a extraordinária Natalie Prass em toda a sua pujança orgânico/sonora
quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015
terça-feira, 24 de fevereiro de 2015
O futuro
Com menos recursos financeiros e com as saídas sistemáticas dos jogadores de maior nomeada, poderíamos ter boas razões para temer pelo futuro imediato do futebol do Benfica. Não vejo motivos para isso. É evidente que enquanto vamos perdendo jogadores de classe mundial (este ano saíram Enzo, Rodrigo e Garay) e mais saídas se anunciam para o verão (Gaitán e Sálvio?), o espectro da diminuição da qualidade é uma ameaça. Mas é também uma oportunidade.
Uma coisa é certa, não regressará o tempo em que, no futebol português, se podia ir buscar valores seguros a outros campeonatos, com vinte e poucos anos, valorizá-los e transferi-los para Espanha e Inglaterra. O Benfica, como aliás o Porto, terão de optar por outro modelo de especialização: trabalhar jovens talentos, nacionais ou importados pouco importa, e esperar que revelem maturidade para darem o salto para o futebol de alta-competição. O risco é maior, mas pode dar certo.
O
problema hoje não é de qualidade potencial dos jovens jogadores. O
desafio coloca-se, no essencial, às estruturas e ao treinador. Saberão
reconverter-se e enfrentar o novo desafio? Será Jorge Jesus capaz de
formar uma equipa competitiva com outro tipo de recursos?
A este propósito, basta atentar no Benfica B. O plantel foi alvo de uma autêntica razia na reabertura do mercado (com o empréstimo de muitos titulares) e, em lugar de a equipa ficar mais fragilizada, apareceu uma nova fornada de jogadores talentosos. Basta ver um jogo dos Bês para se perceber que há ali matéria-prima de primeira apanha. A equipa, é claro, alterna exibições conseguidas com derrotas clamorosas – é o que se espera de quem tem a audácia e a ingenuidade próprias da juventude. Mas, ao contrário do que aconteceu nos últimos anos, o futuro terá de passar pelos jovens. Pelo João Teixeira, pelo Nuno Santos, pelo Hélder Costa, pelo Cristante, pelo Gonçalo Guedes e pelo Jonathan.
publicado no Record de hoje
domingo, 22 de fevereiro de 2015
A luz que começa a morrer
o título do meu artigo do Expresso de ontem é roubado ao Dylan Thomas, cuja descoberta devo, quando tinha uns 15 anos (o que fez diferença), ao John Cale (no fabuloso Words for the Dying) e ao Bob Dylan (no fabuloso Robert Zimmerman).
Não entres
docilmente nessa noite serena,
Não entres
docilmente nessa noite serena,
porque a velhice
deveria arder e delirar no termo do dia;
odeia, odeia a luz
que começa a morrer.
No fim, ainda que
os sábios aceitem as trevas,
porque se esgotou o
raio nas suas palavras, eles
não entram
docilmente nessa noite serena.
Homens bons que
clamaram, ao passar a última onda, como podia
o brilho das suas
frágeis ações ter dançado na baia verde,
odiai, odiai a luz
que começa a morrer.
E os loucos que
colheram e cantaram o vôo do sol
e aprenderam, muito
tarde, como o feriram no seu caminho,
não entram
docilmente nessa noite serena.
Junto da morte,
homens graves que vedes com um olhar que cega
quanto os olhos
cegos fulgiriam como meteoros e seriam alegres,
odiai, odiai a luz
que começa a morrer.
E de longe, meu
pai, peço-te que nessa altura sombria
venhas beijar ou
amaldiçoar-me com as tuas cruéis lágrimas.
Não entres
docilmente nessa noite serena.
Odeia, odeia a luz
que começa a morrer.
Dylan Thomas
Tradução: Fernando Guimarães
quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015
Meio-morto
No domingo, na Luz, ainda a segunda parte ia a meio, já o Vitória, a perder por 3-0, defendia o resultado, com duas linhas de jogadores em frente à área. Enquanto isso, o árbitro fazia o que os árbitros teimam em fazer entre nós. Sem cometer erros decisivos, dava todos os contributos possíveis para estragar ainda mais o jogo, apitando por tudo e por nada (32 faltas) e começando a distribuir amarelos a ritmo apreciável (seis amarelos, cinco dos quais nos últimos 20 minutos). No fundo, é o futebol português em todo o seu esplendor. Jorge Jesus disse na conferência de imprensa que, a partir de certa altura, o Vitória estava meio-morto. Temo bem que não seja assim. É o campeonato português que está a ficar meio-morto.
Passam as jornadas e parece que a tendência se consolida. Um campeonato de jogos desinteressantes e futebol paupérrimo. Entretanto, o fosso entre três ou quatro clubes e os restantes acentua-se, com uma agravante: contra adversários de qualidade duvidosa, o futebol dos grandes tenderá a degradar-se também. É penoso assistir a 90 por cento dos jogos da 1.ª Liga e há demasiados sinais de que é uma tendência que veio para ficar. Devemos agradecer a todos aqueles que se bateram pelo alargamento da 1.ª Liga e que agora defendem o fim dos fundos e a aposta no jogador português. Por este caminho, bastarão dois ou três anos para o nosso campeonato estar ao nível do escocês, holandês e belga.
