"I hope the fences we mended
Fall down beneath their own weight"

John Darnielle

padaoesilva@gmail.com

sábado, 30 de abril de 2011

O melhor é pedir já asilo

A tentativa de criminalização do PS não começou ontem, nem sequer se iniciou com Sócrates. Mas, na verdade, tem, nos últimos anos, atingido proporções impensáveis e encontrado activistas entre protagonistas improváveis. Hoje, acordei e fiquei estupefacto com as declarações que li de Catroga (que é o senador que Passos Coelho tem para apresentar). Estou suficientemente à vontade, pois tenho a meu favor um número suficiente de discordâncias com o Governo de Sócrates e o que tem sido a sua linha de actuação (e, aliás, não vejo dificuldade em, à direita, se definir uma linha programática coerente que, além do mais, deveria permitir uma vitória eleitoral folgada), mas, confesso, que esta insistência do PSD na criminalização, por todos os meios possíveis, da acção de Sócrates, sendo, no imediato, uma confissão da incapacidade de vencer politicamente o actual primeiro-ministro (que começa a assumir contornos patológicos), tornou-se um passo que nos envia a todos para terrenos muito perigosos – dos quais teremos muita dificuldade em sair durante demasiado tempo. Perante o nível do nosso “debate”, não posso deixar de pensar que se eu, que sou politizado (provavelmente demasiado), só tenho vontade de me manter afastado do país e da nossa política, que pensarão os outros portugueses que seguem com salutar distância o quotidiano político? Depois admirem-se do resultado eleitoral que vão ter e da sepultura que, pelo caminho, estão a cavar para todos nós.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Greetings from Asbury Park (revisitado)



Em estreia mundial para Portugal.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

A riot of my own

Note to self: vamos cometendo muitos erros, o menor dos quais não foi certamente ter-me afastado do pós-punk 'camusiano' (The Fall), do hard-core como 'cosa mentale' (Naked City), nem do punk regado a Guiness (Pogues) ou pura e simplesmente daquele que encontrava a energia primitiva no baixo materialismo (Clash). Ontem, regressei a tudo isso e tive a certeza da dimensão do erro. Os Double Dagger reconciliaram-me com os Fall e com os Titus Andronicus assisti (e participei com a moderação possível), durante os cerca de vinte minutos da sequência "the battle of hampton roads" e "a more perfect union", a uma descarga de energia e de suor que me fez andar para trás. Mas, em dia de programa de governo, nada como voltar a erguer o punho e, emocionado, gritar "white riot. I wanna a riot of my own", durante a breve citação dos Clash durante "fear and loathing in Mahwah, NJ". Se não é para isto que serve o rock'n'roll.

Para os resistentes, aqui fica a actuação dos Titus Andronicus no Coachella este ano (com luz do dia e palco festivo a estragar a festa) e ainda os Double Dagger (um trio de voz, baixo e bateria que parece resultar das frustrações de três teses de doutoramento sobre o idealismo alemão).





para os menos resistentes, 'the battle of hampton roads' em todo o seu esplendor.

Titus Andronicus | FOR NO ONE from FOR NO ONE on Vimeo.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Encenação do fim


É mesmo caso para perguntar: "are you ready for this?"

sábado, 23 de abril de 2011

Pescado à linha

"Após o surpreendente resultado de Fernando Nobre nas presidenciais, fiquei com uma certeza. Hoje, se o “Rato Mickey” se candidatar a eleições em Portugal, com uma plataforma programática suficientemente confusa e centrar o essencial do seu discurso na crítica aos partidos, arrisca-se a ter 10% dos votos. O terreno está fértil para quem ataque ou parodie o sistema político e, como se tem visto nas últimas semanas, com o triste espectáculo de cacofonia em torno do resgate financeiro, os partidos não perdem uma oportunidade para confirmar a má opinião que deles se faz. Nobre foi mais um a pôr-se de fora e a lucrar eleitoralmente com essa atitude. Mas se há quinze dias sabíamos que Nobre era crítico dos partidos, esta semana ficámos a saber que, no fundo, o problema dos partidos era simples: nunca o haviam convidado para um cargo à sua altura.
(...)
O problema não são as contradições de Nobre ou as posições divergentes face ao PSD, o que é lamentável é que os partidos pesquem independentes à linha, interiorizando as críticas que lhes são feitas, enquanto, ao fazerem-no, aproveitam para não enfrentarem nenhum dos problemas estruturais que levam a que cada vez menos as pessoas reconheçam os partidos como seus representantes legítimos.(...)"
o resto do meu artigo publicado no Expresso de 16 de Abril pode ser lido aqui.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

