"I hope the fences we mended
Fall down beneath their own weight"

John Darnielle

padaoesilva@gmail.com

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Regressar à casa de partida

"(...) O que aconteceu é que, em lugar de serem os mercados a acreditarem na estratégia seguida, foram os próprios proponentes a fazê-lo, preenchendo as lacunas institucionais que existiam. E se tal aconteceu é por o caminho seguido até aqui ter falhado e não por ter sido um sucesso. Se, por absurdo, se acredita que este regresso aos mercados é resultado das políticas de austeridade, então é porque se continua a não compreender a natureza da crise da dívida soberana.
Alguma coisa mudou na Europa e, ainda que de forma oficiosa, o papel do BCE alterou-se, empurrado pela degradação da situação de Espanha e Itália. Com um inaceitável legado de destruição económica e de barbárie social (é disso que falamos quando se assiste à destruição em massa de postos de trabalho), a Europa criou as condições de viabilidade financeira de curto prazo para a sua própria estratégia.
Regressámos à casa de partida, mas acompanhados por uma enorme alteração nos equilíbrios de poder, que tem um efeito positivo na capacidade de financiamento dos países. Antes, a condicionalidade era negociada com a Troika (FMI, Comissão e BCE), no futuro passará a depender, cada vez mais, do BCE. Um novo monarca absoluto na política europeia, que centraliza as decisões e imporá condições, passando a deter o monopólio da violência económica e social. Que a estrutura de poder se altere de forma tão profunda e ninguém cuide de garantir níveis mínimos de legitimidade é elucidativo do desvario político que impera na Europa."
o resto do meu artigo do Expresso da semana passada está aqui.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Coisas que fazem mesmo toda a diferença



Quando se cumprem 50 anos da sua morte, há novas descobertas no espólio de Robert Frost. Ouvi-lo a dizer o "The road not taken" faz toda a diferença.

You'll never make it on to the stage. Never

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

A cada despedida


Eu sei que vou te Aimar
Por toda a minha vida eu vou te Aimar

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Estado Social, um obituário

"Ao longo de décadas de vida, o Estado Social foi fonte de segurança para gerações de portugueses. Ainda assim, o seu desaparecimento esta semana, recebido com pesar colectivo, não surpreende. Muito fragilizado por factores que escapavam ao seu controlo (ex. arrefecimento económico e envelhecimento), não resistiu à dor infligida por um diagnóstico combinado entre o Governo português e uma instituição internacional.
A simpatia com que era olhado por muitos portugueses assentava no facto de a sua passagem à maturidade ter correspondido a uma melhoria significativa das condições de vida de largos sectores da nossa sociedade, contribuindo pela sua ação persistente para a formação de uma, ainda assim incipiente, classe média. A expansão dos serviços por si oferecidos nas áreas da saúde e da educação foi, aliás, um cimento fundamental para a consolidação da democracia.
É difícil situar com exatidão o ano do seu nascimento, mas há um consenso alargado que refere a sua natureza tardia entre nós. Com raízes na primeira reforma do sistema corporativo em 1962, só se desenvolveu de forma robusta a partir de 1974, maturando com a adesão europeia, em 1986. O seu primo alemão, por exemplo, formou-se ainda sob a mão pesada de Bismarck, no final do século XIX, como forma de conter as reivindicações operárias e como instrumento ao serviço da criação de um novo Estado-nação. Já no Reino Unido, parente também próximo, a sua expansão é filha da democracia e da ascensão política do partido trabalhista, ainda que assente num relatório muito celebrado, elaborado por um deputado liberal, William Beveridge.(...)"

o resto do meu artigo do Expresso de 12 de Janeiro pode ser lido aqui.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Minta and the Brook Trout na Zona de Conforto


Hoje, a partir das 23 horas, na Zona de Conforto da TSF, vou estar à conversa com a Francisca Cortesão, a voz dos Minta & the Brook Trout. Olympia, o álbum que lançaram em 2012, pode bem ser descrito como um conjunto de canções simples, com arranjos destilados que nos embalam e melodias que, na sua melancolia, nos agarram e se tornam viciantes. 

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Ouçam isto


em 2013, vão ouvir mais e vai valer a pena

O limite do bom senso


"(...) Vale a pena refletir no que se passou na Letónia. Em 2009, esta república do Báltico foi um dos primeiros “ratos de laboratório” na Europa da experiência de “austeridade expansionista” promovida pelo FMI. Enquanto se assistia a uma contração brutal na economia e a um falhanço colossal nas metas do défice para 2010, o Tribunal Constitucional letão declarou inconstitucionais cortes nas pensões, que correspondiam a 1,5% do PIB. Perante o falhanço da receita e face à decisão do TC, o FMI, em lugar de impor novos cortes, aproveitou para aliviar as metas, o que acabou por contribuir de facto para a estabilização da economia.
Se o bom senso imperar, a decisão do TC será um bom pretexto para exigirmos novas condições à Troika, em lugar de prosseguir este caminho insensato e devastador no qual o Governo tem insistido. Como disse ainda o Presidente, “temos argumentos – e devemos usá-los com firmeza – para exigir o apoio dos nossos parceiros europeus”. Esta será, contudo, uma missão reservada para o próximo primeiro-ministro."