Se
nada for feito para parar esta deriva, o cenário será mais ou menos
este: Portugal deixará de ser porta de entrada para jovens talentos que
querem singrar na Europa e que não podem entrar diretamente nos clubes
espanhóis e ingleses de topo; os jovens jogadores portugueses de
qualidade deixarão o país antes de se afirmarem nos equipas principais
dos três grandes; e o campeonato português será nivelado (ainda mais)
por baixo. Façam bom proveito.
publicado no Record de terça-feira
terça-feira, 17 de fevereiro de 2015
Até o Neil Hannon já tem barba
concerto, de dia 11 de Fevereiro, em Paris
(a versão do Booklovers, aí por volta do minuto 28, é qualquer coisa)
segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015
Que Presidente queremos?
Se bem
que ainda distantes e passíveis de contaminação pelo resultado das
legislativas, as presidenciais têm estado no centro da especulação. Perante
isto, os partidos sugerem que o tema é prematuro e sublinham que a prioridade é
a escolha do próximo Governo. Faz sentido taticamente, mas não estrategicamente.
Por força da proximidade entre eleições e tendo em conta as exigências de governabilidade
e cooperação institucional que se vão colocar, eleger Governo e Presidente são
opções interligadas.
Se assim
é, não é prematuro identificar os requisitos de um bom candidato presidencial,
assim como definir um perfil relevante para o país no próximo ciclo político.
Como é
frequentemente dito, um candidato presidencial competitivo tem de ser capaz de crescer
eleitoralmente para lá do seu espaço político. A ideia de que alguém alinhado
com uma direção partidária e promovido como candidato oficial de um partido tem
vantagem é, aliás, um equívoco. Não menos importante, 40 anos passados do 25 de
Abril, o regime só teria a ganhar se tivesse uma mulher na Presidência. Seria,
por si só, um indicador de institucionalização democrática.
Naturalmente
que as escolhas presidenciais não podem ser politicamente neutras. Há, a este
propósito, dois critérios importantes: saber como é que os candidatos se
posicionaram perante as questões mais marcantes dos últimos anos e de que forma
podem contribuir para os compromissos de que o país vai necessitar.
Num período de incerteza como o que vivemos,
há temas que se sobrepõem a todos os outros: a estratégia de consolidação
orçamental; a gestão da dívida e a sustentabilidade do Estado social. Um bom
candidato presidencial tem de ser alguém que, desde o início da crise, não
tenha hesitado, nem assumido posições dúbias, em relação a estes três temas:
criticando a austeridade, colocando-se do lado de uma solução europeia para a
dívida e não hesitando na defesa do papel do Estado e das responsabilidades
públicas na proteção social, na educação e na saúde.
Já em relação ao próximo ciclo
político há um grande consenso: a capacidade do país ultrapassar o bloqueio em
que se encontra e de desenvolver uma estratégia reformista gradual, assente num
horizonte de médio prazo, depende de um compromisso político. Nesse sentido, e
tendo em conta que todos os indicadores anunciam uma vitória do PS, um Governo
liderado por António Costa pode ganhar com um Presidente que alargue o seu
espaço de influência, mais do que ter em Belém quem reproduza a base social de
São Bento.
Por tudo
isto, vejo boas razões para se ponderar uma candidatura de Manuela Ferreira
Leite. Aliás, com uma outra vantagem: estamos a falar de alguém que já perdeu
eleições nacionais e as derrotas políticas são um momento de aprendizagem.
publicado no Expresso de Sábado.
terça-feira, 10 de fevereiro de 2015
O legado emocional
É possível um jogo de futebol ser intenso, mesmo sem grandes oportunidades de golo ou jogadas com nota artística elevada? O dérbi de ontem está aí para demonstrar que sim.
A marca do Sporting-Benfica foi a forma como, com grande rigor tático e intensidade na disputa do jogo, as equipas foram capazes de bloquear os pontos fortes do adversário. O Benfica do carrossel ofensivo, balanceado para o ataque, não existiu; da mesma forma que o Sporting com um meio-campo dinâmico esteve ausente. Em particular nas faixas laterais, as duas equipas estiveram ausentes ofensivamente. Prova disso é que Salvio e Nani – muito provavelmente os jogadores mais fortes na construção de jogo atacante que as duas equipas tinham em campo – não se viram em jogo.
Desde logo porque o Benfica levou longe de mais uma atitude resultadista, aliás pouco habitual em Jorge Jesus.
