamente tutelados que pertencem à Federação Sindical Mundial. Os sindicatos de democracias pujantes como a Coreia do Norte, Bielorrússia ou Síria.
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sexta-feira, 28 de maio de 2010
O apoio burocrático
Neste fim-de-semana o PS apoiará, a contragosto, a candidatura presidencial de Alegre. Manuel Alegre amarrou o PS e Sócrates com uma passividade que lhe sairá cara politicamente, deixou que o PS ficasse amarrado a esta opção. Este apoio burocrático tem em si o entusiasmo dos actos administrativos: obedece a uma racionalidade própria, mas ninguém se dispõe a apoiar afectivamente a decisão. A mobilização entre os socialistas, já se percebeu, será escassa e o resultado eleitoral condizente. Ironia das ironias, Manuel Alegre, que se afirmou decisivamente no PS como um dos mais veementes opositores das estratégias entristas nos anos 70 (que visavam esquerdizar o PS desde o seu interior), é hoje um aliado objectivo do novo entrismo. A estratégia política do BE, o único partido de facto mobilizado no apoio a Alegre, é clara: promover uma cisão no PS e sobre os seus escombros reerguer uma nova esquerda. É por isso que, do mesmo modo que o apoio a Alegre faz todo o sentido para o BE, não faz sentido nenhum para o PS de Sócrates. O problema é que também não faz sentido para quase mais ninguém no PS. Alegre sem o PS não é um candidato vitorioso, mas Alegre com um apoio burocrático do PS é um candidato perdedor. Como se não bastasse, a sua derrota funcionará como uma espécie de vacina para a possibilidade de um PS simultaneamente ganhador e ancorado à esquerda. A única forma de, a partir do centro, esvaziar eleitoralmente o BE e o PC, garantindo a governabilidade à esquerda.
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quinta-feira, 27 de maio de 2010
Nunca é tarde
Record Club: INXS "Never Tear Us Apart" from Beck Hansen on Vimeo.
Tenho a leve impressão de que fui muito prejudicado na minha adolescência por não suportar os INXS, ou para o mesmo efeito os Depeche Mode. Há que ter os gostos musicais adequados. Como me foi possível provar, o que se passa neste filme é do domínio da ficção científica. Lembrei-me disto porque, como foi visível nos concertos dos XX e dos Grizzly Bear, o mundo mudou, mas já foi tarde para mim. Não sei se a Annie Clark, à época, gostou dos INXS, mas, agora que a ouço, quase que me sinto empurrado para uma conversão póstuma.
terça-feira, 25 de maio de 2010
Sem medo de ninguém
With my kid on my shoulders I try
Not to hurt anybody I like
But I don't have the drugs to sort it out
Os National after Moretti.
segunda-feira, 24 de maio de 2010
sábado, 22 de maio de 2010
O Vice Primeiro-Ministro
O último inquérito pós-eleitoral do ICS já trazia boas notícias para os partidos mais pequenos: as condições estruturais para o seu crescimento são reais (ver margens de erro). Mas o tom das entrevistas que Sócrates e Passos Coelho deram esta semana às televisões serviram para revelar que as condições conjunturais também concorrem para essa tendência. Se Sócrates teve de justificar o aumento de impostos e o adiamento dos grandes investimentos com o facto de o mundo ter mudado em poucos dias (o que não deixa de ser verdade), a posição de Passos Coelho também não é fácil. Depois de uma campanha interna em que prometeu poder ao aparelho e menos impostos ao eleitorado, a realidade impôs-se: perante a necessidade de salvar a economia portuguesa, Passos chegou a acordo para a aprovação de um pacote de austeridade que durará, segundo o próprio, durante 2010 e 2011. Inicialmente, o acordo parecia favorecer Passos: a photo opportunity em São Bento deu-lhe uma imagem de estadista que lhe faltava, sem os custos da partilha do poder numa conjuntura bastante complicada. Propostas como o tributo social, infelizmente, também não desagradam à maioria. Mas com o passar do tempo, à medida que o peso das medidas do lado da receita tem, segundo o próprio, de passar para o lado da despesa, Passos vai ter de se posicionar, revelando a sua agenda. O que implica falar de salários (função pública), de despedimentos (reforma laboral) e de cortes no Serviço Nacional de Saúde. O que não deixará de ter custos políticos. Não por acaso, o Bloco de Esquerda já lhe chama «o Vice Primeiro-Ministro».
