quinta-feira, 2 de julho de 2015
A autonomia de Vitória
Já ficou claro que esta época marcará uma ruptura
face ao Benfica dos anos anteriores. Há um par de dimensões em que os
sinais de mudança são, aliás, visíveis: na forma como o treinador se vai
integrar na organização e no aproveitamento da formação feita no
Seixal. Mas se é preciso que alguma coisa mude para que se mantenha a
dinâmica vencedora, é fundamental que se preserve parte importante do
legado.
Desde logo manter uma ideia de jogo
assertiva. Se olharmos retrospectivamente, a marca deixada por Jesus é a
nota artística, mas a diferença mais duradoura é inequivocamente uma
alteração na atitude com que o Glorioso passou a enfrentar os jogos. Com
consequências: hoje, quem joga com o Benfica joga para não perder. Na
Luz, mas, também, nos jogos fora. Para que o Benfica continue a ser uma
equipa temida, é preciso preservar uma ideia de jogo ofensiva.
Tão
importante como ter um modelo coerente com a natureza ganhadora do
Benfica, é Rui Vitória, à imagem do que aconteceu com Jesus, preservar
uma autonomia total para impor o seu sistema. A questão não é de
somenos. Depois de Jesus ter concentrado muito poder e de ter tido uma
margem de manobra significativa para decidir (quase) tudo (o que teve,
aliás, também custos – vide o não aproveitamento do Bernardo), é
tentador para o novo treinador procurar auscultar as várias
sensibilidades da estrutura antes de decidir. Seria um erro tremendo.
Se, por força das circunstâncias, as decisões de Rui Vitória passarem a
ser uma espécie de federação de opiniões, o Benfica está condenado a
falhar.
Quando se fala da necessidade de Rui
Vitória ter as mesmas condições de Jesus, é bom que se tenha presente
que não basta ter jogadores com igual qualidade. Tem também de lhe ser
garantida a autonomia e a capacidade de decidir a seu belo prazer de que
Jesus gozou.
publicado no Record de terça-feira (a Luz Intensa regressa daqui a 4 semanas, já em Agosto)
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