"I hope the fences we mended
Fall down beneath their own weight"

John Darnielle

padaoesilva@gmail.com

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010


''I will be as harsh as truth and as uncompromising as justice. On this subject, I do not wish to speak, or think, or write with moderation. I am in earnest. I will not equivocate, I will not excuse, I will not retreat a single inch, and I will be heard."

William Lloyd Garrison, "To The Public" primeira edição do The Liberator, Janeiro 1831

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Para os pobres, os restos



"(...) Nas últimas semanas, primeiro, com mais uma campanha do Banco Alimentar contra a Fome e, depois, com a iniciativa "direito à alimentação", foi-nos revelado o esforço solidário que, de tempos a tempos, emerge em Portugal. Num país onde o Estado é, simultaneamente, visto como a raiz de todos os males e como o recurso a que todos, sem exceção, recorrem, há boas razões para se elogiar estas ações. Contudo, nada nos obriga a suspender o espírito crítico apenas porque estamos perante um esforço solidário da sociedade civil.
A questão não é tanto discutir a bondade intrínseca das iniciativas, é saber se são de facto eficazes para quebrarmos a espinha à pobreza. É que uma coisa é potenciarmos um conjunto de ações que visa aliviar as formas mais brutais de privação (como faz, e bem, o Banco Alimentar contra a Fome), outra, bem diferente, é intervir para que a pobreza não se reproduza geracionalmente e não se caracterize por ter uma inscrição social tão marcada.
É uma vergonha que, numa sociedade democrática, haja quem tenha fome; mas não é por combatermos a fome que combatemos a pobreza. E o problema é que é-nos frequentemente sugerido que as iniciativas da sociedade civil assentam numa estratégia de substituição do Estado. Ora estas iniciativas têm um carácter supletivo e só são eficazes se as políticas públicas contrariarem os fatores que causam o nosso padrão de desigualdades.
Nada contra que a sociedade civil se organize para combater a fome - ainda que distribuir restos de restaurantes e apresentar a iniciativa num casino tenha uma carga simbólica negativa -, mas não deixa de ser surpreendente que o consenso público em torno do assistencialismo alimentar coexista com uma incapacidade de consensualizar políticas redistributivas que aliviem a privação e políticas educativas que contrariem as assimetrias de origem social. Dá que pensar quando o Presidente da República oferece o seu patrocínio à distribuição de sobras de restaurantes e, ao mesmo tempo, o país discute o aumento do salário mínimo para 500 euros, tolera ataques demagógicos aos "malandros do rendimento mínimo" ou confunde massificação da escola pública com facilitismo. No fundo, permanecemos no exato lugar em que estávamos quando Ruy Belo escreveu: "é tão suave ter bons sentimentos/consola tanto a alma de quem os tem/que as boas ações são inesquecíveis momentos/e é um prazer fazer bem"."

o resto do meu artigo, publicado na edição do Expresso de 18 de Dezembro de 2010, pode ser lido aqui.

com um agradecimento especial ao zé luís que me enviou esta tira da Mafalda.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Já que ninguém pergunta (agora os livros)

Em 2010 não li muitos livros escritos ou traduzidos em 2010. Aliás, nunca percebi bem a dinâmica das listas de livros do ano, quando comparada com a dos discos ou filmes do ano. Ando sempre atrasado nas leituras e, este ano, li óptimos livros escritos há demasiado tempo. Pouco importa. Mais do que as listas de discos, as listas de livros têm apenas um propósito: convencer os outros a lerem os livros que gostámos de ler. Pensando bem, o propósito é outro: convencer os outros a lerem os livros que gostávamos de ter escrito. Se os discos de que gostamos dizem alguma coisa sobre nós, a asserção é ainda mais válida para os livros. Os dois livros de que gostei mais este ano, até podem não ser os dois melhores livros que li este ano, mas são dois livros que eu, caso tivesse alguma inclinação ou engenho, gostaria de ter escrito. Pensando bem, têm traços em comum: são totalmente desprovidos de artifícios, escritos num estilo conciso e nunca caem na tentação de justificar ou explicar. Pensando melhor, são sobre o mesmo tema.



P.S.
Vai chegar o dia em que lerei um livro publicado pela Ahab que não será excelente. Esse dia ainda não chegou. José Rentes de Carvalho tem também um blog que é um erro não ser lido.

O Padre, a Puta e o Atirador Furtivo


Nada se compara ao cinema que não inventa rigorosamente nada.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

A democracia capturada

"(...) A generosidade dos caciques que pagam quotas produz vários efeitos. Enquanto fecha os partidos à entrada de novos militantes, reproduz lógicas perversas de poder interno. Por um lado, a perpetuação de uma determinada estrutura de poder é mais fácil de sustentar se não existirem novos militantes; por outro, quem paga quotas vence eleições e quem vence eleições passa a ter mais recursos para, depois, pagar mais quotas.
Perante isto, as direções partidárias tendem a defender que o problema existe a um nível local, mas depois as estruturas nacionais vão encontrando formas de compensar estas disfuncionalidades. É isso que explica que as lideranças, quando confrontadas com a questão, reajam com condescendência - ao ponto do líder da federação do Porto afirmar à "Sábado" que "as quotas são um problema individual de cada militante". Infelizmente, não é assim, são um problema coletivo, que mina a democracia na base e que não deve ser tolerado. Se nada mais, porque o sinal dado é claro: se os partidos não são capazes nem de basear os seus mecanismos de poder interno no cumprimento da lei, nem de torná-los verdadeiramente pluralistas, não há razão para acreditarmos que, uma vez no governo, serão capazes de o fazer no Estado."

o resto do meu artigo publicado na edição do Expresso de 11 de dezembro de 2010 e escrito a propósito disto, pode ser lido aqui

Um texto que um português seria incapaz de escrever

Entre muitas outras qualidades, o Alex Ellis, que por estes dias deixará de ser embaixador do Reino Unido em Portugal, revela uma qualidade que se tem tornada rara por cá: contraria a "crisofilia" lusa. O texto que escreveu este fds no Expresso e que já se pode ler aqui é exemplar.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010



If you're losing your wings
Feather by feather
Love the way they whip away
On the wind

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Jornalismo lelé da cuca

assim em jeito preemptive, para que não haja segundas interpretações, e muito resumidamente (tenho de voltar ao trabalho), o que penso sobre os dois assuntos que marcam as notícias do dia é o seguinte: a) a eventual passagem por Portugal de voos não autorizados para (sublinho o para) Guantánamo é muito grave e se tiver de facto existido algum procedimento menos claro e alguma participação deste ou de anteriores governos em actos ilegais, é motivo suficiente para a demissão do governo. b) o pacote de medidas ontem apresentados, designadamente na componente de indemnizações compensatórias de despedimento não terá grande efeito para combater a crise que hoje enfrentamos. dito isto, estava a ler o público de hoje e nem sei o que dizer.
em primeiro lugar a manchete, em letras garrafais lemos: "cortes nas indemnizações não vão ter grandes efeitos no combate à crise". ou seja, o Público torna uma opinião, aliás ouviu dois advogados dois, não apenas em notícia, mas em manchete. Parece-me um bom caminho para o jornalismo. Não sei mesmo se o melhor não seria tornar os jornais aglomerados de opiniões e acabar de vez com as notícias. Se calhar já é isso que acontece e não fomos avisados.
depois, o mais surpreendente. em mais uma notícia mal amanhada com base nos cables da WikiLeaks, e em dois parágrafos quase seguidos, o Público consegue escrever, primeiro, "Sócrates aceitou permitir o repatriamento de combatentes inimigos de Guantánamo através da base das Lajes", escreve em telegrama de 7 de Setembro de 2007 o chefe da representação diplomática dos EUA em Lisboa, Alfred Hoffman.", para logo depois escrever, "alguns meses depois, questionado no Parlamento por Francisco Louçã sobre se o Governo autorizara ou tivera conhecimento "de qualquer transporte de prisioneiros da CIA por território português para o gulag de Guantánamo", assegurou: "Consultei todos os membros do Governo com responsabilidades neste domínio e devo dizer que o Governo nunca foi consultado sobre essa possibilidade nem nunca autorizou [o sobrevoo do espaço aéreo ou a aterragem na base das Lajes de aviões destinados ao transporte ou transferência de prisioneiros]. Posso responder-lhe em nome deste Governo que nunca aconteceu termos sido consultados e termos autorizado. Estes dois actos nunca existiram."
não sei se estão a ver, mas os dois parágrafos falam de coisas diferentes, enquanto se sugere que se está a falar da mesma coisa.
vou mesmo é trabalhar.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

While my guitar gently weeps (revisited)


terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Now we're talking politics



(com a devida vénia ao francisco mendes da silva, um já velho amigo que, do outro lado da barricada política, conheci por causa do nowhere dos ride)