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sexta-feira, 21 de maio de 2010
a gestão da contestação
A semana começou com uma comunicação do Presidente da República ao país e termina com uma moção de censura do PCP. Em ambos os casos, a contestação ao governo como pano de fundo. A moção do PCP é a expressão institucional da manifestação convocada para o próximo fim-de-semana. Nada de novo: o PCP sempre desempenhou esta função de socialização política da contestação, prejudicando o desenvolvimento de lógicas de negociação, mas evitando, apesar de tudo, o tipo de radicalismo a que assistimos, por exemplo, na Grécia. A outro nível, e em contextos económicos e sociais bem mais favoráveis, essa foi também uma das funções da Presidência da República: em público ou nos bastidores, Soares e Sampaio foram, frequentemente, a válvula de escape do regime, capazes de moderar reacções de interesses sociais afectados e de desbloquear alguns impasses na sociedade. Cavaco não tem sabido desempenhar essa função. Na segunda-feira dirigiu-se pela terceira vez ao país e pela terceira vez escolheu um tema considerado (pelo próprio) menor. Depois do Estatuto dos Açores e das escutas a Belém, desta vez veio justificar a promulgação do casamento gay. Foi uma promulgação mais sonora que muitos vetos, mas que desagradou tanto à sua base eleitoral como aos defensores da lei. Mais uma vez, não alargou o seu espaço político, num discurso em que o efeito da crise apareceu misturado com a "conflitualidade" que a igualdade de acesso ao casamento alegadamente gera. Que, perante isto, a esquerda não esteja com boas perspectivas para as presidenciais diz muito sobre o estado da esquerda. Mas talvez a moção de censura ajude a explicar.
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quarta-feira, 19 de maio de 2010
terça-feira, 18 de maio de 2010
O candidato Cavaco Silva
a propósito do que disse ontem Cavaco Silva ao país, o que penso é estranhamente o que disse logo a seguir e que pode ser visto no video.
a propósito, passarei a estar, a partir da próxima semana, todas as sextas-feiras no jornal das nove da tvi24, a comentar a actualidade com o Henrique Garcia.
a propósito, passarei a estar, a partir da próxima semana, todas as sextas-feiras no jornal das nove da tvi24, a comentar a actualidade com o Henrique Garcia.
Ainda salvos pela Europa?
(...) É essa a lição dos últimos meses e que se agudizou na semana passada, com a saída encontrada para fazer face ao ataque especulativo às dívidas soberanas da zona euro. Uma saída que representa um golpe profundo na soberania nacional, sem que lhe esteja associada uma (re)legitimação do processo de integração. O que a Europa nos propõe é uma gestão financeira da crise, sem qualquer tipo de estratégia económica e que se limitará a reproduzir os desequilíbrios do passado: crescimentos anémicos; desemprego alto e pressão fiscal crescente.(...)
do meu artigo de hoje no Diário Económico.
do meu artigo de hoje no Diário Económico.
Bluesology
Foi assim que ontem Gil Scott-Heron classificou o seu trabalho. Hoje faz 30 anos que morreu o mestre da bluesology. Há cinco anos, escrevi isto na defunta A Capital. Provavelmente não me tem dado muita saúde, mas não consigo deixar de ouvir hoje Joy Division da mesmíssima maneira como ouvi, pela primeira vez, já lá vão mais de vinte anos.
segunda-feira, 17 de maio de 2010
sábado, 15 de maio de 2010
Os pobres eram o problema
Vale a pena recuar umas semanas até à apresentação do PEC. Na altura, foi revelada uma inusitada preocupação com o peso das prestações sociais não contributivas e do subsídio de desemprego na despesa pública. Aliás, a preocupação era tal que o principal resultado prático da primeira aparição conjunta de Sócrates com Passos Coelho foi a antecipação do aperto na protecção social face ao calendarizado. É o que se pode classificar como um exercício puramente político e cosmético. O essencial dos nossos problemas não é o excesso de protecção social dos mais desfavorecidos e o impacto orçamental das alterações propostas não só será reduzido, como em muitos casos terá custos administrativos adicionais. Esta semana, quando governo e oposição foram obrigados a fazer o inevitável para enfrentar a deriva especulativa e para responder ao que é a actual miséria política europeia, tornou-se ainda mais claro o erro que foi cometido. Os ajustamentos violentos que são inevitáveis para restaurarmos a nossa credibilidade financeira precisam de ser compensados por uma rede de mínimos sociais eficaz e solidária. Exactamente o que se procurou deslegitimar politicamente há um par de semanas. Nos últimos anos, muito por força das medidas que agora se criticam, Portugal diminuiu a sua taxa de pobreza e a percentagem de desempregados a receber subsídio foi sempre crescente. Nos próximos anos, acontecerá exactamente o contrário. Quando se tem de aumentar a pressão fiscal, retrair o investimento público e, consequentemente, se congela o mercado de trabalho, talvez não fosse má ideia não tocar no estado social.