Com uma equipa montada com grande competência, em primeiro lugar, para impedir que o Sporting jogasse, o Benfica tentou sempre gerir o resultado e acabou por ter a sorte do jogo – da mesma forma que, minutos antes, também tinha tido azar, sofrendo um golo, num jogo que nessa altura estava controlado. Para o que resta deste campeonato, sobrará o legado emocional. E aí, o Benfica sai com clara vantagem. Não apenas porque mantém uma margem pontual de confiança, mas, acima de tudo, porque um empate com o jogo já a morrer acaba por ser um suplemento de alma para as próximas jornadas.
publicado no Record segunda-feira
O Anti-Jesus
Numa conferência de imprensa mítica, já há uns tempos, Jorge Jesus, como sempre a dizer “coisas certas com as palavras erradas”, perguntava “o que é isso de experiência?”, para logo responder, num jeito inimitável, “experiência é conhecimento”. Talvez essa seja a melhor forma de olhar para o dérbi deste domingo. Um Benfica com mais experiência acumulada, logo com mais conhecimento, que foi capaz de ocultar com organização coletiva a perda de qualidade das individualidades que formam a equipa hoje, por comparação aos anos anteriores.
Houve, por isso, um efeito surpresa. O Benfica de Jesus, que construiu a sua identidade em torno de um futebol de ataque, com transições rápidas, não compareceu em Alvalade. Não estiveram presentes as acelerações no limite da razoabilidade de Salvio pela direita, nem as diagonais da esquerda para o meio, nem sequer o jogo interior rendilhado, a oferecer muitas possibilidades aos avançados. Em parte também por respeito ao Sporting, que é hoje uma equipa mais forte e competente do que no passado recente, o Benfica entrou em campo em modo resultadista.
Ora
aí reside uma inovação. Nas últimas épocas, e em importante medida
porque tinha jogadores que assim o permitiam, o Benfica nunca teve uma
atitude resultadista. Agora, com um plantel sem as mesmas doses de
talento, o treinador prefere contrariar a própria identidade que
construiu e ser um anti-Jesus, secundarizando a qualidade do jogo
ofensivo, em nome de um realismo avisado.
A filosofia parece clara. Se for possível acrescentar nota artística aos resultados, tanto melhor. Se não for, cá estarão os resultados. Esta atitude pragmática era possível no Jesus do passado? Parece-me que não. Mas, afinal, o que é o conhecimento se não experiência acumulada.
publicado no Record de terça-feira
“Why me, Lord?”
"My songs they were on the fringes then, and I think they're on the fringes now."
o resto da angústia da influência por Bob Dylan pode ser lido aqui.
o resto da angústia da influência por Bob Dylan pode ser lido aqui.
segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015
Don't be fooled
"All these songs are connected, don't be fooled, I was just opening up a different door in a different kind of way"
"In Johnny Cash’s world of hardcore Southern drama, that kind of thing didn’t exist. Nobody told anybody what to sing or what not to sing."
"Critics say I can’t sing, I sound like a frog. Why don’t critics say that about Tom Waits? Critics say my voice is shot. Why don’t they say that about Leonard Cohen? What have I done to get this special attention?"
quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015
terça-feira, 3 de fevereiro de 2015
Uma curiosidade
Por uma combinação de preservação da sanidade mental e da paixão pelo futebol, faço os possíveis por dedicar muito pouca atenção a questões de arbitragem e, menos ainda, a disputas de dirigentes. O futebol tem apenas três protagonistas - jogadores, técnicos e adeptos. Todos os outros ficam, na melhor das hipóteses, a meio-caminho entre figurantes e atores secundários. Bem sei que dirigentes e árbitros fazem, demasiadas vezes, os possíveis por se tornarem figuras centrais. Com isso, só prejudicam o futebol. Por isso mesmo, é dever dos adeptos devolvê-los ao seu papel secundário.
Mas, esta semana, houve uma notícia breve que veio ter comigo e que achei curiosa. Na edição de quinta-feira do Record, uma fotografia com um caloroso abraço entre Inácio e Manuel Mota ilustrava um texto sobre as pazes feitas entre Sporting e o árbitro de Braga. Manuel Mota, que havia sido excomungado pelo Sporting em Dezembro de 2013, após um empate caseiro com o Nacional, ao ponto de nunca mais ter arbitrado um jogo dos leões, era agora, mais de um ano passado, recebido de braços abertos em Alvalade, quando regressava para um Sporting-Setúbal da Taça da Liga. Comovente.
O
curioso é que Manuel Mota tinha, dois dias antes, praticado um ato
verdadeiramente inovador como 4º árbitro. A crer na primeira página do
Record de terça-feira, o penálti marcado na Mata Real contra o Benfica
não foi assinalado nem pelo inefável Bruno Paixão (lá está, um dos que
não perde uma oportunidade para ganhar protagonismo), nem pelo
assistente do lado da jogada, mas, sim, imagine-se, pelo 4.º árbitro.
Colocado exatamente do outro lado do campo, Mota teve a lucidez de
vislumbrar a grande penalidade que os seus colegas não avistaram. Talvez
tenha sido este novo papel para os 4.ºs árbitros que os dirigentes do
Sporting tenham querido saudar. Nunca se sabe.
publicado no Record
Songs from a room
Convivo com desconforto com a ideia de que a Grécia é um lugar a partir do qual se ambiciona mudar o Mundo.
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