O maior escritor de surf do mundo


A escrita é o prolongamento da vida por outros meios. Apesar disso, sabemos quem é o melhor surfista do mundo, mas nunca discutimos quem melhor escreve sobre surf. A questão é igualmente importante. Temos as fotografias, os vídeos e os relatos orais, mas só na palavra escrita conseguimos de facto encontrar uma continuação da experiência de surfar uma onda, com todas as suas sensações e matizes. Só no surf escrito conseguimos com detalhe isolar os traços mais marcantes do surf surfado. Ainda assim, escreve-se pouco sobre surf e ainda menos sobre surf em português. Mas, se me perguntarem quem é o melhor escritor de surf do mundo, eu não hesito na resposta. É mulher, é portuguesa e nunca escreveu sobre surf. Mais, se alguma vez reparou num de nós, de prancha no mar, é coisa que infelizmente nunca saberemos.
José Tolentino Mendonça, numa entrevista recente à LER, sugeria que a poesia, depois de escrita, é apropriada por quem a lê. Ganha uma vida nova, tem uma consciência superior, inclusive, à do próprio autor. Eu, sempre que leio os textos de Sophia de Mello Breyner Andresen, tenho essa exacta noção. Aqueles poemas logo se libertam do mar parado da Grécia, da calmaria tranquilizadora e do seu calor límpido, vindo de um jardim inicial. Aproprio-me deles: é o mundo do surf que neles entrevejo e não hesito em dizer que nunca ninguém escreveu sobre surf assim. Sophia sabia do que falava quando escreveu que “o poema sabe mais do que o poeta”. Os seus poemas sabem mais sobre surf do que Sophia podia algum dia ter imaginado.
A ideia já me perseguia, mas tive a certeza que havia em Sophia alguém que escrevia como ninguém sobre o nosso mundo ao ler um assombroso texto de Maria Velho da Costa, sua amiga, em “Evocação de Sophia”. “Sophie en rose”, assim se chama o curto relato de um banho de mar onde o Atlântico se mescla com o Mediterrâneo. Quem escreve é Maria Velho da Costa, mas o que lemos é a paixão de Sophia pelo mar: “poucas coisas são tão alegres como o egoísmo de duas crianças síntonas no seu brinquedo, que era o mar”. A alegria absoluta e infantil é o traço mais marcante do surf e ninguém, como Sophia, olha para esse passado com uma luz cristalina mas marcada a mar. O mar é a sua biografia poética, do mesmo modo que é a nossa.
Percorramos a antologia Mar, onde se juntam os seus poemas que têm o elemento marítimo como referência e neles nos descobrimos, surfistas.
Os nossos temas mais marcantes estão todos lá: a presença obsessiva do mar (“Mar, metade da minha alma é feita de maresia”); o espaço dos encontros connosco mesmos (“As ondas quebravam uma a uma/Eu estava só com a areia e com a espuma/Do mar que cantava só para mim”); um território do mundo mas também manifestação do sagrado (“Mar sonoro, mar sem fundo, mar sem fim/(...) Que momentos há em que eu suponho/Seres um milagre criado só para mim”); uma exaltação da liberdade absoluta (“Aqui nesta praia onde/Não há nenhum vestígio de impureza,/Aqui onde há somente/Ondas tombando ininterruptamente/Puro espaço e lúcida unidade,/Aqui o tempo apaixonadamente/Encontra a própria liberdade”); o lugar de contemplação (“Foi no mar que aprendi o gosto da forma bela”); e a recondução a um lugar de origem (“O cântico da longa vasta praia/Atlântica e sagrada/Onde para sempre a minha alma foi criada”).
Não tenho dúvidas, o melhor livro sobre surf alguma vez escrito é a Antologia temática de Sophia, dedicada ao Mar. Nestes textos encontramos uma dicção exacta, que nos guia com uma desarmante simplicidade através do mar, das ondas, das praias e que nos permite elevar os nossos olhares sobre o mundo e a experiência do surf. Nunca nenhuma voz conseguiu, de modo tão preciso, combinar o dramatismo próprio da experiência marítima com um olhar branco e imaculado sobre a satisfação absoluta que dela resulta.
Gosto de pensar que nós, surfistas, somos todos concretizações materiais da experiência abstracta descrita por Sophia. Não por acaso, a sua inscrição final é a que, de algum modo, todos os surfistas têm tatuada no espírito: “quando eu morrer voltarei para buscar/Os instantes que não vivi junto do mar”. É essa a nossa secreta ambição, um dia voltarmos para viver todos os momentos em que não pudemos surfar ondas. Uma forma que encontrámos para compensar os pequenos demónios quotidianos.

publicado na coluna 'Sal na Terra' da SurfPortugal de Julho e republicado aqui, no dia em que é apresentada a antologia poética de Sophia de Mello Breyner Andresen.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Cohen, Darnielle & Jobs

sábado, 11 de dezembro de 2010

O Euro fim



"Estamos a assistir ao desenrolar da história europeia, mesmo diante dos nossos olhos, agora como tragédia. A recomendação do eurogrupo para Portugal fazer reformas estruturais, designadamente no seu mercado de trabalho, é mais um passo no delírio político europeu. É uma intromissão (sem cobertura nos tratados) politicamente errada (em contexto recessivo esta não deveria ser a prioridade da zona euro) e socialmente iníqua (precisamos de reformar o mercado de trabalho, mas não no sentido sugerido). Acima de tudo, é reveladora do precipício para o qual caminhamos e que pode bem destruir o euro e décadas de laboriosa integração europeia.
(...) As recomendações a Portugal, em linha com o imposto à Irlanda, revelam que a maioria política que domina o conselho não percebeu a natureza da crise. Tudo aponta para que a Europa esteja empenhada em fazer com que a economia, não tendo morrido da doença (a crise que nasceu no sistema financeiro), morra da cura. Só assim se compreende que, perante a falência do modelo irlandês, todo ele fundado no desenraizamento social das instituições que gerem a economia (do mercado de trabalho ao sistema financeiro), a Europa obrigue a Irlanda a liberalizar ainda mais. No fundo, estamos face a uma posição semelhante à dos comunistas ortodoxos que insistem que o socialismo real falhou porque não foi verdadeiramente adotado. Trata-se, apenas, de uma aspiração ideológica, contrária às evidências empíricas.
Portugal precisa de modernizar o seu mercado de trabalho. Mas não será por aí que sairemos da situação em que nos encontramos e o que a Europa sugere não é a reforma necessária. A ladainha da excessiva rigidez da nossa regulação laboral esconde várias realidades: a proteção legal foi um contraponto a um sistema de proteção social pouco eficaz e à ausência de mecanismos de autorregulação; a nossa legislação já não é tão rígida como se quer fazer crer; e, no que é a dimensão mais relevante, a rigidez formal coexiste com flexibilidade de facto, o que nos torna um dos países europeus com maior precariedade. O PPE que domina a Europa quer, e muita gente por cá, flexibilizar o despedimento. Muito bem, avancemos nesse sentido, mas, para o fazermos, temos de enfrentar simultaneamente a precariedade. Logo, acabemos também com todas as formas de subcontratação (por exemplo, pondo fim aos recibos verdes) e tornemos o acesso ao subsídio de desemprego mais fácil (reduzindo o número de dias de trabalho necessário para ter direito à prestação)."

o resto do meu artigo publicado na edição do Expresso de 4 de dezembro de 2010 pode ser lido aqui.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Homens de todo o mundo, uni-vos


acho lamentável muito do que tem sido feito pela wikileaks (se tivesse tempo, explicava a parte que não acho lamentável); e acho lamentável a resposta que tem sido dada à wikileaks (desde logo pelos EUA, como escreveria o maradona, depois explico). mas, no meio de tudo isto, fico sem palavras quando se torna possível alguém ser acusado de violação por um preservativo se ter rompido. até porque já vimos todos demasiadas vezes esta história: acções políticas contra os EUA acabam por ter como resposta acusações por crimes sexuais.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Já que ninguém pergunta

E os 10 melhores discos do ano foram:

The National - High Violet
Deerhunter – Halcyon Digest
The Walkmen - Lisbon
Titus Andronicus - The Monitor
Beach House - Teen Dream
Twin Shadow - Forget
Spoon – Transference
LCD Soundsystem – This Is Happening
Extra Lens - Undercard
The Roots – How I Got Over

(sendo que ainda não ouvi o Kanye integralmente)

canção do ano que não está num dos discos do ano: Avi Buffalo - what's in it for you?
maior desilusão do ano: Arcade Fire (logo seguidos de Belle & Sebastian);
por mais que tente não gosto do ano: Black Keys
reedição do ano: Galaxie 500 - On Fire
concerto do ano: National+Pavement (Paris) e Divine Comedy (Lisboa)

moral da lista: só há um estreante (Twin Shadow). o que quer dizer uma de duas coisas: ou não apareceu nada de novo entusiasmante ou eu já não me entusiasmo com nada de novo.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Uma Greve Reveladora