No princípio, era o ritmo


Há perto de três décadas, um nova-iorquino adoptivo deixava um conselho: “se dançarem, vão perceber a música melhor”. As palavras de David Byrne no início dos oitenta têm sido seguidas à letra por muita gente, mas dificilmente se encontrará um evangelizador tão dedicado como James Murphy. Primeiro como DJ e produtor na editora DFA, depois como líder dos LCD Soundsystem, Murphy colocou o ritmo como centro gravitacional da música – enquanto rompia os espartilhos que segmentavam a música de dança em vários sub-géneros, com poucos vasos comunicantes. A ambição dos LCD Soundsystem era promover uma síntese de (quase) todos os ritmos, vindos de (quase) todos os lados, num pastiche assumido, feito de citações e colagens. Foi com sentimento de missão cumprida que Murphy decidiu colocar fim à sua banda, com cinco concertos em Nova Iorque na semana passada.
Os funerais podem ser momentos de celebração e de evocação do passado. Durante uma maratona em que os LCD Soundsystem percorreram os seus três álbuns de originais, e ainda ‘45:33’ (uma peculiar encomenda da NIKE), não se sentiu nem nostalgia em relação a uma década que já não se repete, nem sentimento de perda, nem receio do vazio que se poderá seguir. Nada disso. Como se podia ler nas t-shirts à venda à entrada do recinto, a palavra de ordem foi mesmo “dançar, dançar, dançar, dançar”. Depois de três horas e meia de concerto, olhando para os rostos exauridos que iam abandonando a gigantesca pista de dança em que se transformou o Terminal 5, o que custa a perceber é como é que é possível que tanta gente dance ininterruptamente durante tanto tempo.
Quem esteve em palco não foi a formação tradicional dos LCD Soundsystem. Aliás, contabilizar o número de músicos que ia alternando de canção em canção foi um exercício difícil. Nunca menos de oito músicos em cena, aos quais se juntaram dois coros, um masculino e um feminino, separados fisicamente. Em muitos momentos, a banda foi aditivada por uma secção de metais (que deu um músculo extra, por exemplo, a ‘Sound of Silver’) e por vários convidados ao longo da noite (Phil Mossman, guitarrista na formação inicial, fez parte do trio de guitarras encarregue de pegar na linha melódica que David Bowie nos deixou em ‘Heroes’ e trazê-la até hoje, numa notável versão de ‘All I Want’, já perto do final do concerto).
Após um início frenético com ‘Dance Yrself Clean’, acompanhado por um chuva de pauzinhos florescentes, previamente distribuídos ao público, que voaram de todos os lados no preciso momento em que a batida se fez sentir pela primeira vez, os LCD foram andando para a frente e para trás na sua carreira: ‘Movement’ revelou-se a canção definitiva do electro-clash; ‘North American Scum’ soou como se fizesse parte do repertório dos White Stripes; ‘All my Friends’, provavelmente o momento da noite, foi reapropriado pela banda, expurgando o tema de qualquer elemento que remetesse para a versão indie-rock dos Franz Ferdinand, e tocado com uma pujança rítmica que se desconhecia; e ‘New York I Love You, But You're Bringing Me Down’, a encerrar o concerto, apelou ao sentimentalismo dos nova-iorquinos, uma cidade onde cosmopolitismo e solidão andam de mãos-dadas.
Mas nenhuma canção espelha de modo tão preciso o conceito que levou Murphy a formar a banda como o primeiro single, ‘Losing my Edge’, uma declaração de intenções. Quando, na fase final do concerto, Murphy, na frente do palco, de microfone bem junto à boca, ia enumerando, sobre uma batida viciante, um sem número de bandas do passado, ‘Losing my Edge’ ia-se transformando num legado para o futuro. Todo o tema é movido pela ‘ansiedade da influência’: por um lado, uma tentativa de consolidar o cânone da música de dança, expurgado de influências negras; por outro, o temor de perder o passo para as novas gerações, capazes de desbravar novos territórios. Por isso mesmo, foi só aí que o concerto soou a fim e a passagem de testemunho. Quando se ouvia, “I was there at the first Can show in Cologne” não era possível não pensar que, afinal, o projecto dos LCD Soundsystem só ganhará sentido se, daqui a uma década, um daqueles miúdos que dançou freneticamente durante três horas e meia, for capaz de reinventar de novo uma parte da música contemporânea e pegar no microfone para cantar: “eu estive lá, no último concerto dos LCD Soundsystem, em Nova Iorque”.

texto publicado no Atual (Expresso) de 9 de Abril.

reparem no que aconteceu ao minuto 4 deste video, que foi também o minuto 4 do concerto.