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sexta-feira, 14 de maio de 2010
A desorientação é o regime
E num instante tudo muda. Há dias, o risco de incumprimento do nosso PEC radicava num cenário macroeconómico optimista. As instâncias internacionais desconfiavam da nossa capacidade para crescer, mesmo que a um ritmo medíocre. Pelo caminho, o garrote do financiamento tinha-nos sido apertado, de modo a garantir que não cresceríamos sequer como o previsto. Esta semana, como que para provar a irracionalidade em que tudo assenta, o INE revelou um crescimento do produto no 1º trimestre inesperado, mesmo para os mais optimistas. Depois, o pouco investimento público que restava, e que na semana passada nos era apresentado pelo governo como estratégico, foi directamente para o caixote do lixo da história. Ficámos, portanto, a saber que a velha máxima do futebol de que "o que hoje é verdade, amanhã pode ser mentira" contagiou definitivamente a política. Entretanto, a mesma Europa, que defendia há um par de meses que a retirada precoce dos estímulos às economias produziria um efeito recessivo profundo, abriu as portas à possibilidade de intervir nos orçamentos nacionais, enquanto empurrava os países para um regresso em força à disciplina orçamental apertada. Por cá, onde a desorientação é o regime há vários meses, governo e PSD entenderam-se para assegurar definitivamente que o nosso ajustamento não assentará em nenhuma estratégia económica, mas numa recessão duradoura. Se íamos crescer pouco, o mais certo é que agora não sejamos capazes de crescer. No meio da desorientação, talvez não fosse má ideia que alguém aproveitasse para dizer que, sendo assim, chegaremos a 2013 com níveis de desemprego iguais ou superiores aos que temos hoje.
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quinta-feira, 13 de maio de 2010
Risco de incumprimento
Ameaçado por risco de incumprimento de afazeres académicos, tenho tido a sorte de, num difícil exercício de insonorização, me ter conseguido manter num reduto de laicismo, mas também me tem sido impossível seguir muito atentamente aquilo que se está a passar na Europa, com réplicas que se fazem sentir de modo devastador em Portugal. Mas, do que li, sublinho em particular este texto do Pedro Lains, este do Jorge Bateira, este do João Pinto e Castro e ainda este do João Galamba.
quarta-feira, 12 de maio de 2010
I was dressed for success / But success it never comes
Corre por aí, entre o grupo excursionista que se deslocou aos National+Pavement, o boato de que combinei o dress code com o Stephen Malkmus. Na verdade, confirma-se, ainda que tenha optado por não usar a t-shirt lilás que ele ostentava (cada um sabe de si).
terça-feira, 11 de maio de 2010
Fé e dogmas
Se me perguntarem a que é que eu pertenço, só há mesmo uma coisa que respondo sem hesitação. Se me perguntarem o que é que faz com que de facto me emocione para além do meu controlo, a resposta é a mesma. Eu fui e continuo a ser aquele miúdo que chorou quando o Benfica marcou contra o Liverpool este ano e mantenho uma memória fotográfica de muitas tardes passadas no velho estádio da Luz. Eu e mais centenas de milhares de outros portugueses - os portugueses que olham com desconfiança para a selecção e que preferem ver o David Luiz a titular do escrete ou o Di Maria a fazer o Maradona sorrir do que a ter de conviver com os nossos jogadores lado a lado com os dos rivais. Sou por isso um dos milhares de benfiquistas para quem este título valeu por muitos outros. Já vi muitas vezes o Benfica campeão, já vibrei com muitas vitórias históricas, mas, admito, é diferente vencer à Trappattoni e vencer jogando como jogámos esta época, naquele carrossel mágico de que tenho a certeza nunca mais me esquecerei. Quando precisar de me emocionar, sei sempre que posso recordar-me do que vi este ano e que, tenho fé, se repetirá para o ano e nos próximos.