"(...) Uma greve geral de base nacional, hoje, só serve para expor a ineficácia das formas de representação política tradicionais. Há uma enorme descoincidência entre o nível a que continua a ser feita a mobilização (nacional) e o nível das decisões políticas (no mínimo, europeu). Esta descoincidência tem um efeito desmobilizador e revela como esta crise é destruidora económica e socialmente, mas tem também um efeito devastador para os mecanismos de representação. O movimento sindical continua a ter capacidade de resistência, mas revela também impotência para mudar as políticas.
A situação em Portugal será particularmente delicada: sem poder recorrer ao capital que decorre de uma tradição negocial enraizada, restará a memória da contestação política contra os Governos, numa altura em que o poder de decisão já não está nas suas mãos. Quando era necessária uma verdadeira internacionalização das formas de mobilização política, é-nos oferecido um movimento sindical preso às suas idiossincrasias nacionais e que opera num quadro que já não existe. É triste, mas a revelação desta tendência será o principal legado desta greve."

o resto do meu artigo, publicado na edição do Expresso de 27 de novembro de 2010, pode ser lido aqui.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Old Albion

"I'd prefer the plague to the Eton rifles"
Paul Weller (circa 1979)

"David Cameron, stop saying that you like The Smiths, no you don't. I forbid you to like it."
Johnny Marr, (circa 2010) no twitter.

Ainda a vaca fria

Vale bem a pena ler este artigo de Joschka Fischer. Afinal os políticos alemães não desistiram todos de pensar na Europa.
Este é o corolário do artigo, mas não é certamente o mais importante.
"(...)Any eurozone political leader whose primary consideration now is re-election will face certain failure by meeting this historical challenge. But European priorities have to be the primary concern in this crisis – even at the price of losing office. On the other hand, taking this historic initiative would, relative to fainthearted tactical maneuvering, substantially increase politicians’ chances of re-election later.
But Europe has no shortage of politicians. What is urgently required now are genuine statesmen and stateswomen."

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Já esta é excelente, vá lá, superlativamente excelente


Há uma grande discussão para apurar se esta música é melhor cantada pela Jill Scott (tenho de reouvir um velhinho disco dela de que gosto muito), que a escreveu com os Roots mas não a gravou - os mais pacientes podem espreitar aqui - ou se, pelo contrário, esta versão, a mais popular, cantada com a Erykah Badu é superior. Eu não hesito e voto pela contenção. E esta versão, de 1999, revela uma Erykah Badu incrivelmente skinny, bem diferente da de hoje.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Cinco

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Grandes irlandeses



andava a ver se encontrava uma expressão para descrever a música do Neil Hannon e só me ocorre "uplifting".

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Nós Somos a Irlanda

"Há uns meses, Portugal não era a Grécia; entretanto é a Irlanda que não quer ser a Grécia; Portugal que não quer ser a Irlanda; a Espanha que não quer ser Portugal; a Itália que não quer ser a Espanha e, para citar João César Monteiro a outro propósito, mas com o mesmo sentido, "e assim sucessivamente". Há nisto um fundo de verdade: a Grécia tinha contas públicas fraudulentas, a Irlanda um problema gravíssimo no sistema financeiro, Portugal um potencial de crescimento económico medíocre, a Espanha uma bolha imobiliária e a Itália um problema de endividamento público. Nessa medida, cada caso é um caso, com problemas singulares que têm de ter, com urgência, respostas específicas. Mas, ainda assim, este mantra repetido nos vários países da periferia é apenas uma forma de cada um caminhar isoladamente, oferecendo-se como um cordeiro para um sacrifício que dificilmente terá bons resultados. Os países podem, através de medidas de austeridade brutais, tentar resolver os seus problemas, mas não só é duvidoso que isso seja eficaz, como persistirá um problema que está na génese do mal europeu.
(...)
Moral da história: os países da periferia têm um problema comum para enfrentar, sendo que é da sua resolução que nascerá a capacidade para responder com eficácia às singularidades que caracterizam a síndrome económica e financeira de cada país. Se, no curto prazo, a repetição incansável pelos países que se encontram em situação mais frágil de que o seu caso é distinto daquele que está prestes a sucumbir pode funcionar como um balão de oxigénio, não passará muito tempo para que a situação mude. Para estancar o efeito dominó acelerado que destruirá o euro, só há uma alternativa e é de natureza política. Os países da periferia têm de se coligar para dizer: 'nós somos a Irlanda'."

o resto do meu artigo do Expresso da semana passada pode ser lido aqui.

Resultados do fim-de-semana


Justiça, 1 - Judiciário, 0

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Tão mau e ao mesmo tão bom, vá lá, excelente

Há mais de dez anos na minha short-list

The Colbert ReportMon - Thurs 11:30pm / 10:30c
Robert Reich
www.colbertnation.com
Colbert Report Full Episodes2010 ElectionMarch to Keep Fear Alive

"Uma cara que está a rir"

Se calhar é, para citar o João Catarino, apenas uma questão de "predisposição". ver aqui.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Portugal não é a Espanha/Irlanda (escolha a opção que mais lhe convém)

Um cheirinho do que o Economist escreve sobre Espanha, o tal país que é "too big to fall" e onde se fala das contas dos governos regionais, que provavelmente se tornarão o tema central da agenda política europeia daqui a 2/8 semanas (escolha a opção que lhe parece mais provável).

"Unemployment is stuck at over 20%, while inflation is higher than in Germany. Public debt is low, but the debts of Spanish households and firms are far above the European average. They are being financed from abroad: the current-account deficit is still over 4% of GDP. The banks and the cajas have yet to own up to the full extent of losses on property loans; the impenetrable accounts of regional governments invite suspicion."
o resto pode ser lido aqui.


Tudo começou a passar-se do outro lado
De uma montanha que desconheço
De todo


Alberto de Lacerda

Um país desenhado



Fez no Verão um ano, o João Catarino percorreu a EN2 com o Buggy e um caderno de desenhos. Na altura, chamei a atenção para o erro que era o serviço público não fazer da viagem um programa de TV. Mas enquanto esse dia não chega, o João lança amanhã um livro que é um caderno da viagem.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

A grande depressão e a "prenda para a mais nova"

Coisas como esta fazem parecer as citações a despropósito e o deslumbramento tecnológico como fragilidades aceitáveis, com as quais temos de ser condescendentes. Quando o miserabilismo se junta com o mau gosto (peço imensa desculpa, mas não estamos condenados a, individualmente, considerar a foleirice como uma opção estética como outra qualquer) para culminar num discurso económico errado, podemos anunciar o futuro: uma grande depressão.

A ética do trabalho


Mesmo com uma greve geral à minha volta, estou condenado ao trabalho. Preso à secretária, o meu dia tem sido salvo pela audição disto. Um mundo que eu já havia vislumbrado nos sonhos com que me entretenho: o Kurt Wagner acompanhado de voz feminina (e que me vai obrigar a recuperar o disco da Cortney Tidwell que emprateleirei sem prestar muita atenção) com um repertório radicalmente conservador.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

I was dressed for success

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Nós somos a Irlanda



"(...) The task that needs to be solved now is to stop contagion of the Irish banking crisis. The channels are easy to figure out. The two largest creditors to Ireland are the UK and Germany, with loans outstanding of $149bn and $139bn respectively, according to data from the Bank for International Settlements. An Irish bank default would affect the German and British banking systems directly, and require significant domestic bank bail-outs.
A second channel of contagion would be via the capital markets, to Portugal. The biggest creditor to Portugal is Spain, itself in a precarious position with exposures of $78bn. A default of Irish banks would spread like wildfire. It has to be prevented.
The case for Ireland to take the money from the European Financial Stability Facility (EFSF) is overwhelming. The EFSF was set up precisely for that purpose. Contrary to what I expected, the EFSF has managed to find a way to offer loans with relatively low interest rates. The quid pro quo is a significant lower overall lending ceiling than what the official €440bn ($602bn) headline figure suggests. But even then, it is large enough to handle any conceivable Irish and Portuguese crisis. The EFSF is not large enough to handle any problems that might arise in Spain. In that sense, it is not an umbrella for the eurozone, but only for two of its smallest and most peripheral members.(...)"
o resto do artigo de Wolfgang Munchau deve ser lido aqui.