LCD Soundsystem T5 3/30/2011 from Michael Williams on Vimeo.

domingo, 17 de abril de 2011

Um congresso de silêncios

"(...) As circunstâncias e a convergência táctica vão, mais uma vez, adiar debates nucleares.
Como consequência da opção por apenas governar em maioria absoluta ou isolado, no último ano e meio o PS afastou-se do arco da governabilidade. Como as maiorias absolutas são uma excepção no nosso sistema eleitoral, o PS tem de ter uma estratégia alternativa. Uma coligação com o PSD não é sustentável e coligações à esquerda não são programaticamente viáveis. Resta crescer eleitoralmente à esquerda. O que implica, por um lado, uma estratégia que esvazie o PCP autárquico – a âncora do poder do partido – e, por outro, romper com a ilusão de que é possível a um partido social-democrata viver de costas voltadas para o movimento sindical (um efeito colateral do deslumbramento sistemático com tudo o que é moderno).
Do ponto de vista programático há uma prioridade que se sobrepõe a todas as outras: abandonar a língua de pau em que se transformou o discurso sobre a Europa. Hoje, o consenso europeísta não representa nada. No passado, esse era um ponto de união entre PS e PSD, agora a linha de demarcação depende dos temas europeus. O dilema é simples: ou a social-democracia se reergue através de uma nova política europeia ou não tem futuro. Actualmente, o mantra do europeísmo não passa de uma encenação do fim.
Finalmente, o fechamento partidário. Nos últimos anos, o PS foi alternando entre simulacros de debate e silêncios ensurdecedores. A combinação de centralismo democrático com uma direcção focada na figura do líder é um factor de enfraquecimento. O PS não sabe promover debate orgânico e vive desconfortável com as vozes autónomas. Essa atitude diminui o pluralismo, tem enfraquecido a capacidade do partido para representar a sociedade e, ainda mais grave, reproduz uma volatilidade programática, particularmente notória desde o início da crise. Sem programa estável e sem novos protagonistas, o PS constrói o seu próprio declínio.
Talvez fosse útil ao PS discutir estes ou outros assuntos durante o fim-de-semana. Mas temo bem que seja pedir de mais."

a versão integral do meu artigo publicado no Expresso da semana passada pode ser lida aqui.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Em inglês técnico

Não sei se leram hoje o NY Times.

"Portugal's plea for help with its debts from the International Monetary Fund and the European Union last week should be a warning to democracies everywhere." ler o resto aqui.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Quem é que estava à rasca?

"(...) o ‘ai, ai, ai, ai’ que se gerou em torno dos cortes das pensões foi o que desencadeou a crise política surreal que vivemos. De tal modo que o PSD, depois de meses e meses a insurgir-se contra subidas de impostos, logo se apressou a trocar os cortes nas pensões por um aumento do IVA. Para quem defendia redistribuição a favor da ‘geração à rasca’, estamos conversados.
O tema das pensões é terreno fértil para todas as demagogias. Vale a pena recordar duas coisas.
Havendo grande concentração de pobreza entre os pensionistas, nem todos os reformados com pensões baixas são pobres. Pelo contrário, por força da deslegitimação, que durou décadas, dos descontos para a segurança social, muitos deles encontraram formas de poupança que explicam que, hoje, o seu rendimento disponível seja superior. Ao mesmo tempo que muitos reformados acumulam pensões, nomeadamente por terem feito descontos como emigrantes.
Não faz sentido tomar o valor das pensões mínimas como sendo o rendimento dos pensionistas pobres. Com a introdução do completamento solidário para idosos, os pensionistas com rendimentos inferiores a 419 euros têm uma prestação diferencial que perfaz esse montante (sim, é muito pouco). Aliás, hoje, as pensões mínimas não sujeitas a condição de recursos são mecanismos de reprodução de desigualdades – o que justificaria que, por exemplo, se acabasse com a pensão social.
Se o discurso da redistribuição de recursos a favor dos jovens é para ser levado a sério, era bom debater seriamente as pensões (nomeadamente as não contributivas), em lugar de se embarcar numa espiral de demagogia desbragada a que ninguém resiste. Mas a explicação para que isso aconteça é singela: os pensionistas votam, os ‘jovens à rasca’ deixam-se ficar em casa. Enquanto assim for, não esperem muito."
o resto do meu artigo publicado no Expresso de 2 de Abril pode ser lido aqui.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Bankrobber



Daddy was a bankrobber
But he never hurt nobody
He just loved to live that way
And he loved to steal your money

para ouvir aqui.