Dois lamentos e uma proposta construtiva
Como não tenho twitter, tem de ser aqui. Sou prova empírica que isto do Vulcão é mesmo uma grande merda: não fui ao marquês, não vi o jogo, mas fui salvo pelos sms de uma mão-cheia de amigos. Por outro lado, nos últimos dias tenho-me lembrado muito do Johnny Rotten no último concerto dos Sex Pistols, quando se virou para o público e disse: "Ever get the feeling you've been cheated?. Tenho ainda uma proposta: alguém devia organizar uma excursão de ex-seleccionadores nacionais (e também de treinadores campeões) para ser recebida pelas mais altas instâncias nacionais (do sr. Madaíl ao dr. Cavaco), para que a ida do Prof. Queiroz (o homem novo que o dr. Cavaco anunciou aqui há uns anos) ao Mundial fosse suspensa.
sábado, 8 de maio de 2010
A grande recessão
Numa semana, forçados pela pressão externa, havia entendimento entre PS e PSD sobre a necessidade de implementar o PEC. Noutra semana, reaberta a disputa política interna sobre as “grandes obras”, o entendimento desfez-se em ar. Nenhuma das instituições internacionais que se pronunciou sobre o nosso PEC identificou o investimento público nele previsto como um risco. Aliás, o risco de incumprimento reside, no essencial, num cenário macroeconómico optimista, mesmo incluindo o pouco investimento público que resiste. Com aeroporto e TGV – que não poderão deixar de ter impacto positivo na nossa competitividade externa no médio prazo –, chegaremos ao fim do PEC com o desemprego em 9,3% e o crescimento do produto em 1,7%. E uma coisa é certa: sem que se vislumbre um modelo alternativo ao que tem dominado nas últimas décadas, um corte total, drástico e de um dia para o outro de todo o investimento público teria um impacto dramático – uma recessão profunda, duradoura, acompanhada por um disparar do desemprego bem para além dos actuais 10%. Neste cenário, tornar-se-ia, por exemplo, impossível promover qualquer tipo de consolidação orçamental. As profundas alterações das nossas condições de financiamento e o fim do “dinheiro barato” são óptimos pretextos para racionalizar o investimento público, colocando fim a muito desperdício e dando prioridade aos que têm melhor rendibilidade privada. Mas entre esse exercício e parar tudo vai uma grande diferença. No fundo, a diferença entre o mantra tantas vezes repetido de que “o País tem de aumentar a sua competitividade” e a capacidade de ter, de facto, uma política económica que torne Portugal viável.
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sexta-feira, 7 de maio de 2010
pode alguém ser quem não é?
Alegre formalizou a sua candidatura presidencial e, não tarda, o PS apoiá-lo-á. Desde das últimas presidenciais, estava escrito que assim seria. Uma espécie de fatalidade à qual nenhuma das partes tinha capacidade de resistir. Mas Alegre e o PS vivem enredados num dilema: Alegre sabe que um candidato ganhador precisa de ser capaz de alargar o seu espaço político de partida e o PS sabe que Alegre não é, na verdade, o candidato da sua linha estratégica dominante. Contudo, no anúncio em Ponta Delgada, Alegre-candidato revelou-se bem diferente de Alegre-proto-candidato. Onde antes havia um crítico do Governo em aspectos politicamente centrais, ouvimos um candidato alinhado com a estratégia de Sócrates. O candidato que esteve quase sempre com o “pé-fora” do PS, para recuperar a expressão de Soares, voltou agora a pôr o “pé-dentro”. Mas uma coisa são as proclamações, outra é a percepção que existe sobre o que Alegre e Sócrates representam politicamente. E, quanto a isso, não há interpretações alternativas: as visões de cada um são suficientemente diferentes para impossibilitar qualquer tipo de cooperação estratégica de facto. Alegre foi um candidato forte enquanto “maverick”, rebelando-se contra o poder do seu espaço de origem; o mesmo não é verdade para Alegre candidato artificialmente oficial do PS. Qualquer das duas versões está eleitoralmente limitada e, em política, não há nada pior do que se tentar ser o que não se é. No fim, restará uma disputa presidencial entre dois candidatos conservadores, ainda que com matrizes políticas diferentes. Entre Cavaco e Alegre ficará um amplo espaço político por representar.