Crime público

e não se poderá interpor uma providência cautelar?

domingo, 21 de novembro de 2010

A Europa precisa de maus alunos

"Europeístas e bons alunos. Foram estes os alicerces da nossa participação no processo de integração europeia. Mas o que era uma linguagem com sentido e benefícios, transformou-se num exercício retórico que nos é prejudicial.
Desde logo porque o contexto mudou radicalmente. A Europa deixou de ser um mecanismo de reforço do Estado-nação, com a transferência de competências a ser acompanhada por maior capacitação dos Estados-membros. Hoje, vivemos um quadro artificial: o essencial das decisões políticas é tomado ao nível europeu, enquanto se vive uma encenação permanente, na qual os políticos nacionais se julgam relevantes, quando são impotentes.
(...) Este cenário deixa em aberto dois caminhos: continuar a fazer de bom aluno lá fora, executando acriticamente as soluções políticas gizadas pelo renascido eixo franco-alemão ou, pelo contrário, fazermos de bom aluno cá dentro e de mau aluno na Europa. O primeiro caminho implica uma interiorização da culpa moral sobre a situação em que nos encontramos; o segundo depende, em primeiro lugar, da aceleração da consolidação das contas públicas, mas requer que este exercício seja combinado com uma democratização das opções europeias, insistindo para que se encontre uma solução sistémica para o euro. A salvação do projeto europeu depende, hoje, da multiplicação de maus alunos em toda a Europa. Maus alunos que, por exemplo, comecem a recusar-se a comprar produtos alemães. Talvez, assim, se perceba que a questão é política e não moral e que a periferia ter vivido acima das suas possibilidades foi também uma necessidade sistémica."
o resto do meu artigo no Expresso da semana passada pode ser lido aqui.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Os livros



“No matter how we advance technologically, please don’t abandon the book. There is nothing in our material world more beautiful than the book.”

Patti Smith, em reacção à vitória no national book award para não-ficção.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Se calhar, Melo Antunes estava errado

Custa-me muito pensar isto: mas quando se lê alarvidades como esta, não se pode deixar de pensar que Melo Antunes pode bem ter-se enganado quando disse que a democracia portuguesa não se fazia sem o PCP.

"(...) Suu Kyi é mulher e que para mais tem aquele arzinho fisicamente frágil que nos dá cuidados quando a imaginamos presa. É certo que na sua própria residência, que é capaz de ser mais confortável que a minha. Mas imagino que deve ser terrível para uma mulher, para mais senhora de boa disponibilidade financeira, não poder sair de casa para ir às compras no hipermercado mais próximo. Não sei, é claro, se há algum hipermercado nas proximidades da residência de Aung San Suu Kyi, mas é praticamente certo que o haverá em tempo próximo, quando a democracia por ela desejada chegar enfim a Mianmar, pois é também para isso, para a abundante instalação de hipermercados, que a democracia serve, também para isso foi reinventada. (...)"
o artigo integral pode ser todo lido no Avante, "assinado" por um tal de Correia da Fonseca (que engraçadinhos)

via ana matos pires.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Como é em estrangeiro, talvez assim se perceba

"(...) The eurozone as a whole is in better fiscal shape than other developed economies (notably the US and Japan), and even the most indebted economies could yet dig themselves out of the hole they are in. But the eurozone is still plagued by the contradictions of trying to operate a monetary union without supporting this with a fiscal union.
It is becoming clear that these contradictions can only be solved if there is genuine burden sharing inside the eurozone, along with some much tougher budgetary and regulatory rules which prevent this situation ever happening again. (...)
if the EU could wave a magic wand and create a fiscal union tomorrow, its overall budgetary position would be easily the best in the developed world. There would be no “European” sovereign debt crisis. It is very important to remember this, because it shows that the solution to this problem lies in Europe’s own hands.
The second point to note is that the peripheral eurozone economies (Portugal, Ireland, Greece and Spain), taken as a group, have quite similar budgetary requirements as the advanced nations as a whole - no better, but no worse either (at least on the latest IMF numbers). In fact, the only country which seems to be a potential outlier is Ireland, and these IMF figures do not take account of the extra tightening of 4 per cent of GDP which is promised in the coming budget. If this is passed, the Irish numbers would suddenly look much better. Based on this, it might seem surprising that this block of countries is in such trouble.(...)
If politicians want to preserve the monetary union (and it appears that everyone still does), they will need to come to an agreement under which there is some further fiscal co-operation between member states while the budgetary tightening takes effect in the periphery. And in exchange for this there will have to be much tougher long term budgetary and regulatory arrangements, so that the financial free riding which occurred in the boom years (and which actually affected private debt, rather than public debt) can never again take place.(...)"

via Pedro Lains e o artigo deve ser lido todo, do princípio ao fim (e serve para lembrar como o debate marado - para não dizer mais - que ocorre em Portugal consegue fazer do FT um jornal perigosamente esquerdista).

Bruce Springsteen & the E-Roots Band



via audio perv, onde se pode ver a entrevista com o fallon e ainda o because the night.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

É o que me ocorre



"It's coming home, it's coming home, it's coming,
football's coming home
Everyone seems to know the score, they've seen it all before"

ao ler isto.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Um governo em dissonância cognitiva

Já agora, e a propósito do link para o que escrevi no Expresso a semana passada e que está aqui em baixo, é impressão minha ou a declaração de Teixeira dos Santos aqui (cujo intuito é incompreensível, a menos que seja um pedido público para sair do governo) é absolutamente incompatível com o que Sócrates disse em entrevista à TV há duas semanas, sendo que a "saturação" de Luís Amado também não é compaginável com a "energia reforçada" de que fala Vieira da Silva aqui. Um governo em dissonância cognitiva é também um governo em processo de implosão. Mas que dizer quando, depois, o mesmo ministro Teixeira dos Santos diz à Reuters que o que disse ao FT não é para ser levado a sério. Uma coisa é clara: isto não vai acabar nada bem.

Um país em dissonância cognitiva

"(...) Quem, ingenuamente, tinha ficado convencido que o acordo entre Governo e PSD era um primeiro passo para o consenso político necessário para reequilibrar as contas públicas, perdeu as ilusões. Esta semana, assistimos em força ao regresso do antagonismo militante que tem caracterizado a política portuguesa. Quando eram necessários entendimentos, é-nos oferecida uma repetição dos debates quinzenais, com os mesmos truques, a costumeira agressividade e total incapacidade de diálogo. Os portugueses, como bem intuiu o político profissional Cavaco Silva no twitter, só podem assistir com impaciência aos debates políticos.
Não é preciso ser psicólogo para se identificar a patologia de que o país padece. Chama-se 'dissonância cognitiva' e resulta da tensão entre cognições que são incompatíveis entre si. É a isso que assistimos: uma incompatibilidade lógica entre, por um lado, uma crença de nível mais primário (o corte na despesa) e, por outro, o desconforto com as consequências concretas desses cortes. Como se não bastasse, essa inconsistência é acompanhada por uma dissonância crescente entre a classe política e a expectativa que os portugueses têm sobre o seu comportamento."

o resto do meu artigo no Expresso da semana passada pode ser lido aqui.

Meninos de coro



Entre as várias bandas de "betos como nós" que têm surgido nos últimos anos, para além da notável amplitude vocal do Hamilton e de, durante os concertos, nunca trocarem os instrumentos com mais de 40 anos que usam, os Walkmen tentam diferenciar-se por ostentarem alianças que conferem respeitabilidade e por terem recuperado o guarda-roupa que os Warsaw haviam emprestado aos Joy Division. Não vale a pena tentar encontrar grandes explicações. Andaram todos nesta escola e foi lá que a coisa começou. E, sim, o concerto foi exactamente como se esperava: muito bom (pensando bem, não foi exactamente como se esperava. não tocaram o "another one goes by", uma música que da primeira vez que ouvi pensei ser mesmo do bob dylan).
(o video é tirado à Susana Pomba, que acrescenta várias fotos do concerto de ontem)

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Número dois na minha lista de Vicentes



De tempos a tempos, lembro-me de procurar os Durutti Column no youtube. O tempo vai passando e aparece sempre alguma coisa nova, mas invariavelmente mais antiga. Desta feita, uma alma caridosa passou para a rede excertos de um concerto de 1985 no Japão. Se seguirem este link, podem ver mais coisas. Isto pode não interessar mesmo nada, mas o primeiro CD que comprei foi desta rapaziada (a somar a alguns vinis que tinha). Há mais de vinte anos que me perseguem e não é nada mau ser perseguido. Ah, o Vini Reilly continua a ser o melhor guitarrista do mundo.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Um jornal de parede

por razões que me escapam, mas com assinalável generosidade, o meu amigo Tiago Tibúrcio e o Miguel Gomes Coelho enviaram para este blog uns dardos. Acontece que isto não é bem um blog, mas uma versão "moderna" de jornal de parede, em que que tento espreitar, através do computador, e com notável preguiça, aqui para "casa". Aliás, com o espectro do twitter e do facebook por perto, tenho cada vez mais vontade de acabar com o blog e regressar ao jornal de parede que havia na minha escola primária. Quando se descobrir forma de linkar videos e músicas, é isso que farei. É até onde vai a minha capacidade de interacção.