Algumas instruções gerais

"(...) Do not be defeated by the
Feeling that there is too much for you to know. That
Is a myth of the oppressor. You are
Capable of understanding life. And it is yours alone
And only this time (...)"

Seria uma pena que não aproveitassem algum tempo para ler as 233 linhas deste poema do Kenneth Koch, sempre ficam a saber como é que se prepara um polvo morto.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

O João Lopes

"(...) Sócrates capitulou... — é tanto mais interessante quanto ilustra, de forma muito directa e reveladora, o processo de delirante fulanização com que, em quase todos os espaços dos meios de comunicação (com especial intensidade nas televisões), tem sido tratada a gestão-Sócrates. Há, por certo, diferenças significativas entre os vários meios de comunicação. Em todo o caso, por todos eles perpassa quase sempre uma crença banalmente teológica: se não existir mais nada para descrever ou explicar os nossos problemas, use-se a palavra "sócrates"."
ler o resto aqui (custa-me muito dizer, mas é literalmente uma das poucas formas de vida inteligente que resta nos media em Portugal).

Country Disappeared

Wilco - Country Disappeared | A Take Away Show from La Blogotheque on Vimeo.


Wake up we're here
It's so much worse than we feared
There's nothing left here
The country has disappeared
If the winter trees bleeding, leave red blood
The summer sweet dreaming, april blush
But none of that is ever gonna mean as much to me again.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

All sound like a dream to me



Para quem cresceu a ouvir música nos anos oitenta, é reconfortante saber que há quem não se envergonhe por fazer um disco que se parece tal e qual com a 'música de dança para ouvir sentado na esplanada ao fim da tarde' que se fazia então. Os Destroyer de Dan Bejar têm um disco novo que soa a música de dança gramsciana (os Scritti Polliti), com os coros femininos e o baixo ondulante dos Prefab Sprout, tudo condimentado pela melancolia pós-festiva dos Blue Nile. Mas se em disco agora são assim, em palco o regresso ao passado é ainda mais assumido: solos de saxofone e de trompete, raparigas saídas da 'smash hits' de cabelo descolorado nas teclas e coros e a dose q.b. de piroseira. Ontem à noite, foi só pena ninguém ter dançado.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Eu não peço desculpa

Andam para aí uns gajos que dizem que são do Glorioso a falar em fair-play e que devíamos ter pago uns minutos extra de electricidade no Domingo. Fazem parte de um conjunto de gente que se formou nos pedidos de desculpas e que confunde futebol com ginástica rítmica. Quero que se lixem e que vão jogar bridge ou golf. Não faço ideia do que se passou no Domingo. O Maxi não jogava, eu estava noutro lado do mundo, e não quis saber. Mas suspendo momentaneamente o meu black-out para dizer que tenho uma grande satisfação por ver o meu clube dirigido por um conjunto de tipos que renunciaram ao registo totó. Do Rui ao Jorge, passando pelo Presidente. Assim, vamos lá. Só falta arranjar finalmente uns tipos do Benfica para porem em sentido os avençados dos outros clubes nos programas de debate na TV.
(11.740)

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Uma intervenção surreal no meio de um processo político de loucos

Para quem tenha paciência, a partir do minuto 6 dou a minha opinião sobre o que se está a passar em Portugal (com particular "enfoque" no papel de Cavaco Silva).

A loucura de Março


"(...) À distância, a sensação com que fico é que ‘a loucura de Março’ atravessou o Atlântico e instalou-se definitivamente em Portugal, mas com consequências materiais graves. Na semana em que a Europa debatia uma solução sofrível, mas que pouparia o país a um desastre imediato, a opção foi inviabilizá-la. Estávamos à beira do precipício e, de braços dados, optámos por dar um passo em frente. As responsabilidades são repartidas.(...)"
o resto do meu artigo do Expresso de 26 de Março pode ser lido aqui.