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quinta-feira, 6 de maio de 2010
Amanhã, em Paris de França, vão estar juntos (depois conto)
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"You've been humming in a daze forever
Praying for Pavement to get back together"
The National, so far around the band
quarta-feira, 5 de maio de 2010
Se isto não é rock'n'roll
"and so now when i drink im going to drink to excess
and when i smoke i will smoke keep it in hold it in my chest
and when i scream i will scream until im gasping for breath
and when i get sick i will stay sick for the rest of my
days peddling hate at the back of a chevy express
each one will fly into the face of your idea of success
and if this be thy will then fuckin' pass me the cup
and im sorry dad no i'm not making this up!
but my enemies feel on the name under my wrist as i go to sleep and i know what little ive known of peace until ive done to you what you've done to me.
and i'd be nothing without you my darling please dont ever leave me.
please dont ever leave"
Titus Andronicus, the battle of hampton roads (só mesmo ouvindo)
The enemy is everywhere
Tenho andado com muito pouco tempo para me dedicar a coisas importantes, mas tenho ouvido muito este disco e ainda não me tinha apercebido que o queria dizer sobre ele era exactamente o que aqui se escreveu. Peço desculpa por ser em estrangeiro, mas era isto que eu queria ter escrito:
"I'm not sure what else I can say about Titus Andronicus' stellar album The Monitor that hasn't already been said. It's about the Civil War as much as it is about New Jersey as much as it's about disaffected youth. That is to say it is about a lot of BIG things. That is also to say it's gonna take a lot of listens before I can unpack it all.
But that's a beautiful thing, because it sounds about as big as the subject matter it covers. Not in an overblown way though, more like an out-of-breath way. There might as well not even be a track listing because every song just sort of ramshackle-y unravels, verse piled on verse, and spills into the next, but in the best possible way. It kind of sounds like a much punkier, more youthful version of The Hold Steady, with all the Springsteen worship to boot. (Check out the lyrics in epic opener "A More Perfect Union", "tramps like us, baby we were born to die!") In other words, it's the sound of something exciting looking forward and looking back."
(no youtube arranja-se uns videos manhosos da "battle of hampton roads" (assim os melhores 14 minutos que o rock nos deu nos últimos anos)
"I'm not sure what else I can say about Titus Andronicus' stellar album The Monitor that hasn't already been said. It's about the Civil War as much as it is about New Jersey as much as it's about disaffected youth. That is to say it is about a lot of BIG things. That is also to say it's gonna take a lot of listens before I can unpack it all.
But that's a beautiful thing, because it sounds about as big as the subject matter it covers. Not in an overblown way though, more like an out-of-breath way. There might as well not even be a track listing because every song just sort of ramshackle-y unravels, verse piled on verse, and spills into the next, but in the best possible way. It kind of sounds like a much punkier, more youthful version of The Hold Steady, with all the Springsteen worship to boot. (Check out the lyrics in epic opener "A More Perfect Union", "tramps like us, baby we were born to die!") In other words, it's the sound of something exciting looking forward and looking back."
(no youtube arranja-se uns videos manhosos da "battle of hampton roads" (assim os melhores 14 minutos que o rock nos deu nos últimos anos)
terça-feira, 4 de maio de 2010
O bloqueio e Alegre
A candidatura que Manuel Alegre hoje oficializa é, no essencial, uma tentativa para enfrentar o bloqueio estrutural da esquerda portuguesa: apesar de eleitoralmente maioritária é incapaz de garantir condições efectivas de governabilidade. Mas se Alegre, ao contrário do PS de hoje, tem a virtude de tentar enfrentar este bloqueio, infelizmente não contribui estrategicamente para o ultrapassar. Pelo contrário, a sua candidatura pode funcionar como uma espécie de vacina que inviabilize um PS modernizador e ancorado à esquerda.