Partir a espinha

Através dessa fonte de conhecimento inesgotável que é o site da associação sindical dos juízes portugueses, fiquei a saber que o despacho que me haviam feito chegar por mail (e que tive esperança fosse falso), de um juiz que decidiu diminuir o seu tempo de trabalho por força dos cortes na remuneração que só sentirá em 2011, é mesmo verdadeiro. Para fazer face a compromissos financeiros assumidos, o senhor magistrado, que é juiz-presidente do Tribunal de Alenquer, vai dedicar menos tempo ao seu trabalho. Não se percebe bem qual é a ideia: será que vai aproveitar para fazer uns biscates por fora na economia paralela?

Ezra Koenig avistado ainda antes do default

terça-feira, 9 de novembro de 2010

And when the promise was broken, I cashed in a few of my own dreams



Artista que se preze tem o seu álbum perdido. Chegou agora a altura de o "álbum negro" de Bruce Springsteen ver a luz do dia. Entalado entre as gravações de darkness on the edge of town, the promise não é um conjunto de out-takes, vocacionado para incondicionais, mas um disco com princípio, meio e fim, que fica bem ao lado de nebraska, the river e do resto que foi feito até born in the usa. Muitas das canções já eram bastante conhecidas - umas ao vivo (fire e racing in the street), outras também em versões (because the night por patti smith). Acima de todas elas soa, contudo, a canção título, The Promise. Ando a ouvi-la em repeat há umas semanas e emociono-me do mesmo modo com que, passados todos estes anos, me emociono com born to run. Acho que é tudo.

o disco (e também o documentário que já passou na HBO) sai para a semana e, até lá, pode ser ouvido aqui.
save my love também não está nada mal. nada mesmo.
e vale a pena ler este texto do princípio ao fim.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Rebenta a Bolha

"Em trinta e seis anos de democracia, nunca um Governo português foi capaz de fazer cortes na despesa como aqueles que estão propostos no Orçamento para 2011. Como recordava Bruno Faria Lopes no "i", só uma vez, em 1983, com o Bloco Central, acompanhado pelo FMI, é que a despesa pública total desceu de modo significativo (-1.9%). Desde então, o país foi alternando entre anos em que a despesa cresceu muito (2009); em que diminuiu de modo impercetível (1994); ou em que o crescimento foi controlado (2006). Em 2011, sem uma maioria política que crie condições efetivas para aplicar medidas de austeridade, o Governo propõe-se alcançar um objetivo inédito: cortar cerca de 5% da despesa das administrações públicas.

Com este propósito em pano de fundo, Governo e PSD entretêm-se a jogar uma longa partida de poker aberto, com o país a assistir incrédulo. Tem sido um belo retrato do sistema partidário português. Incapazes de fazer alianças pós-eleitorais, com uma quase total ausência de cultura negocial, o que os partidos fazem é, em lugar de procurar acordos, tentar salvar a face e avaliar a extensão dos recuos de cada uma das partes. Esta semana, quando, com o devido beneplácito presidencial, tudo parecia encaminhado para um acordo essencialmente político e com escasso impacto orçamental, a bolha voltou a rebentar, como se estivéssemos no recreio de uma escola.

No fundo, não é surpreendente: em Portugal, os partidos têm pouca ancoragem social (ou seja, não representam de modo mais ou menos orgânico interesses sociais específicos) e também não se movem propriamente pela defesa estável de um conjunto de políticas. Sobra portanto a tática e o objetivo de chegar o mais cedo possível ao poder - com todas as jogadas devidamente medidas pelas sondagens, que funcionam como uma espécie de oráculo de uma realidade cada vez mais distante. Neste contexto, a existência de entendimentos depende apenas de se encontrarem jogos de soma positiva, no qual todas as partes podem surgir como vencedoras. Ninguém quer assumir os custos da impopularidade. (...)"

o resto do meu artigo da semana passada no Expresso pode ser lido aqui.

sábado, 6 de novembro de 2010

E vão 10

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Mais coisa, menos coisa, vai ser tal e qual

assim.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

"Mesmo que não conheças nem o mês nem o lugar caminha para o mar pelo verão"



O Andy Irons morreu, os juros da dívida batem recordes, mas hoje estiveram umas ondas e ainda há quem, passado todos estes anos, não tenha receio de soar como soavam os Talking Heads

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

"I have lots of inner demons"



Andy Irons (3x campeão do mundo) morreu ontem, aos 32 anos, alegadamente de febre de dengue. A.I. era o lado mais sombrio do circuito mundial. Sem ele, o Slater dos últimos anos nunca teria existido. Um dos muitos elogios que lhe poderia ser feito.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

It's just New Jersey



"(...) Because we know instinctively as a people that if we are to get through the darkness and back into the light we have to work together. And the truth is, there will always be darkness. And sometimes the light at the end of the tunnel isn’t the promised land. Sometimes it’s just New Jersey. But we do it anyway, together. (...)"
Jon Stewart

sábado, 30 de outubro de 2010

E acabou a dançar sozinho

"(...) Passos Coelho anda há vários anos a preparar-se para ser líder do PSD. Olhando para o seu passado, podemos intuir que o objetivo foi traçado há muito tempo. Entretanto, desenvolveu todas as qualidades de um político profissional, mas traz consigo todos os defeitos de uma vida construída nas juventudes partidárias. Os últimos meses têm servido para revelar essas características.

O exercício do poder numa juventude partidária obedece a regras particulares e tem um elemento distintivo: depende apenas de variáveis internas às organizações, ao mesmo tempo que a tática é tudo. A realidade que existe fora do circuito fechado das secções, concelhias e distritais é irrelevante. Em lugar de estratégias políticas, o que predomina é uma disputa tática, feita de cenários, alinhamentos e realinhamentos, zangas e pazes, tudo ao telemóvel. É uma experiência formativa, que dá treino específico para ganhar poder interno, mas que se pode revelar desastrosa para afirmar externamente as lideranças. Ganhar um partido não é exatamente a mesma coisa que ganhar um país.

Desde logo porque numa juventude partidária, quando a tática empurra as lideranças para um beco sem saída, há formas conhecidas para superar o problema: um discurso inflamado, que vira uma comissão política e serve para afirmar o carisma do líder; uma aliança improvável com um inimigo figadal da véspera ou uma alteração estatutária feita ad hoc. Ou seja, um conjunto de saídas que não estão disponíveis para alguém que procura ser primeiro-ministro. Ainda assim, esta semana, uma das saídas ensaiadas por Passos Coelho passou por uma emenda constitucional que permitiria realizar eleições em janeiro. Numa juventude partidária, a proposta seria levada a sério; no mundo dos adultos, quem faz tal proposta não pode ser levado a sério. O líder do PSD tem agido como se ainda fosse líder da JSD e hoje corre o risco de não ser levado a sério. (...)"

o resto do meu artigo no Expresso da semana passada pode ser lido aqui.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Quem tiver visto isto, não sentiu metade da alegria que eu senti

Memory boy

Imaginem que o George tinha continuado a ganhar preponderância, que o John tinha tomado as drogas certas e que o Paul continuava com uma capacidade melódica sem paralelo. Mais de quarenta anos passados desde tomorrow never knows, seria qualquer coisa como isto que os Beatles estariam a fazer.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Um retrato do país

Está um negociador do PSD a falar ininterruptamente no telejornal da RTP1. Começou por dizer que Eduardo Catroga era um grande economista, que ele próprio não dormia há três dias e que tinha feito um grande trabalho técnico. Depois disse que tinha vivido 11 anos no estrangeiro e que tinha muitos contactos nos mercados internacionais. Presunção e água benta, cada qual toma a que quer. Mas no fundo, quem tem razão é o meu filho, que com a sabedoria de quem vai fazer 5 anos, disse que ele tinha voz de gripe.