o meu artigo do Expresso de 5 de Janeiro (bem como outros que não havia postado), pode ser lido aqui.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Governar para dividir


        "Este Governo apostou em ser uma versão extrema de uma tradição arreigada – pôr os portugueses uns contra os outros para governar. Depois de opor trabalhadores privados a funcionários públicos; agora, não ocorreu nada melhor ao executivo do que pôr trabalhadores contra pensionistas.
            Uma das principais responsabilidades de um Governo é ser um factor de segurança. Num momento como aquele que vivemos, esta asserção é mais verdadeira. As declarações de Passos Coelho têm tido o condão de gerar incerteza entre os portugueses, mas são, no essencial, um retrato de um estilo. Por um lado, a ação política assente num objectivo paradoxal – governar para dividir –, por outro, a sensação de que nos condenaram a sermos governados pelo líder de uma juventude partidária. (...)"
o resto do meu artigo do Expresso de 22 de Dezembro está aqui.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Um forte abraço, António


Há umas duas, três semanas, o papel afixado na porta do gabinete ao lado do meu retirou-me as ilusões: o António estava pior. O António que ao longo destes dois anos e meio foi um exemplo de coragem e de tenacidade e que ainda há umas semanas dava aulas, tinha deixado um aviso aos alunos, pedindo desculpa por não poder estar presente à hora marcada.
O Paulo já deu conta de muitas das coisas que eu poderia dizer sobre o António – e que ele pode dizer com mais autoridade. Mas há umas quantas que eu quero acrescentar.
Terei conhecido o António por volta de 1997, mas foi em 1999, quando fomos juntos participar numa conferência em que ambos apresentávamos papers, que começámos uma conversa agora interrompida abruptamente. O António já era um sénior, com experiência de vida e profissional, e eu não passava de um recém licenciado, que arriscava falar sobre os mesmos temas que ele. Naqueles dias passados em Boston, iniciámos um diálogo que fomos alimentando ao longo destes anos e através do qual aprendi muito. Não me esqueço da forma como um tipo que sabia (e continua a saber) muito mais do que eu sobre muitos dos assuntos sobre os quais conversámos, sempre revelou total disponibilidade para me ouvir e para discutir. É uma qualidade menos democratizada do que possamos pensar.
A conversa começada em Boston foi continuando. Depois de termos partilhado gabinete durante um curto período, agora éramos vizinhos e sabia que de cada vez que batesse na porta do gabinete dele ficaríamos a falar mais tempo do que os nossos compromissos permitiam. Hoje, tenho a certeza que deveria ter prolongado muito mais essas conversas.
Aprendi muitas coisas com o António. Mas tendo de escolher uma, nunca me esquecerei de lhe agradecer ter-me apresentado ao Ahmad Jamal. Se nada mais posso pedir, espero que continue a poder escutá-lo.


quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Amigos em Portugal


A história é triste, de tal forma que é capaz de ultrapassar em tristeza muitas das suas músicas. O Vini Reilly sofreu um AVC há cerca de dois anos e a sua situação aparentemente não melhorou. Entretanto, ao mal estar físico – que o impede de tocar guitarra – juntou-se uma situação financeira muito difícil, que faz com que tenha deixado de ter capacidade para sustentar as despesas. Podemos ajudar, respondendo a este apelo do sobrinho.
Devemos-lhe todos mais do que alguma vez seremos capazes de retribuir. Eu tenho dificuldade em descrever a dívida que tenho para com ele, quanto mais a forma de retribuir.
O Vini Reilly ofereceu-me várias coisas que não têm preço: a memória da adolescência, que perdura, passada a escutar a sua voz frágil e a guitarra que abria todos os espaços para os sonhos bucólicos; os primeiros concertos (memoráveis) na Aula Magna e no São Luiz; o vinil do LC a rodar vezes sem fim; as pistas para descobrir o situacionismo; o dia em que comecei a abandonar o vinil e comprei o primeiro CD, que tenho marcado a ponto de ser capaz de recuperar todos os passos e as palavras – o The Guitars and Other Machines, na Contraverso. Talvez seja dizer pouco afirmar que foi com o Vini Reilly que construí a minha forma de ouvir música.
Agora, o mais provável é que olhemos para a sua música com uma tristeza renovada. Se bem que essa seja a marca dominante dos seus Durutti Column, sempre entrevi neles, e na capacidade melódica, por vezes exuberante, uma capacidade única de ofuscar toda a tristeza. De tal forma que, ainda hoje, tenho a certeza que, quando as músicas dos Durutti Column se entranham, nunca mais nos podemos sentir abandonados. Talvez seja essa a principal dívida que tenho para com ele.
Sobre a banda, Miguel Esteves Cardoso escreveu, já lá vão  trinta anos: “esta música não é uma coisa prosaica e ingénua; não é papel-de-parede para tapar os buracos verdadeiros. Aqui há também uma luta. O que é preciso é raspar levemente a superfície da pintura, para encontrar a sua base de tintas negras e feias, o seu medonho inconsciente. Não há beleza sem contraponto, nem harmonia sem contraste. E a música de Vini Reilly é só isso.” É mesmo só isso.