O principal desafio da social democracia na Europa ocidental é ter uma agenda que faça da sustentabilidade financeira do Estado Providência a sua prioridade política. Ora Alegre, nuns casos colocou-se à margem de todas as discussões sobre este tema que ocorreram em Portugal nas últimas décadas, noutros foi um destacado opositor de medidas que tinham este objectivo. Da diferenciação das prestações familiares ainda com Guterres, passando pela disciplina orçamental no SNS com Correia de Campos e pela introdução do factor de sustentabilidade na segurança social com Vieira da Silva, até à opção pela adaptabilidade externa na reforma da regulação laboral, Alegre ou esteve ausente ou foi porta-voz da oposição política a estas medidas.
Num contexto de austeridade como o que vivemos, o sucesso de Alegre depende mais de libertar-se do conservadorismo de esquerda que tem sido a sua marca distintiva, do que de corrigir o afastamento recente em relação ao seu espaço político de origem. Seria um contributo relevante para a construção de um centro-esquerda capaz de crescer eleitoralmente à esquerda. Pelo contrário, uma candidatura conservadora nos costumes e imobilista nas políticas públicas serve apenas dois objectivos: consolida o bloco político conservador e assegura que o PS encontra na sua ala esquerda, por paradoxal que possa parecer, o melhor dos pretextos para se ir, cada vez mais, descaracterizando ideologicamente.
excerto do meu artigo de hoje no Diário Económico.
O principal desafio da social democracia na Europa ocidental é ter uma agenda que faça da sustentabilidade financeira do Estado Providência a sua prioridade política. Ora Alegre, nuns casos colocou-se à margem de todas as discussões sobre este tema que ocorreram em Portugal nas últimas décadas, noutros foi um destacado opositor de medidas que tinham este objectivo. Da diferenciação das prestações familiares ainda com Guterres, passando pela disciplina orçamental no SNS com Correia de Campos e pela introdução do factor de sustentabilidade na segurança social com Vieira da Silva, até à opção pela adaptabilidade externa na reforma da regulação laboral, Alegre ou esteve ausente ou foi porta-voz da oposição política a estas medidas.
Num contexto de austeridade como o que vivemos, o sucesso de Alegre depende mais de libertar-se do conservadorismo de esquerda que tem sido a sua marca distintiva, do que de corrigir o afastamento recente em relação ao seu espaço político de origem. Seria um contributo relevante para a construção de um centro-esquerda capaz de crescer eleitoralmente à esquerda. Pelo contrário, uma candidatura conservadora nos costumes e imobilista nas políticas públicas serve apenas dois objectivos: consolida o bloco político conservador e assegura que o PS encontra na sua ala esquerda, por paradoxal que possa parecer, o melhor dos pretextos para se ir, cada vez mais, descaracterizando ideologicamente.
excerto do meu artigo de hoje no Diário Económico.
segunda-feira, 3 de maio de 2010
sábado, 1 de maio de 2010
imitem a Europa: entendam-se
Por lirismo ou pura irresponsabilidade, o país pôs-se numa posição singular no contexto da zona euro. E não, não é o risco da dívida soberana. A nossa maior singularidade é política. Na Europa há governos de maioria absoluta, de coligação no executivo ou assentes em coligações parlamentares. O que não existe são governos minoritários sem entendimentos parlamentares estáveis. O caso português é único e, por alguma razão, ninguém replica o nosso experimentalismo. Num contexto de crescimento económico, com maior ou menor vigor reformista, a governabilidade é possível sem um apoio maioritário. Num contexto de austeridade, é irresponsável go-vernar sem uma maioria estável. Se as eleições não produzem esse resultado, o mínimo que se exige à classe política é que seja capaz de se entender. Nos últimos seis meses, com responsabilidades repartidas, os partidos portugueses entretiveram-se a votar favoravelmente medidas que aumentam a despesa (acordo sobre a carreira dos professores) e que diminuem a receita (chumbo do Código Contributivo e suspensão do pagamento especial por conta). Esta semana, num gesto essencialmente simbólico, Sócrates e Passos Coelho apareceram lado a lado em São Bento. Fizeram-no condicionados pela pressão externa, mostrando mais uma vez que nos maus momentos temos de ser ajudados a partir de fora. É pena que PS e PSD tenham demorado seis meses a perceber o óbvio: uma crise destas não se enfrenta com coligações pontuais e com governação à vista. Mas é bom que percebam também que, sendo um passo positivo, a solução não radica em conferências de imprensa.
publicado hoje no i.
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