Tenho uma proposta

e não é de natureza orçamental. Do mesmo modo que o Lloyd Cole olhou para a sua carreira através dos hotéis onde foi ficando, que tal fazer o mesmo exercício a propósito dos programas televisivos por onde foi passando. Aqui podemos vê-lo por altura de um dos melhores álbuns que fez (aí por volta de 1994, não sei precisar bem), num programa que aparenta ser particularmente inspirador e tudo ocorre, ficamos a saber, às 7.58 da manhã. O que vale é que hoje, provavelmente, já nem o convidam para ir à TV. (é tão bom que nem dá para fazer embed, pelo que têm mesmo de seguir o link)

Dúvida metódica

Há certamente uma boa discussão para termos sobre os consumos intermédios e as gorduras do Estado, mas continuo sem perceber se quem, agora, quer reduzir o défice orçamental para 4.6% do PIB em 2011 (no que é já a maior redução de despesa que Portugal fez em democracia) com base nesses cortes na despesa inútil (mas convinha que se dissesse exactamente qual) está iludido ou nos quer iludir a todos.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

I remember you well in the ... hotel



Lloyd Cole revela o que esconde o hotel no qual se dorme. Para ler aqui (descoberto via João Lisboa)

"(...) After 27 years, I wonder, could one maybe map the trajectory of my (so-called) career using the hotels I was booked into? How was I doing? Where was I staying?
(...) Arriving in Paris in 1993 on my third album, I was driven to a chic Left Bank hotel... and I guess that's when I knew I was no longer on the up and up. Four years later, Universal bought Polygram, the last column of my support was supplanted, and that was that. I quit before they fired me. We both knew it was coming.
I distinctly recall the first time I walked through London when heads didn't turn. It wasn't a good feeling. I could go shopping for porn and The Sun wouldn't photograph me. But after almost 15 years in rock'n'roll, could I do anything else? Did I want to?
(...) I became a folk singer, and guess what? I liked it. I made a folk-singer album (sort of) – Music in a Foreign Language – in a rented studio space in Massachusetts with almost no help aside from computer or software. I gradually took over my management. I fired my New York accountant. I do my own taxes now. A one-man cottage industrialist.
(...) Finally, Lisbon. We have been in love since 1985. The fiery passion long gone, but still, heads turn. It's late when I arrive at Hotel do Chiado – the place 10 years ago and still lovely, if a little frayed at the edges (touché). The porter shows me to my room. The view is spectacular; there isn't a better city view in the world. I know Tapete can't afford this room... Some days, some places, it is indeed good to be me. I should take a photo and post it on Twitter. I should. Instead, I take a whiskey on the balcony, and I then re-string my guitars, watching a Law & Order re-run."

sábado, 23 de outubro de 2010

Isto pode não acabar bem

"(...)Em primeiro lugar, não só o processo de desnacionalização das decisões políticas se intensificou como se perderam formas de sindicância democrática. À perda de soberania dos Estados-nação (o fim do embedded liberalism) juntou-se a perda de soberania dos cidadãos, que deixaram de poder responsabilizar quem decide através do voto. O que se anuncia no novo modelo de governação económico europeu é, a este propósito, não só negativo economicamente como representa uma machadada sem precedentes na dimensão política da construção europeia.

Em segundo lugar, enquanto a perda de soberania diminui drasticamente a capacidade dos executivos para, de facto, governarem, também o grau de autonomia orçamental se reduziu. O lastro das políticas já consolidadas torna a despesa muito rígida, pelo que aos governos, caso queiram fazer diferente, só resta aumentar o endividamento, num contexto em que são obrigados a reduzi-lo.

Finalmente, quando os governos eram obrigados a não cumprir o prometido por força das circunstâncias, o que faziam era procurar apoio junto dos seus apoiantes mais leais, explicando que, embora estivessem a tomar medidas impopulares, estavam a ser responsáveis. Mas, hoje, a lealdade partidária tem declinado e os eleitores fiéis têm sido substituídos por eleitores voláteis e cidadãos cínicos, descrentes dos políticos. Em Portugal, onde o encastramento dos partidos é muito frágil, este recurso é ainda menos viável. No fundo, não há base eleitoral para a retórica da responsabilidade.

No fim, o que sobra é um conjunto de 'governos' presos entre pressões externas para levar a cabo ajustamentos orçamentais profundos e pressões domésticas para aumentar ou manter os níveis de despesa anteriores. O problema é que tudo isto ocorre num contexto em que os políticos já não têm credibilidade, nem dispõem dos instrumentos de governação do passado. Com pouca margem de manobra, a política só pode mesmo dececionar. O risco agora é que também a democracia se revele impopular. Há demasiados sinais de que assim vai ser."

o resto do meu artigo no Expresso da semana passada pode ser lido aqui.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Acumulação primitiva de capital



Nos últimos anos, cada disco novo que sai dos Belle & Sebastian só me faz ter vontade de voltar a ouvir o Tigermilk, os EP iniciais e o The Boy with the Arab Strap (acima de todos os outros). É triste que assim seja.

Dá que pensar e pode bem ser verdade

"o Governo não tem mais informação do que aquela que é pública", Pedro Silva Pereira a propósito da execução orçamental.

Recordar é viver

a propósito das declarações de antónio martins, a que a fernanda dedica a justa atenção aqui, nada como ler a doutrina e recordar o texto de apresentação do último congresso da agremiação presidida pelo senhor.
aqui ficam alguns excertos:
"(...) Desde há alguns anos que existe a intuição que o poder judicial nas democracias descontentes do início do século XXI corre o risco de se vir a assumir-se como verdadeiro poder.
Se o século XIX foi o século do poder legislativo e o século XX o do poder executivo, poderá o século XXI vir a ser o século do poder judicial?
(...)
Casos criminais, procedimentos para anular medidas do poder executivo, reposição de direitos comprimidos pelo legislativo, exigência efectiva de responsabilidades do Estado e dos seus servidores são exemplos claros dum novo modo de exercício do judiciário.
(...)
convocam o poder judicial para um outro exercício da democracia.
Estaremos perante uma transferência de legitimidade dos poderes legislativo e executivo para o judicial? Será um problema de exigência de qualidade da própria democracia e da coesão social?
(...)
Estarão os juízes e os tribunais preparados para ter lugar nessa narrativa?
A amplificação de poderes do judiciário e a sua visibilidade densifica a sua dimensão política.(...)"

como está tudo citado fora do contexto, nada como ir ler o original aqui. (há uns tempos escrevi sobre o assunto aqui e confesso que o tema já se torna cansativo, até para a minha pobre espinha, que já foi partida há uns anos)

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

"When you are old and gray"



"(...) If I was a young and modern guy,
Wouldnt I?
So when did I cease to see the light?
and maybe you were right
Maybe I’m all dried up inside
Maybe I’m not built for these times
Maybe I don’t know how to live (...)"

Lloyd Cole, why in the world?

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

"Sorrindo ao filho da puta que..."

O José Rentes de Carvalho tem um blog. De vez em quando, ameaça suspendê-lo, mas depois logo regressa. Há muito tempo que ando para falar do blog e da Ernestina e da Amante Holandesa, que li de um trago e que tenho recomendado a toda a gente. Ainda que seja um tipo da cidade, sem raízes fora de Lisboa, encontrei, por exemplo, na Ernestina alguns traços de um país que ainda assim fui conhecendo na minha infância, em férias de verão. Os livros espantaram-me e só tenho pena que tenham sido para mim uma descoberta tardia. A escrita precisa, depurada a retratar um país que persiste. Mais cínico e realista do que a inclinação que sempre temos para romancear o Portugal rural e bucólico. Hoje, o José Rentes de Carvalho escreve isto no seu blog. Transcrevo por inteiro estas palavras de alerta. Eu sempre desconfiei que as coisas eram afinal assim.

Bucolismo
"Em miúdo acreditava, comecei depois a desconfiar e desde então a minha surpresa aumenta quando oiço ou leio o desfiar sobre as coisas pastoris e boas da vida da aldeia. O solzinho, o ar puro; o ti Alberto que aos noventa todos os dias cava a horta; a Gervásia que faz alheiras à moda antiga; o forno de lenha onde a Laura e a irmã cozem pães de centeio, grandes como rodas de carro, iguaizinhos aos das nossas avós; a rapaziada de calças arregaçadas na pisa das uvas.
Babam-se jornais e revistas a acentuar a "autenticidade" deste viver, pergunta a televisão a gerontes surdos se lhes agradaria a vida fora daqui; aparecem uns jipes de mirones citadinos a fotografar isto aquilo e acham "muito típicos" os casebres arruinados, a fonte velha, as pedras do lagar, aquele castanheiro.
A aldeia? Ó senhores, deixem-se de histórias, não nos incomodem nem venham acordar a sonolência a que nos obrigamos para nos podermos aguentar uns aos outros. Dando-nos os bons-dias, conversando à esquina sobre o tempo, a amêndoa e a carestia, enquanto esperamos o camião do padeiro. Sorrindo e batendo nas costas do filho da puta que à noite empurra o contentor do lixo para a nossa parede. Sorrindo ao filho da puta que com ácido queimou as raízes da oliveira que lhe sombreava o quintal. Sorrindo ao filho da puta que desvia a água da rega. Sorrindo. Sorrindo. Sorrindo e falando manso à grandessíssima que manda o filho mijar à nossa porta, porque a incomoda o ladrar do cão.
Sorrindo e sabendo uns dos outros que não há casa sem pistola."

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

É sobre a América que Robert Reich escreve, mas ninguém escapa à tendência

"(...) The perfect storm: An unprecedented concentration of income and wealth at the top; a record amount of secret money flooding our democracy; and a public becoming increasingly angry and cynical about a government that’s raising its taxes, reducing its services, and unable to get it back to work.
We’re losing democratic capitalism to plutocratic capitalism."


Robert Reich, The Perfect Storm.

domingo, 17 de outubro de 2010

Os brancos mais pretos do mundo juntam-se aos pretos mais brancos



Se eu mandasse, os Roots seriam a banda de suporte de todas as bandas.

Um Concelheiro de Estado


O conselheiro de Estado Marcelo Rebelo de Sousa alterou hoje a data de apresentação da recandidatura do Presidente que o indicou para o conselho.

sábado, 16 de outubro de 2010

Surfar pode ajudar a sair da crise

O retrato do país tem-se tornado todos os dias mais negro: desemprego elevado, contas públicas desequilibradas e um potencial de crescimento económico medíocre. A justa sensação com que se fica é que não se vislumbram perspetivas. Posto de modo simples, só temos uma saída económica para a crise: produzir bens que os chineses não possam imitar e que os alemães não sejam capazes de produzir com maior qualidade. Infelizmente, não há muitos exemplos de bens deste tipo. Mas temos um ativo económico que, por mais que tentem, nem chineses, nem alemães serão capazes de produzir: ondas de qualidade para praticar surf, como aquelas em que os melhores surfistas do mundo competirão ao longo destes dias em Peniche.

Tem sido frequentemente dito que o mar é o mais importante ativo do país. Faz sentido: se distribuíssemos todos os portugueses pela nossa zona económica exclusiva, cada um de nós poderia usufruir de uns amplos 12 hectares. Neste sentido, é-nos sugerido que o mar funcione como um catalisador capaz de dinamizar um conjunto de sectores com elevado potencial de crescimento que tem ficado por explorar. Mas, quando falamos de economia do mar, tendemos a centrar a nossa atenção na atividade portuária, na construção naval ou nas energias, enquanto secundarizamos o potencial económico associado ao surf.

Acontece que o surf pode representar para o turismo português o que os desportos de neve representaram para os Pirenéus. Do mesmo modo que regiões inteiras na Europa viram o seu desenvolvimento alavancado por disporem de condições privilegiadas para a prática de esqui, também Portugal pode explorar o potencial turístico associado ao surf. Para muitas regiões do país, uma onda de qualidade pode ser um fator decisivo para a reconversão de localidades costeiras, com atividade piscatória em declínio e ocupação turística fortemente sazonal, em destinos turísticos sustentáveis ao longo de todo o ano.

Portugal tem condições únicas para a prática de surf. Um clima temperado que permite surfar 365 dias por ano, ondas excelentes ao longo de toda a costa, algumas delas concentradas no espaço de menos de 100 quilómetros (de Peniche à Ericeira), e uma enorme centralidade face a outros destinos de surf.

Mas se o surf pode ser o nosso esqui, pode também ser um novo golfe. É verdade que o potencial económico não é ainda comparável, mas o surf apresenta, face ao golfe, enormes vantagens em termos de sustentabilidade. O turismo de surf não é massificado, apesar de representar um nicho em acentuado crescimento (num estudo de mercado recente, 90% dos europeus escolhiam o surf como o desporto que mais gostariam de experimentar), e, além do mais, tendo em conta que as melhores ondulações não são no Verão, o surf pode compensar a sazonalidade da hotelaria. Acima de tudo, o turismo de surf é ambientalmente equilibrado - o surf depende de ondas, um recurso natural, e os surfistas tendem a valorizar a preservação ecológica das praias.

Para os surfistas convictos, o surf é invariavelmente a melhor forma de escapar às várias crises. Mas, para muitas regiões do país, o surf pode funcionar como uma oportunidade para desbloquear o desenvolvimento, que pode arrastar um conjunto importante de atividades e com isso ajudar a sair economicamente da crise. Com uma garantia: uma onda de qualidade, desde que preservada, nunca será deslocalizada.

Texto publicado na edição do Expresso de 9 de outubro de 2010

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

E foi mesmo à minha frente



Um aéreo do Slater é tão belo como o binómio de Newton e a Vénus de
Milo. O que há é pouca gente para dar por isso.

Sobre o OE, a minha opinião é a do Neil Hannon



"Can anyone lend me ten billion quid?
Why do you look so glum, was it something I did?
So I caused the second great depression, what can I say?
I guess I got a bit carried away
If I say I'm sorry, will you give me the money?
(...)

We'll learn the lessons, run tests and analyze
We'll crunch the numbers, 'cause the numbers never lie
Well maybe this recession is a blessing in disguise
We can build a much much bigger bubble the next time
And leave the rest to clean our mess up

Well that's just me, the complete banker
In a black Bentley, Margaret Thatcher right here next to me
Oh, how I hanker for the good old days
When I was free and a complete banker
I'm a conscience free, malignant cancer on society
And one day you'll let your guard down
And I'll come 'round again"

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Somos todos chilenos (uma vez mais)




a seguir aqui.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Um bando

é preciso de facto muita tolerância para tolerar esta agremiação, à qual é permitido dizer qualquer tipo de barbaridade impunemente.

domingo, 10 de outubro de 2010

Uma longa marcha fúnebre

"(...) esta sucessão de PEC em Portugal e em toda a Europa empurra-nos coletivamente para uma espiral recessiva, em que vamos somando austeridade à austeridade, sem que se vislumbre uma saída económica para o beco sem saída em que a zona euro se está a colocar. As medidas agora apresentadas são aquelas que os mercados esperam, logo necessárias. Mas podemos também ir antecipando a reação dos mercados perante um cenário de recessão económica que é inevitável. Será esta a prova do absurdo para o qual caminhamos: se hoje o nosso rating é cortado por força dos nossos desequilíbrios orçamentais, amanhã sê-lo-á por causa do comportamento do produto. Não há, contudo, uma crise especificamente portuguesa e limitamo-nos a participar numa longa marcha fúnebre das economias europeias. Acontece que, e ao contrário do que o Governo português disse, não seremos os que melhor irão resistir à crise. Pelo contrário, é da natureza das crises produzirem choques assimétricos, afetando mais os que, à partida, se encontram em situação mais débil. Portugal será, pois, mais afetado pela crise do que a maior parte dos países da zona euro, basta pensar no que será o comportamento do nosso mercado de trabalho nos próximos anos. (...)"
o resto do meu artigo da semana passada no expresso pode ser lido aqui.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Logo a seguir ao Benfica, torço por este gajo

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Um perigoso e irresponsável esquerdista

"(...)I believe there is a strong case for further stimulus. Admittedly, consumption cannot be sustained indefinitely by running up the national debt. The imbalance between consumption and investment must be corrected. But to cut government spending at a time of large-scale unemployment would be to ignore the lessons of history.(...)"
do artigo de George Soros no FT de ontem.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Um blog republicano, laico e do benfica

Obviamente demitia-se

"(...) o episódio Carrilho é também revelador da forma desconfortável como os partidos lidam com dissensões internas. Carrilho, concorde-se ou não com o que diz e a forma como o faz, tem voz própria e os partidos não sabem o que fazer com quem vive à margem do centralismo democrático que impera em todo o espectro partidário. O que tem custos: sem vozes autónomas, os partidos veem o seu pluralismo diminuir, o que enfraquece ainda mais a capacidade para representarem a sociedade. Com direções muito centralizadas, focadas na figura do líder, os partidos caminham para uma entropia da qual não se libertarão. No fundo, é isso que revela o modo como o PS tem lidado com Carrilho."

o resto do meu texto publicado na edição do Expresso de 25 de setembro de 2010 pode ser lido aqui.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

I said a hip, a hop, the hippie, the hippie


eu gostava de ter algum tempo para escrever qualquer coisa sobre isto. infelizmente não tenho. mas fica a intenção.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

O rock'n'roll salva



entretanto a FNAC está quase a oferecer (22 euros) uma caixa com os 7 primeiros álbuns do Bruce.

sábado, 25 de setembro de 2010

Façam o favor de se distinguirem

"(...) Quando a oferta partidária é indistinta, o mais natural é que a mobilização política diminua e o sentido do voto perca relevância. Ora, o que o PSD tem feito nos últimos meses pode prejudicar o partido eleitoralmente, mas terá dado um bom contributo para que PS e PSD se demarquem mais, o que não deixará de ter consequências no tipo de ancoragem que os partidos passam a ter. O PSD, prejudicando-se no curto prazo ao clarificar as águas, é bem capaz de ter feito um enorme favor à política portuguesa. Tanto mais que o tipo de diferenciação que procurou assenta também numa rutura com a agenda tradicional da direita portuguesa. Se, no passado, a distinção se fazia mais nos temas relacionados com costumes, com tiradas conservadoras ou argumentos securitários, projetando uma imagem de autoridade, Passos Coelho procura afirmar-se com uma agenda liberal, demarcando-se onde PS e PSD tradicionalmente estavam mais próximos: no papel do Estado na economia e nos temas sociais.
Podemos considerar que não há um bloco social maioritário que apoie a agenda de Passos Coelho e que o PSD, ao encostar-se muito à direita, diminuiu o seu potencial eleitoral; podemos também pensar que o PSD escolheu o instrumento errado, pois fazia mais sentido rever a sua declaração de princípios do que rever a Constituição, que deve refletir um amplo consenso. Seja como for, a redefinição programática do PSD obrigou também o PS a reposicionar-se e, mesmo que tenha sido feita de forma tosca e confusa, trouxe consigo uma clarificação ideológica que é positiva."

o resto do meu artigo no expresso de 18 de setembro pode ser lido aqui.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Number one





"in some people bedrooms"

sábado, 18 de setembro de 2010

Tenho Medo

"Se me perguntarem qual é a minha prioridade na educação dos meus filhos, direi que é garantir que eles não têm medo. Medo físico, medo das personagens assombrosas que lhes surgem nos sonhos, mas também que têm a coragem suficiente para fazerem face às tormentas com que se defrontarão ao longo da vida. Se tiverem confiança, o resto virá por acréscimo. Para parafrasear a escritora Natalia Ginzburg, em "Le piccole virtú" (infelizmente não traduzido em português), tendemos a ensinar às crianças muitas das pequenas virtudes (a poupança, a prudência, a astúcia, a diplomacia e o desejo de sucesso), mas nisso esquecemo-nos das grandes virtudes (a generosidade, o amor à verdade, a abnegação, a coragem e o desejo de saber mais).

Peço desculpa se, dito assim, parece uma questão privada, pouco adequada a uma coluna de opinião, por natureza pública. Infelizmente não é. Para que os meus filhos - e, acrescento, os nossos filhos - não tenham medo, tenho também de lhes poder dizer que, se for caso disso, a lei estará do lado deles para os proteger. É isso que me leva a fazer em público uma confissão que é semiprivada: eu tenho medo da justiça em Portugal e o que se vai sabendo do famigerado processo Casa Pia só consolida as minhas inquietações.(...)"

o resto do meu artigo da semana passada no Expresso pode ser lido aqui.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Baarìa


Eu não sou um fã incondicional do realizador Giuseppe Tornatore. Mas ao ver, no último fim-de-semana, Baarìa, tive a certeza que sou fã incondicional de Tornatore como realizador. No fundo, invejo a possibilidade de fazer filmes daqueles: explicitamente lamechas, sem nenhuma auto-censura sentimental. Mais do que gostar dos filmes, o que gostava era de ser eu a fazer aqueles filmes.

Consciência de classe



(manel, estou lixado por não me teres convidado para o video.)

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

O choque social é tecnológico

Portugal precisava de um impulso de modernização tecnológica aplicado à administração pública como de pão para a boca. Mas o choque tecnológico pode também ter consequências sociais, alargando desigualdades já muito profundas. E, quando combinado com deslumbramento tecnológico, o desastre é garantido: dos chips para as matrículas, apresentados como parte de um “cluster da telemática rodoviária”, ao VIA CTT que ninguém utilizou, já se inventou de tudo. Agora, ficou a saber-se, os beneficiários das prestações não-contributivas (RSI, subsídio social de desemprego e abono de família) têm de fazer prova de recursos através do site da Segurança Social. Como se não bastasse, em plena crise económica, começar por apertar o cerco àqueles que mais sofrem com o desemprego e a pobreza, o Governo lembrou-se também de lhes exigir o que não são capazes – aceder a um site na internet (que não têm) e preencher formulários que requerem competências específicas (que provavelmente lhes escapam). Se os cortes nas prestações sociais revelavam prioridades políticas erradas, o modo como estão a ser adoptados esconde um profundo desconhecimento do país, feito de muita pobreza persistente.
publicado no Expresso de 4 de Setembro.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Presos no Pântano

A partir de quinta-feira há uma garantia: o quadro parlamentar não mudará até, pelo menos, Maio. Com o aproximar das presidenciais, Cavaco Silva fica constitucionalmente inibido e Portugal fica politicamente preso num pântano. Sem maioria parlamentar, sem coligações e com uma tensão pré-negociação do Orçamento que não se ajusta aos desequilíbrios que temos de enfrentar. Tudo isto serve para lembrar que o primeiro dos problemas do país é de natureza política. Na Europa, há países com défices mais elevados (Irlanda), níveis de endividamento superiores (Itália), mais desemprego (Espanha) e até com perspectivas económicas mais débeis (Grécia), mas não há nenhum país que não tenha um Governo de maioria absoluta ou uma coligação governamental ou de incidência parlamentar. É essa a nossa singularidade. Depois das legislativas, os partidos não foram capazes de se entender e o assomo de responsabilidade que PS e PSD revelaram por altura dos PEC entretanto desfez-se. O cenário tornar-se-á agora ainda mais pantanoso. Ao Governo não resta alternativa senão aprovar o Orçamento com o PSD, com o beneplácito do candidato Cavaco Silva, que foge a sete pés de uma campanha contaminada por uma crise política de natureza orçamental. Ao mesmo tempo, o PS apoia um candidato que preferia um Orçamento viabilizado à esquerda, sendo que à esquerda não há possibilidades de criar condições políticas para conter a despesa. Já o PSD, pressionado pelas sondagens positivas, tem revelado um frenesim que faz com que Passos Coelho opte por arremedos de crise em lugar de procurar entendimentos. Nos próximos tempos, para utilizar uma expressão cara ao Presidente, tudo indica que a nossa situação será insustentável. Mas, antes de tudo, politicamente insustentável.

publicado no Expresso, de 4 de Setembro (e porque hoje é 9 de Setembro)

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Campos de Morangos para Sempre


Para lá da cerca -
Crescem - Morangos -
Para lá da cerca -
Eu podia subir - se tentasse, eu sei -
Que bom, morangos!

Mas - se eu manchasse o Avental -
Deus haveria de ralhar!
Ai - fosse Ele um Rapaz, acho eu -
Subiria - também - pudesse Ele!

Emily Dickinson

Dá que pensar

Durante o fim-de-semana, as Pestanas, os Martins, as Cabritas e os Namoras andaram a falar sozinhos. Mas não totalmente. Na Festa do Avante, Jerónimo de Sousa juntou-se ao coro, afirmando que foi feita justiça no processo Casa Pia. Perante tanta razão para, no mínimo, termos dúvidas, a posição do colectivo, expressa pelo secretário-geral, dá que pensar.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

I can't stand the quiet

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

We can reach our destination, but we're still a ways away

Onde estava o mar está agora o ecrã do computador. Mas eu também suspeitava que quando regressasse teria os Walkmen à espera. Pois o disco novo está todo para audição aqui e no fundo confirma que eles estão num dos caminhos que o Dylan abriu mas nunca chegou a percorrer. São mesmo bons, tão bons que fazem o que aqui se vê ao Driver 8 dos REM (que me serve para recordar que gostei muito dos REM e até tive durante muito tempo na parede do quarto uma das primeiras capas do LP - alguém se lembra do jornal? - com uma foto deles, julgo por altura do lançamento do Green). No fundo, nada disto importa muito depois da praia. Mas que se lixe.


The Walkmen cover R.E.M.

sábado, 28 de agosto de 2010

Os suspeitos do costume

A história contemporânea ensina-nos que as crises económicas são inimigas da democracia. E a crise que as democracias ocidentais estão a atravessar é a maior das últimas décadas. É evidente que o contexto actual tem diferenças significativas relativamente ao período que levou à II Guerra Mundial. Mas há coisas que, infelizmente, não mudam. Estes períodos são sempre perigosos para os mais fracos, os imigrantes e os mais pobres dos pobres. Quando um chefe de Estado ou de governo está em dificuldades por causa dos efeitos das medidas de austeridade, nada melhor do que a exploração de preconceitos através de uma expulsão de ciganos devidamente mediatizada, como fez Sarkozy. Por cá, em matéria de imigração, há ainda um consenso importante entre PS e PSD. Mas quando a situação se complica, aperta-se o cerco aos "malandros dos beneficiários do rendimento mínimo" e faz-se disso bandeira da contenção da despesa. É, de facto, o caminho mais fácil. Afinal, muita gente ganha pouco mais do que eles e tem de trabalhar. Essas pessoas e sentimentos existem. Só falta que lhes digam que o problema talvez esteja mais na política de rendimentos e na política fiscal do que naqueles que tiveram o azar de passar nos apertados critérios de acesso às prestações.
publicado hoje no i.